​De Maceió para o mundo. Pepe prepara-se para celebrar 40 anos em campo, com a braçadeira de capitão do FC Porto. Ele continua aí, com a mesma paixão de sempre, imperial, competitivo, qualidades e uma longevidade que o tornam único.

Chegou a Portugal há mais de 21 anos e começou aí uma história que o levou da Madeira ao Dragão, com uma passagem efémera pelo Sporting. Que o levou depois ao topo do mundo, uma década de conquistas no Real Madrid. E à seleção nacional, onde chegou em 2007 e continua até hoje, de recorde em recorde: tem 133 jogos por Portugal, é o terceiro mais internacional de sempre, campeão da Europa e vencedor da Liga das Nações. 

Depois jogou na Turquia e voltou ao Dragão, para liderar a defesa com o mesmo foco de sempre. E para continuar a vencer – a Taça da Liga, em janeiro deste ano, foi o 27º troféu no seu palmarés. Agora tem a renovação com o FC Porto em cima da mesa, a história continua.

O Maisfutebol recorda a carreira de Pepe numa cronologia que se foca em duas décadas que tiveram altos e baixos, também momentos em que levou a competitividade longe de mais, mas que retrata a forma como se manteve durante tanto tempo ao mais alto nível. São 39 datas e a 40ª está já marcada para domingo.

26 fevereiro 1983 – Nasceu em Maceió Képler Laveran Lima Ferreira, que seria o único rapaz entre três irmãs. Os nomes próprios, dados pelo pai, foram inspirados num astrónomo e num médico vencedor do prémio Nobel. A alcunha vem de um craque, antigo avançado bicampeão do mundo pelo Brasil.

5 Julho 2001 – O Marítimo apresentava-se para a nova temporada e um dos reforços anunciados era Pepe. Tinha 18 anos e chegava do Brasil, ele que tinha passado pelo Napoli, CRB e Corinthians Alagoano. Lesionou-se com gravidade no último jogo antes de viajar e os primeiros meses na Madeira foram de recuperação, iniciando a competição na equipa B.

12 abril 2002 – A estreia pela equipa principal do Marítimo, aos 19 anos. Jogou os 90 minutos nesse 0-0 com o Boavista da 31ª jornada da Liga, teve uma oportunidade de golo e no final o Maisfutebol destacou a forma como o então adolescente «se impôs com naturalidade». A partir daí foi titular até ao fim do campeonato, que terminou com o Marítimo no sexto lugar.

9 julho 2002 – Pepe deixa o Funchal a caminho de Alcochete «para ser observado» pelo Sporting. Fez parte da pré-época e foi aí que conheceu Cristiano Ronaldo, no início de uma caminhada que fariam tantas vezes lado a lado, no Real Madrid e na seleção. Laszlo Bölöni queria contratá-lo, mas não houve acordo entre clubes e a 22 de julho Pepe voltou à Madeira.

4 junho 2004 – A data da formalização da transferência para o FC Porto, que se antecipava há meses. Pepe era alvo ainda de José Mourinho, que o queria aliás para jogar a trinco. Mourinho saiu depois da conquista da Champions, mas Pepe rumou mesmo ao Dragão.

27 agosto 2004 – A estreia pelo FC Porto, na derrota com o Valência (1-2) para a Supertaça Europeia. Jogou os 90 minutos no Mónaco ao lado de Jorge Costa, numa época em que ainda não tinha estatuto de titular, atrás de nomes como o «Bicho», mas também Pedro Emanuel ou Ricardo Costa. Era o número 7 nessa temporada, escolha dele. No FC Porto ainda usou o 14 e só depois o 3.

17 outubro 2004 – No seu primeiro clássico frente ao Benfica, na Luz, Pepe foi expulso a meia hora do fim. Ele e Nuno Gomes, depois de uma altercação entre ambos. O FC Porto venceu por 1-0 um jogo marcado por polémica. O Benfica foi campeão nessa época. Ainda assim, Pepe somou o primeiro título no Dragão, ainda que não tenha saído do banco em dezembro, na conquista da Taça Intercontinental. Numa temporada de instabilidade no Dragão, no pós-Mourinho, fez 22 jogos.

