O ano de 2017 escreve-se a letras de ouro e negras na história do Benfica. Foi o ano do inédito tetracampeonato, da 11.ª dobradinha, mas também da pior prestação de sempre na Europa, com vexame pelo meio.

O ano de 2017 é também histórico para as seleções nacionais. Houve estreias, com a Taça das Confederações à cabeça, mas também o histórico Europeu Feminino, onde Portugal ainda sonhou. Mas houve, sobretudo, o sétimo apuramento para o Mundial, conseguido ao sprint.

A norte, o FC Porto voltou a falhar na Liga e a mudar de treinador. E cresceu com a troca. Está em todas, com a campanha na Champions a ser o que de melhor há para recordar.

Também não foi desta que o Sporting acabou com o jejum de campeonatos, ficando mais longe do quem em 2016, mas tal como o FC Porto, também se recompôs, com os ajustes certos no mercado.

2017 fica ainda na história do Moreirense, o «campeão de inverno». E do Arouca, por motivos bem menos felizes. E por falar em emblemas mais modestos, foi o ano em que se começaram a juntar para bater o pé aos grandes: nasceu o G-15, primeiro com 11 depois com 13. Ainda falta fazer jus ao nome, mas a ideia está lá.

Na hora do balanço, 2017, como todos os outros anos, deixa histórias boas e más. Estes são os momentos que o marcaram a nível nacional, para o Maisfutebol.

-Moreirense vence a Taça da Liga

29 de janeiro. Foi o dia em que o outsider riu por último. O futebol português não tem assim tantas histórias como esta. Entrando na final-four como única equipa que nunca tinha conquistado o troféu, saiu como vencedor, depois de fazer tomar, com estrondo, o Benfica nas meias-finais e superiorizar-se ao Sp. Braga no jogo decisivo, com um penálti de Cauê. O clube que «nasceu pequenino, mas valente», como diz o seu hino, voltava a ser «grande em Portugal».

Augusto Inácio, que tinha substituído Miguel Leal, foi o treinador que liderou a conquista, mas, curiosamente, nem fazer história lhe salvou o lugar. Saiu uns tempos mais tarde e foi Petit a selar a manutenção na última jornada da Liga.

-Benfica tetracampeão pela primeira vez

13 de maio. Foi à sexta tentativa que o Benfica conseguiu o primeiro tetra da sua história, igualando aquilo que o Sporting, primeiro, e o FC Porto, por duas vezes, tinham feito.

Quatro campeonatos seguidos não é para qualquer equipa e o Benfica de Rui Vitória quebrou, finalmente, o enguiço que vinha desde a década de 60. Um título ganho num duelo com o FC Porto, que ameaçou fugir com um empate em Paços de Ferreira mas ganhou novo fôlego e tornou-se imparável com o escorregão do rival na jornada seguida.

A festa veio com exibição de gala e goleada ao Vitória de Guimarães, num dia em que Portugal também teve a visita do Papa Francisco e venceu, pela primeira vez na sua história o Festival Eurovisão da Canção. Salvador Sobral amou pelos dois, mas, neste dia, os benfiquistas amaram pelos quatro.

-A improvável descida do Arouca

21 de maio. O menos provável dos candidatos desceu mesmo. Quando a 15 de abril, mais de um mês antes, o Arouca, já com Jorge Leitão, terceiro treinador da época, venceu o Feirense por 2-0 e dobrou a meta dos 30 pontos, chegando aos 31, o speaker de serviço gritava o festejo da manutenção. A matemática dizia que ainda não era seguro mas seria necessário um total descalabro em cinco jornadas para que não fosse certa a salvação. Havia uma vantagem de 11 pontos em 15 possíveis, com vários confrontos diretos com os rivais pelo caminho.

Mas as semanas foram passando e a certeza matemática nunca chegava. O Arouca empatou com o Moreirense, em casa, e nunca mais, nem antes nem depois, pontuou. Na penúltima ronda, perdeu em casa com o Tondela reavivando o rival.

Ainda assim, na última jornada, mesmo jogando fora, com o Estoril, o Arouca tinha de perder e esperar que Moreirense e Tondela ganhassem para descer. Ora, os adversários impunham respeito: FC Porto e Sp. Braga, respetivamente. Mas o Arouca perdeu, o Moreirense venceu e o Tondela também. Com 32 pontos, o Arouca, em choque, caiu para a II Liga.

-Benfica junta Taça ao campeonato e faz a 11.ª dobradinha

28 de maio. Rui Vitória já tinha ganho uma Taça de Portugal ao Benfica, mas ainda não tinha ganho uma Taça de Portugal pelo Benfica. E a verdade é que o filme tinha protagonistas idênticos à última vez: pela frente o V. Guimarães, com o técnico do outro lado da barridada.

No final, a festa também foi diferente. Encarnada e não branca. O Benfica conquistou pela 11.ª vez na sua história o campeonato e a Taça no mesmo ano e mais tarde, já em agosto, haveria de juntar-lhe a Supertaça, de novo frente aos vimaranenses, para mais um ano onde dominou as provas nacionais.

-Sérgio Conceição, o novo líder do FC Porto

8 de junho. A substituição de Nuno Espírito Santo foi tema que alimentou algumas semanas. Sim, semanas. Estranhamente, porque não é habitual, o FC Porto esticou a resolução do dossier o que levou a rumores de tentativas rejeitadas e negociações infrutíferas. Marco Silva foi nome muito falado. Também André Villas Boas, Pedro Martins ou Vítor Pereira. A escolha acabou por recair em Sérgio Conceição.

