A 2 de outubro de 2013 não seria sensato apostar convictamente num Benfica campeão. Nessa noite, a equipa de Jesus era esmagada por 3-0 em Paris, em jogo da Liga dos Campeões. A competição era diferente, sim, mas a queda concluía dois meses de dúvidas e resultados incertos.

Ao oitavo jogo oficial da época, o Benfica já somava o quarto resultado negativo. Por negativo, entenda-se, referimo-nos a tudo o que não sejam vitórias: derrota no Funchal e em Paris, empate em Alvalade e na receção ao Belenenses.

Ordem na mesa: saltámos diretamente para Cidade-Luz mas talvez nos tenhamos precipitado. Em boa verdade, esse nem foi o mais ingrato e duro dos momentos na época benfiquista.

BENFICA CAMPEÃO: os destaques do jogo do título


Na tarde de 25 de agosto, Estádio da Luz cheio, a cabeça de Jorge Jesus esteve a minutos de rolar. A imagem é excessiva, mas não andará longe do rigor que se impõe.

Poucos já o recordarão. Aos 90 minutos da segunda jornada, o agora campeão somava zero pontos e afundava-se mais e mais no traumático final de época 2012/13.

O Gil Vicente marcara por Diogo Viana, a 20 minutos do fim, e preparava-se para voltar com três pontos a Barcelos. Se a isto adicionarmos a derrota justa do Benfica na primeira ronda, 2-1 em casa do Marítimo, percebe-se que o cenário dificilmente podia ser pior.

A beleza do futebol reside também nestas improbabilidades. No período de descontos, Lazar Markovic e Lima deram por completo a volta ao jogo, o Benfica venceu e a contestação a Jesus abrandou. Por um triz, o técnico resistiu.

Vamos à cronologia de uma época nascida torta e concluída de semblante dominador.

BENFICA: a cronologia da temporada 2013/14

AGOSTO de 2013: três jogos (1V, 1E, 1D)
. Uma derrota a abrir o campeonato, no Funchal, deixava Jesus «preocupado». O Marítimo vencia por 2-1 e adensava a dúvida sobre as condições que o treinador do Benfica teria para continuar no cargo. Lima, por outro lado, dizia não haver «razões para alarme».

O avançado não estava errado, como o tempo confirmou, e na semana seguinte salvou o Benfica contra o Gil Vicente. A vitória por 2-1 foi obtida no limite do suportável. 0-1 aos 90 minutos, dois golos no período de descontos. Que susto! Jesus desabafa no final: «Esta vitória moraliza mais do que uma goleada!»

No dérbi de Alvalade a equipa sobrevive. O empate a uma bola mostra melhorias, mas a equipa fica a cinco pontos do FC Porto na Liga. «Estou mais preocupado com a lesão de Salvio», comentaria Jesus em Alvalade.

SETEMBRO de 2013: 4 jogos (3V, 1E)
. À vitória segura por 3-1 sobre o Paços Ferreira, segue-se a estreia na Champions: 2-0 ao Anderlecht, melhor o resultado do que a exibição. Em Guimarães, o triunfo por 0-1, golo de Cardozo, passa para segundo plano. Jorge Jesus mete-se em trabalhos e é acusado de agressão a um polícia.

Como se isso não bastasse, o Benfica falha em casa contra o Belenenses. 1-1 e uma arbitragem polémica. Jesus dispara, queixa-se do árbitro e «das ajudas dos outros».

OUTUBRO de 2013: 5 jogos (3V, 1E, 1D)
. O Benfica cai com estrondo em Paris. Jesus admite a diferença de andamento: «Não tivemos capacidade».

A época prossegue e ninguém consegue perceber o que vale o Benfica. O mês acaba por se compor e só o empate na Champions, 1-1 contra o Olympiakos, estraga as contas. Matic e o guarda-redes Roberto, de má memória na Luz, dão nas vistas com erros graves. Jesus perdoa o sérvio. «Tem de assumir aquele risco».

No campeonato, a prova prioritária, a melhor notícia chega da Amoreira, onde o Benfica passa por 1-2. Depois da estreia em Cinfães para a Taça de Portugal, 0-1, o mês é encerrado com uma vitória por 2-0 contra o Nacional, golos de Siqueira e Cardozo. «Há jogadores já mais perto do nível normal», clama Jesus.

NOVEMBRO de 2013: 5 jogos (3V, 1E, 1D)
. Três pontos em Coimbra, embrulhados numa das melhores exibições feitas até então: 0-3, golos de Markovic, Cardozo e Marcelo Goiano na própria baliza. Por esses dias, Jesus já gosta mais do que vê: «Estamos a chegar perto do nosso melhor», defende no final dessa nona jornada.

A subida qualitativa é evidente e mantém uma nota artística elevada em Atenas. Ali, porém, o resultado não a acompanha e a derrota significa o comprometimento do projeto na Champions. Segue-se o dérbi, mais um, contra o Sporting na Taça. Tudo resolvido no prolongamento após um 3-3 aflitivo para cardíacos e não só. Nessa noite, Jesus aplaude a aposta em Lima.

Até ao final de novembro, mais dois jogos. Na exigente receção ao Sp. Braga, vitória por 1-0. Matic resolve tudo aos 72 minutos. Dias depois, um triunfo por 2-3 em Bruxelas, a deixar tudo em aberto na Champions.

Dez jornadas volvidas e as águias estão no segundo posto, um ponto atrás do FC Porto. Jesus cumpre um mês de suspensão, devido aos acontecimentos de Guimarães. O adjunto Raul José até diz que «o treinador não é necessário».

DEZEMBRO de 2013: 6 jogos (5V, 1E)
. O empate na receção ao Arouca estraga um mês quase perfeito. O Benfica segue para as férias de Natal com 33 pontos, os mesmos de FC Porto e Sporting. A Liga promete, tal é o equilíbrio. Nessa igualdade surpreendente, Pedro Emanuel, técnico arouquense, deixa um recado para quem quer ouvir: «disseram que não podíamos vir discutir o jogo à Luz».

O Benfica abana, hesita, mas não cai. Nas semanas imediatamente posteriores vence, no Estádio do Algarve, o Olhanense e em Setúbal, já depois de travar na Luz o passeio do PSG, por 2-1.

Nas derradeiras declarações de 2013, Jorge Jesus já sublinha a qualidade do plantel e a capacidade de gerir a equipa sem quebras de rendimento: «jogue quem jogue, o Benfica tem sempre soluções».

(continua na parte II)