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Trinta anos depois, o Benfica foi bicampeão. Sessenta e dois anos depois, o Sporting ganhou ao Benfica três vezes na mesma época. Ainda houve o regresso leonino aos títulos, no Jamor, e do Benfica aos oitavos de final da Liga dos Campeões. Também o primeiro presidente da Liga saído do mundo da arbitragem.

2015 foi ano de tudo isto. Mas será sempre, ainda, o ano do defeso mais explosivo desde o verão quente de 1993. Quando a mudança de Jorge Jesus do Benfica para o Sporting, depois de seis anos e três títulos na Luz parecia não ter rival, o FC Porto emergiu e sacou os seus trunfos. E que trunfos! Iker Casillas, um dos jogadores mais titulados em todo o mundo, veio defender a baliza do dragão. Maxi Pereira deixou para trás sete anos e águia ao peito para se tornar jogador do FC Porto. E à FC Porto.

Foi no Verão que o futebol português mais aqueceu, mas houve matéria de relevo distribuída por todas as estações.

Recorde os dez momentos que marcaram 2015 em Portugal, para o Maisfutebol.

-Bicampeão 30 anos depois



17 de maio. O relógio estava quase a apontar para as 20 horas quando a festa explodia um pouco por todo o país. O Benfica era campeão, aproveitando o deslize do FC Porto em Belém. Mais um, aliás. O 34º título encarnado chegava com um empate em Guimarães, entregue de bandeja pelo rival que mais o incomodara ao longo do ano. Antes do nulo que decidiu o título, um outro deixou-o bem encaminhado: na receção ao FC Porto, um jogo sensaborão manteve o título na rota encarnada. Depois, foi gerir até ao final…e aproveitar nova ajuda alheia para lançar a festa.

No rescaldo, Jorge Jesus analisou a caminhada. «Houve dois jogos que foram fundamentais», admitiu. Falava da vitória no Dragão, ainda em 2014, e do empate em Alvalade, em janeiro conseguido com um golo de Jardel no último suspiro. «Deixamos um rival fora do título», explicou.

-Sporting volta a colocar um título no Museu


31 de maio. Numa época em que a tensão entre presidente e treinador foi crescendo gradualmente, Marco Silva levou o Sporting ao Jamor onde enfrentou o Sp. Braga de Sérgio Conceição. Um jogo em que a equipa de Alvalade foi do inferno ao céu. Aos 25 minutos, o Sp. Braga já ganhava 2-0 e Cedric tinha sido expulso. Parecia uma missão impossível, mas Slimani, aos 84, deu o mote para a explosão dos adeptos (pelo menos os que não tinham saído do estádio), no terceiro minuto de descontos, quando Montero empatou. O prolongamento foi dividido e os penáltis pintaram-se de verde e branco. Marco Silva festejava, Sérgio Conceição lamentava-se. Alguns dias depois, ambos ficavam sem clube.

Confrontado com o cenário de possível saída, Marco Silva apontou para os três anos de contrato, mas deixou uma tirada curiosa: «Quando chegar a altura, o presidente vai dar-vos a resposta». Poucos adivinhariam o impacto da mesma...

-Um desastre azul na Baviera



21 de abril. O FC Porto chegava a Munique repleto de sonhos. Poucos dias antes, tinha destroçado o poderoso Bayern Munique no Dragão, num jogo que roçou a perfeição e que caberia perfeitamente nesta lista, não fosse a sombra da segunda mão. Uma sombra demasiado escura para ser ignorada. A batalha travada no Porto deixou danos colaterais: os laterais titulares, Danilo e Alex Sandro, ficavam de fora e iram obrigar a improviso. Indi na esquerde e…Reyes na direita? Ricardo ficava de fora. Entrou a meio, já com o resultado em 3-0. Antes do intervalo, mais dois. Jackson reduziu no segundo tempo e atirou a rasar o poste o que seria o 5-2 e deixaria os portugueses a um golo do apuramento. Mas não deu. Aliás, ainda deu para o sexto do Bayern a fechar a humilhação. 6-1 e o dragão, que entrara cheio de sonhos, saía enfiado na lama. Adeus Liga dos Campeões.

