Em caso de vitória francesa na final do Mundial de râguebi frente à Nova Zelândia, pode-se dizer que Portugal também será vencedor do Mundial ? «Não sei. Não nasci em Portugal mas é um país muito importante para mim e para o meu pai», confessa Morgan Parra, em conversa exclusiva com o Maisfutebol.

A história de Parra

A família Parra é natural da freguesia de Bemposta, concelho de Mogadouro, em Trás-Os-Montes. Foi o avô que emigrou, há cerca de 40 anos. Transferiu-se para a região de Metz, Leste da França, para limpar os tanques de uma adega cooperativa. O pai, António, ainda nasceu em Portugal e foi para França aos seis anos.

Adepto do Benfica numa família portista

Menino, Morgan passava as férias na terra das suas origens, na casa da tia. O «francês» passava os dias com os primos, e trocava a bola oval pela redonda. «Jogávamos muito futebol», lembra este adepto confesso do Benfica, por causa «dos resultados e da cor da camisola», enquanto o resto da família é simpatizante do FC Porto.

«Dormia, ia à piscina à tarde, comia com a família. São muito boas recordações», diz, com uma ponta de «saudade» na voz. «Lembro-me dos meus primos, o Carlos, o Bruno, o Ricardo».

O Maisfutebol foi ao encontro de Ricardo Parra. Desde Bemposta, o primo de 32 anos lembra um menino muito «reguila, que não era envergonhado apesar de saber pouco de português».

Bemposta está preparada para seguir a final no café da aldeia, domingo de manhã. Não só a família como o resto da aldeia. «Muita gente o conhece. Nós falamos o máximo dele, e os emigrantes também.» A família mantém-se em contacto através de António Parra, pai de Morgan. «Ligámos duas vezes desde o início da Mundial», nota o primo, que acha Morgan «um jogador raçudo, como os portugueses».

«Quero descobrir Portugal e ver onde o meu pai viveu»

Portugal pode não ser uma terra de râguebi, mas pelo menos Bemposta interessa-se pelos resultados do menino maravilha. «O meu pai vê todos os jogos do Mundial», diz Ricardo Parra. «Acompanhamos a carreira dele desde 2007. Quando não vemos os jogos, seguimos na internet. No último Verão um emigrante trouxe-me uma revista com todos os artigos em que aparecia. Agora gostamos do râguebi», diz o primo.

Morgan Parra é uma pessoa que não se esquece de onde vem. Em França, vai criar estágios de râguebi na região de Metz, que deixou aos 15 anos. Em Portugal, vai tentar voltar no próximo Verão. «Quero descobrir Portugal. Já não volto há dez anos. Quero ver onde o meu pai viveu, e voltar também para os meus primos», disse, emotivo, o jogador, a quem «custa» agora perceber a língua de Camões.

Podia ter representado a selecção portuguesa !

Se tiver tempo, Morgan Parra também irá dar um salto à sede de Federação Portuguesa de Râguebi, uma selecção que podia ter representado: «É verdade que se não pudesse representar a França podia virar-me para Portugal. O meu pai foi abordado na sua época, e talvez eu pudesse ter feito o que ele não conseguiu fazer».

Morgan mantém-se a par dos resultados dos «Lobos» com Julien Bardy, colega no Clermont e capitão da selecção portuguesa.

Domingo, Morgan não poderá contar com o apoio dos seus pais no Eden Park de Auckland. «Ele perguntou se queríamos vir, mas não podemos tirar uma semana de férias», lamenta António, o pai, «muito orgulhoso» que Portugal, o seu país, se interesse pelo seu filho». Mas de certeza que além do apoio de 65 milhões de franceses, deverá ter mais 10 milhões de almas lusas a torcer por ele.