O sócio número dois do Sporting, Mário Moniz Pereira, promete «rasgar o cartão» se o Sporting se tornar num clube apenas centrado no futebol. «Se aparecer uma pessoa que diz 'eu só quero o futebol aqui¿, eu peço a demissão de sócio logo, isso não é comigo», garantiu o «Senhor Atletismo», que completa 90 anos nesta sexta-feira, em entrevista à Agência Lusa.

Cinco vezes vice-presidente do clube, e com uma vida dedicada ao atletismo, Moniz Pereira critica os milhões gastos com o futebol e garante que mais cedo ou mais tarde todos os clubes vão sentir a crise. «O futebol sempre foi uma das modalidades mais importantes, mas não pode ser só o futebol. Um milhão para o futebol não é nada e para o atletismo não há 100 mil euros, mesmo que sejamos campeões da Europa», desabafa: «Em Portugal exagera-se demasiado o gosto pelo futebol, com ordenados iguais aos de Inglaterra ou Espanha. Todos os clubes estarão em crise financeira, se continuam a pagar aquilo que pagam.»

De alguns dirigentes da nova geração tem uma visão crítica, por estarem distanciados do lado desportivo do clube: «Se alguém conhece o Sporting, sou eu e pouca gente mais. Muitos que lá estão a trabalhar sabem muito de contas, de bancos, de contratos, mas de desporto não.»

Sobre as eleições, afirma ainda não conhecer todos os candidatos ao lugar. «Alguns nem sei quem são, podem passar por mim que não sei quem são, outros, conheço, mas tenho de saber qual é o projecto», explica.

Licenciado em educação física, sempre assumiu no final do curso que o objectivo era treinar um atleta para ser campeão olímpico, feito que conseguiu com Carlos Lopes. «Ao fim de 39 anos de trabalho e de treino consegui mesmo que um atleta treinado por mim, o Carlos Lopes, conseguisse a medalha de ouro da maratona (1984)», recorda.

Sem dúvida, o ponto mais alto de uma carreira de 66 anos de ligação ao atletismo do Sporting.

Mas não é só de Lopes que vivem as suas recordações. Também de Fernando Mamede e dos gémeos Castro, nomeadamente. «Gostei de trabalhar com muitos atletas, que se entregaram ao rigor das minhas regras de treino. Dei sempre o exemplo e nunca pedi para fazerem nada que eu não fizesse primeiro», relembra.