22 abril 2006 – A vitória por 1-0 em Penafiel, na penúltima jornada, selava o título de campeão nacional do FC Porto. Era o primeiro de Pepe, no final da sua época de afirmação no Dragão, potenciada pelo sistema de três centrais promovido por Co Adriaanse.

1 abril 2007 – Era a 23ª jornada da Liga e o clássico da Luz chegava com vantagem curta do FC Porto, um ponto apenas sobre o rival. Aos 40 minutos, Pepe saltou na área e cabeceou para colocar o dragão em vantagem e manter distâncias: o clássico terminou empatado, depois de um autogolo de Lucho nos minutos finais, mas o FC Porto segurou a liderança e festejou o bicampeonato no final da época.

10 julho 2007 – Pepe já tinha chamado a atenção dos grandes da Europa e a transferência anunciava-se há muito. Agora tornava-se oficial. O FC Porto formalizava a saída de Pepe para o Real Madrid, num negócio de 30 milhões de euros. Tornava-se o central mais caro da história do clube merengue.

30 agosto 2007 – O processo de naturalização de Pepe tinha ficado concluído dias antes e Scolari não perdeu tempo: neste dia, o agora jogador do Real Madrid era pela primeira vez chamado à seleção nacional, para os jogos com Polónia e Sérvia de qualificação para o Euro 2008. Pepe, que já tinha assumido o desejo de representar Portugal, estava lesionado e acabou por não ser opção nesses jogos.

21 novembro 2007 – Foi no Estádio do Dragão que Pepe se estreou com a camisola de Portugal, logo num jogo com história. O nulo com a Finlândia selou o apuramento para o Euro 2008. Pepe foi titular, ao lado de Bruno Alves.

4 maio 2008 – Com Pepe em campo, o Real Madrid venceu o Osasuna e festejou a conquista do título espanhol. Era o primeiro do central português em Espanha, depois de uma época inaugural de adaptação entre pesos pesados como Cannavaro ou Sérgio Ramos, em que fez apenas 25 jogos.

7 junho 2008 – Para assinalar a estreia em fases finais, Pepe marcou o primeiro golo de Portugal no Euro 2008, abrindo caminho à vitória sobre a Turquia (2-0). Foi o único jogador de campo a jogar todos os minutos dessa campanha até aos quartos de final e foi um dos eleitos para a lista alargada da equipa ideal da competição.

21 abril 2009 – Eram os minutos finais do Real Madrid-Getafe, empatado a dois golos, quando Pepe perdeu a cabeça. Expulso por um penálti sobre Casquero, agrediu o adversário a pontapé. Foi suspenso por dez jogos, um dos castigos mais pesados de sempre na Liga espanhola, que se arrastou para o início da época seguinte. Pepe voltou várias vezes a falar sobre aquele momento, a dizer que não consegue explicar.

9 setembro 2009 - Apesar da suspensão em Espanha, Pepe continuou a manter a confiança do então selecionador, Carlos Queiroz. E seria crucial na campanha de qualificação para o Mundial 2010, ele que marcou o golo solitário que garantiu a vitória na Hungria, decisiva para manter Portugal na corrida.

12 dezembro 2009 – Uma lesão grave no joelho frente ao Valencia implicou uma longa paragem para Pepe, que não jogaria mais nessa temporada e teve em risco a presença no Mundial 2010. Só voltaria aos relvados quase seis meses mais tarde, já no estágio da seleção na África do Sul, no jogo de preparação com Moçambique.

29 junho 2010 – Pepe ficou de fora dos primeiros dois jogos de Portugal no Mundial. Jogou frente ao Brasil a fechar a fase de grupos no meio-campo, utilizado preferencialmente como trinco nessa campanha, posição que também ocupou no Real Madrid. E voltou a ser titular na despedida de Portugal da África do Sul, na derrota com a Espanha nos oitavos de final.