Lopetegui reagia da forma possível. Apontava para os 7-4 da eliminatória por contraste com os 6-1 da segunda mão e dava uma garantia que não se contretizou: «Vamos levantar-nos, não se preocupem». Poucos dias depois, o FC Porto empatava na Luz e o título ficava mais longe.

-Jorge Jesus no «clube do coração»



5 de junho. Bruno de Carvalho faz uma curta declaração que só não choca o país porque este já estava mais do que avisado: «Jorge Jesus é o treinador do Sporting para as próximas três temporadas». Depois de seis anos na Luz, o técnico diz ter-se sentido pouco desejado e lamenta que a direção encarnada o tenha tentado colocar fora do país. Não quer. Do outro lado da segunda circular havia vontade de espetar uma garra no rival e não se perde a oportunidade. Fala-se de milhões, questiona-se a sua origem, mas Bruno de Carvalho garante: «Só fez uma exigência: vir treinar o clube do seu coração.» Depois vieram as sms, a quezília com Jonas no relvado, as questões contratuais, a indemnização, as trocas de acusações, os «debates» com Rui Vitória…Um fartote desnecessário.

A 1 de julho, quase um mês depois, Jorge Jesus era apresentado em Alvalade, em clima de euforia. E deixava uma garantia: «A partir de agora, há três candidatos ao título em Portugal.»

-E o novo dragão é…Iker Casillas



11 de julho. Se a troca de Jorge Jesus do Benfica pelo Sporting chocou o país, a mudança de Iker Casillas abriu a boca de espanto ao mundo do futebol. É muito provável que, um dia antes de as primeiras notícias começarem a surgir, vindas de Espanha, poucos ou nenhuns fossem os adeptos portistas que não achassem que era piada ter Iker Casillas no plantel para 2015/16. É certo que o espanhol não vivia o momento mais fulgurante da carreira no Real Madrid, mas a mudança para Portugal foi uma das maiores bombas do defeso, a par da tal mudança de treinador nos grandes de Lisboa e da contratação de Maxi Pereira. O assunto Casillas ainda durou alguns dias, foi oficializado pelo Real Madrid um dia antes do FC Porto, meteu uma insólita conferência de imprensa com o guarda-redes sozinho a enfrentar jornalistas e uma despedida oficial no dia seguinte para o Real tentar emendar a mão. Foi uma semana, praticamente, de avanços e recuos até à situação final: Iker Casillas, o novo porteiro do dragão.

Ainda houve a polémica com os pais, que consideraram o FC Porto «uma equipa de segunda B» e desejaram que o filho não acabasse «na miséria como Vítor Baía», o que levou Casillas a um pedido de desculpas à antiga glória portista. Mais tarde, a própria mãe do jogador pediu, também, desculpas ao FC Porto pelos comentários. 

-O engenheiro projetou Portugal no Euro



8 de outubro. Em setembro de 2014, depois de um Mundial para esquecer, Portugal arrancou com uma embaraçosa derrota frente à Albânia, em Aveiro, a caminhada para o Euro 2016. Paulo Bento, que já estava por um fio, não resistiu. A seleção foi entregue a Fernando Santos, que recuperou uma série de jogadores afastados pelo anterior timoneiro, contornou o castigo que sofrera ainda a respeito do seu período na seleção grega, uniu o grupo e avançou para uma série imparável de vitórias. Venceu todos os jogos do grupo desde que assumiu a seleção, confirmando o apuramento em Braga, frente à Dinamarca, num jogo decidido com um golo solitário de João Moutinho. Desde 1996, a seleção nacional tem estado em todos os Europeus e França não será exceção.