Na apresentação, Pinto da Costa admitiu que o treinador, que estava vinculado ao Nantes e que alegou motivos pessoais para desfazer o contrato, só não foi primeira opção precisamente porque não sabia que seria opção, devido ao contrato existente. Quando deixou de haver contrato, a escolha ficou feita e Conceição foi apresentado no Dragão.

E disse logo ao que vinha: «Não venho para aprender, venho para ensinar». Até ao momento com sucesso: liderança do campeonato, oitavos de final da Champions, quartos de final da Taça de Portugal e via aberta para a final four da Taça da Liga.

-Portugal numa nova competição: a Taça das Confederações

18 de junho. A Taça das Confederações está longe de ser a mais entusiasmante prova de seleções do mundo. Não tem a competitividade do Europeu, o exotismo da Copa América, para nem falar da Magia do Mundial. Era mais uma. Mas Portugal nunca lá tinha estado.

Porque a prova alberga, como se sabe, os vencedores dos torneios continentais, juntamente com o campeão do mundo e o país organizador. Ora, o título ganho em Paris deu bilhete a Portugal para tentar juntar-lhe um outro, agora na Rússia.

Começou e acabou a jogar contra o México, ficando em terceiro lugar. A abrir, um empate cedido nos descontos (2-2), corrigido com triunfos frente a Rússia e Nova Zelândia. Nas meias finais veio o Chile e um empate a zero, que os penáltis trataram de corrigir: afinal o zero era só luso. Os chilenos meteram três bolas na baliza e seguiram para a final. Portugal contentou-se com o último degrau do pódio, no prolongamento, contra os mexicanos.

-Fábio Coentrão no Sporting, Adrien (quase) no Leicester

5 de julho. Com um FC Porto parado no que toca a compras e um Benfica que apostou mais nas vendas, o Sporting foi o grande agitador do defeso. Entre os vários nomes que chegaram a Alvalade para corrigir as lacunas da época transata, destacou-se um: Fábio Coentrão.

O esquerdino que se catapultou no rival Benfica passa agora a vestir de verde, camisola que, dizia, lá no fundo até era a que mais lhe agradava. Levantaram-se dúvidas quanto ao estado físico mas até à seleção já regressou e, pese um ou outro percalço, tem jogado sempre.

Ainda neste campo e na órbita leonina, o caso Adrien Silva. No último dia de mercado, o Sporting acertou a saída do capitão para o Leicester. O negócio foi feito em cima da hora, mas dentro do prazo. Pior foi a inscrição. Chegou para lá do tempo limite. A imprensa inglesa quantificou: 14 segundos. Nem com apelos à FIFA a situação pôde ser alterada. Adrien seguiu mesmo para Inglaterra mas só treina até janeiro.

-O descalabro de Basileia como prenúncio do que aí vinha

27 de setembro. A Liga dos Campeões começara mal para o Benfica, derrotado em casa pelo CSKA Moscovo de forma algo surpreendente. E aqui convém regular o tamanho da surpresa, porque nada se comparou ao que sucedeu na segunda jornada: o Benfica foi goleado e humilhado em Basileia.

A derrota por 5-0 não é a pior da história europeia do Benfica, mas fica muito perto. Mal sabia Rui Vitória que seria apenas o segundo capítulo de um longo calvário. Seguiu-se o duplo duelo com o Manchester United onde o azar de Svilar, terceira opção da época para a baliza, fez manchetes, e a vida europeia a jogar-se nos dois últimos duelos. Na Rússia ficou consumada a eliminação com o quinto desaire em cinco jogos. Em casa, com o Basileia, o Benfica confirmou-se como o pior cabeça de série da história da Liga dos Campeões e a única equipa nas prova da UEFA em 2017/18 que não somou qualquer ponto na fase de grupos.

-Portugal de novo no Mundial

10 de outubro. Foi toda uma campanha a correr atrás, até à ultrapassagem sobre a meta. A derrota na Suíça a abrir o apuramento para o Mundial da Rússia só pôde ser corrigida no fecho do mesmo frente ao mesmo adversário.

Os helvéticos fizeram uma caminhada exemplar até ao jogo do Estádio da Luz, vencendo todos os jogos. Portugal, depois do deslize a abrir, fez o mesmo, com uma diferença: foi construindo resultados mais gordos. Como o primeiro fator de desempate era a diferença de golos, a seleção nacional entrou em campo, na Luz, com a certeza de que uma vitória daria apuramento, ao passo que o empate era suficiente para a Suíça. Ganhou Portugal, pelos mesmos 2-0 que a Suíça tinha ganho a abrir. Um autogolo de Djorou e outro de André Silva fizeram a festa.

Portugal vai para o sétimo Mundial da sua história, quinto consecutivo e desde 2000 que não falha uma fase final.

-FC Porto nos oitavos da Champions

6 de dezembro. Quando foi derrotado, em casa, pelo Besiktas por 3-1 na estreia na Liga dos Campeões, não faltou quem traçasse a sina à equipa de Sérgio Conceição: parecia curta para um nível de exigência mais baixo.

O técnico encaixou as críticas e respondeu logo na ronda seguinte, com uma mudança vital no esquema e um triunfo brilhante no Mónaco por 3-0. Ainda perdeu e ganhou ao Leipzig e empatou com o Besiktas, antes de ficar com o destino na mão: se vencesse o Mónaco em casa estava apurado para os oitavos de final.

O FC Porto não só venceu como goleou por 5-2 o campeão francês e semifinalista da época transata, salvando a honra lusa na prova e garantindo mais um apuramento para a fase a eliminar. Segue-se o Liverpool. Mas essa é uma história para 2018.