27 abril 2011 – José Mourinho tinha chegado ao Bernabéu e liderava um Real Madrid mais português que nunca, com Cristiano Ronaldo, Ricardo Carvalho e Pepe. Numa sucessão de clássicos com o Barcelona, o Real Madrid venceu a Taça do Rei mas caiu na meia-final da Liga dos Campeões, com muita polémica e Pepe expulso na primeira mão, por uma entrada sobre Dani Alves.

18 janeiro 2012 – Outro momento crítico da passagem de Pepe pelo Real Madrid. Uma pisadela na mão a Messi no clássico de Taça do Rei fez correr rios de tinta, alimentada pelo histórico do central. Pepe pediu desculpa e o lance não teve mais consequências disciplinares.

13 junho 2012 – A confirmar a queda para marcar em fases finais, apontou o primeiro golo de Portugal no Euro 2012, a abrir caminho à vitória sobre a Dinamarca na segunda jornada. Uma vez mais, foi totalista na campanha da seleção até à meia-final, imperial na defesa e com lugar garantido no onze ideal.

7 maio 2013 – Foram conturbados os últimos dias de Mourinho no Real, marcados também por um bate-boca com Pepe. O defesa criticou a forma como o treinador lidou com Iker Casillas, e Mourinho respondeu truculento: «O problema de Pepe chama-se Varane. Não é fácil para um homem de 31 anos ser atropelado por um miúdo de 19». Pepe não voltou a jogar até final da época.

24 maio 2014 – Estádio da Luz, final da Liga dos Campeões. O jogo que Pepe não jogou, porque vinha de lesão e preferiu não correr o risco de limitar a equipa, numa atitude que ainda recentemente Ancelotti elogiou. Depois da saída de Mourinho, Pepe fez nessa primeira temporada com Ancelotti a sua melhor época no Bernabéu, com 48 jogos e cinco golos.

16 junho 2014 – O Portugal-Alemanha de abertura do Mundial 2014 levava 37 minutos quando Pepe deitou tudo a perder, com uma cabeçada a Thomas Müller que deixou a seleção reduzida a dez. A derrota por 4-0 foi o prenúncio de um Mundial para esquecer, de onde Portugal saiu na primeira fase.

10 julho 2016 – Portugal foi campeão europeu e Pepe foi o pilar em que assentou a conquista na épica final de Paris. Foi eleito MVP da final, a coroar mais uma grande competição para o patrão da defesa portuguesa. Mais um Europeu, mais um lugar garantido no onze ideal da prova. Nessa temporada, Pepe juntou o título com a seleção à segunda Liga dos Campeões pelo Real Madrid, ganha em nova final com o At. Madrid e agora com ele em campo.

8 abril 2017 – No último jogo pelo Real, Pepe marcou no empate frente ao At. Madrid. Em fim de contrato, não renovou e não foi opção nas decisões que se seguiram, mas ainda festejou a conquista do título espanhol, ao lado de Ronaldo e Coentrão e com a bandeira portuguesa, e da terceira Liga dos Campeões no seu palmarés, ganha na final com a Juventus. Era o fim de ciclo ao fim de uma década em que fez 334 jogos e conquistou 14 troféus.

4 julho 2017 – Pepe é oficializado como reforço do Besiktas, onde chega como jogador livre. Ao lado de Ricardo Quaresma, jogou época e meia na Turquia, até rescindir em dezembro de 2018.

30 junho 2018 – Oitavos de final do Mundial 2018. Aos 55 minutos do jogo com o Uruguai, Pepe elevou-se nas alturas e fez o 1-1 para Portugal. Não chegou, Cavani bisou e a seleção voltou para casa. Uma vez mais, Pepe jogou cada minuto dessa campanha.

6 setembro 2018 – Pepe voltou a assinalar com golo um momento especial, aquele em que somou 100 jogos com a camisola da seleção. Foi no Estádio do Algarve, num particular frente à Croácia que terminou empatado a uma bola.

8 janeiro 2019 – Onze anos e meio depois, era oficial. Pepe voltava ao FC Porto, aos 35 anos e com contrato até 2021. Uma semana mais tarde fazia a segunda estreia de azul e branco, em jogo de Taça frente ao Leixões. A partir daí foi opção regular no centro da defesa até ao final de uma época de má memória, em que o FC Porto viu fugir a vantagem e o título para o Benfica e perdeu a final da Taça para o Sporting.