O sorteio, realizado já em dezembro, colocou Portugal no grupo de Áustria, Islândia e Hungria. Fernando Santos diz que não acredita em facilidades, mas, já antes, em outubro, tinha traçado a meta: «Podemos ser campeões da Europa».

-Os penáltis que roubaram o sonho dos miúdos de Rui Jorge



30 de junho. Portugal começou pé ante pé, mas com passos certeiros, a participação no Europeu Sub-21, mas nas meias-finais explodiu. Uma goleada de 5-0 à Alemanha deixou o país a sonhar com um título inédito na categoria. A final era contra a Suécia, com quem Portugal tinha empatado na fase de grupos. Sérgio Oliveira, bem cedo, atirou à trave e o golo parecia uma questão de tempo. Mas os suecos, organizados e mais fortes fisicamente, aguentaram a pressão inicial, controlaram o jogo e geriram até a sorte fazer o resto. Nos penáltis, Portugal foi de menos e a Suécia levou o título. Para os miúdos de Rui Jorge ficou o consolo moral: deixaram a prova sem perder qualquer jogo. Os penáltis (malditos!) é que roubaram o sonho…

«Faltou sermos melhores um bocadinho do que o adversário», analisou, no final, Rui Jorge. 

-Pedro Proença, senhor presidente



28 de julho. Depois do reinado de Mário Figueiredo que contribuiu para muitos dos episódios do anedotário do futebol português nos últimos anos, a Liga foi entregue a Luís Duque. Mas seria, apenas, uma transição. O antigo dirigente do Sporting recandidatou-se e até parecia favorito à vitória, mas surge, então Pedro Proença, ex-árbitro internacional, na corrida. E vence, com 32 votos contra 23. É a primeira figura da arbitragem a liderar a Liga de Clubes e o nono presidente da história do organismo.

No discurso da tomada de posse, Proença apontava o caminho: «O sucesso deve ser conquistado, sem atalhos, nem escolhas fáceis… mas sim, com rigor, planeamento e profissionalismo». 

-Um, dois, três, ganha o Sporting outra vez



22 de novembro.
Era o terceiro dérbi de Lisboa da época, todos em competições diferentes, mas todos com o mesmo vencedor: o Sporting. Tão raro que, a última vez que aconteceu, foi há 62 anos! Com a presença de Jorge Jesus vestido de verde e branco a apimentar cada um dos embates, o Sporting fez o Benfica tombar em todos eles. Na Supertaça, no Algarve, a abrir a época; na Luz, para a Liga, com o estrondo que um 3-0 caseiro sempre causa; em Alvalade, para a Taça, no esforço suplementar do prolongamento e com direito a reviravolta. Três vezes leão. 

O dérbi final até começou na antevisão com a rábula da conferência de imprensa atrasada para ver quem falava mais tarde, e durou mais uns dias, quando Vitória falou em «ataque avassalador» e Jesus acusou o toque lembrando as três vitórias que soma.

-A Champions que ainda é do Benfica



25 de novembro. Três dias depois de ser afastado da Taça e já em desvantagem no campeonato, o Benfica de Rui Vitória fechou o apuramento para os oitavos de final da Champions. Tal como na festa do título, a confirmação chegou pela forma de empate, desta feita em Astana. O resultado, por si só, não chegava, mas o Atlético Madrid deu uma ajuda ao bater o Galatasaray. Se a nível interno as coisas não correm pelo melhor, na Europa o Benfica deu cartas, com a vitória em Madrid a ser o ponto alto de uma caminhada tranquila, como há muito não se via. Aliás, desde 2012/12 que o Benfica não passava a fase de grupos da Liga milionária. E o afastamento do FC Porto deixa os encarnados como únicos representantes portugueses entre as melhores equipas da Europa.

Rui Vitória, por seu turno, mostrou-se orgulhoso com o caminho da equipa na Liga dos Campeões: «Passar esta fase e estar entre os dezasseis melhores, é um privilégio muito grande e uma motivação enorme.»

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