5 junho 2019 – O Estádio do Dragão assistiu à vitória de Portugal sobre a Suíça na meia-final da Liga das Nações e viu Pepe cair mal e ficar lesionado no ombro. Nova final perdida para o central, que falhou a decisão com a Holanda. Mas festejou de pleno direito o segundo grande título da seleção nacional.

4 novembro 2020 – Depois da conquista do título de campeão nacional no verão, Pepe renova com o FC Porto, um novo compromisso assinalado com pompa no relvado do Dragão, com duração até 2023. Até completar 40 anos, portanto. Dias antes tinha assumido como capitão, depois da saída de Danilo para o PSG. E tinha ouvido uma boa dose de elogios de Sérgio Conceição: «É talvez o jogador mais competitivo que treinei.»

27 junho 2021 – Portugal despediu-se do Euro 2020 na derrota com a Bélgica, que assinalou o 19º jogo de Pepe na fase final de um Europeu. Está no pódio dos jogadores com mais presenças de sempre, a par de João Moutinho e apenas atrás de Cristiano Ronaldo, com 25. Aos 38 anos, jogou mais uma vez cada minuto de Portugal na competição.

8 agosto 2021 – Logo na primeira jornada da Liga, frente ao Belenenses, Pepe batia um recorde de longevidade: era o mais velho de sempre a jogar pelo FC Porto. E não acabou a época sem se tornar também o mais velho a marcar, no 7-0 ao Portimonense.

11 novembro 2021 – Um recorde e uma expulsão. Naquele nulo em Dublin frente à Irlanda, no apuramento para o Mundial, Pepe superou Vítor Damas, para se tornar aos 38 anos, 8 meses e 16 dias o mais velho de sempre a representar Portugal. Também viu a dez minutos do fim desse jogo o seu segundo vermelho com a camisola da seleção, por acumulação de amarelos.

11 fevereiro 2022 – Um empate a dois golos, muita confusão e quatro expulsões depois do apito final. O FC Porto-Sporting da 22ª jornada deu que falar por muito tempo e Pepe foi um dos envolvidos. Acusado de agredir Hugo Viana e suspenso preventivamente, tal como o sportinguista Tabata, o capitão portista acabaria por ser absolvido pelo TAD meses mais tarde. A época terminaria em festa, mais uma vez, com mais uma dobradinha para o FC Porto e para Pepe. Que continuou a ser a referência da defesa, ainda que com mais cuidados a gerir a forma e a recuperação física. 

6 dezembro 2022 – Assumiu a braçadeira de capitão de Portugal a meio do Mundial 2022, quando Ronaldo foi para o banco. E com o golo frente à Suíça nos oitavos de final, Pepe tornou-se o jogador mais velho de sempre a marcar numa fase a eliminar do Mundial, aos 39 anos e 238 dias - o segundo em absoluto atrás apenas do mítico Roger Milla. Começou o Mundial no banco, frente ao Gana, mas a partir daí jogou todas as partidas de Portugal até aos quartos de final.

28 janeiro 2023 – Foi Pepe o primeiro jogador do FC Porto a levantar uma Taça da Liga, depois da vitória sobre o Sporting que selou a conquista inédita para o clube. O capitão vencia ali o 27º troféu da sua carreira, ele que na véspera tinha falado sobre a sua longevidade e da paixão que continua a ter: «Sou um privilegiado quando acordo e posso vir treinar.»

22 fevereiro 2023 – Inter-FC Porto, 90 minutos de Pepe. Uma derrota a meio caminho da decisão da Liga dos Campeões e mais marcas de longevidade à vista: está prestes a tornar-se o segundo mais velho jogador de campo na prova. E no domingo, no dia em que celebra 40 anos, há mais um jogo. A renovação também está em curso, Pepe já tem a proposta na mão, é apenas questão de formalizar. Haverá mais datas para juntar a esta história.