O dia 22 de Dezembro de 2010 fica gravado na memória de José Mourinho: o treinador conseguiu a maior goleada da carreira. Na recepção ao Levante, o Real Madrid venceu por 8-0 e garantiu um novo máximo para uma equipa do português. Ele que em mais de 450 jogos, só conseguiu resultados robustos em 30 deles.

O primeiro foi ao serviço do Benfica, em Guimarães. Os encarnados venceram então por 4-0 e João Tomás fez três golos. Por isso recorda-se bem dele. Curiosamente não se recorda de um Mourinho feliz. «A maior alegria era a minha, não a dele», conta ao Maisfutebol. «Foi o primeiro hat-trick da minha carreira.»

Mourinho nunca foi homem de ficar feliz com goleadas. «As vitórias que mais o deixavam contente eram por 1-0», adianta Derlei. «Quando ele sentia que o jogo estava difícil e que ganhávamos, aí sim, ficava feliz. Eram jogos em que dávamos tudo, ultrapassávamos as dificuldades e isso enchia-o de orgulho.»

Do Benfica ao Real, todas as goleadas de Mourinho

João Tomás realça que o mais importante para Mourinho «sempre foi ganhar». «Essa é a regra número um dos vencedores. Por maior ou menor expressividade, a vitória está sempre presente. Para ele o sucesso passa pelo equilíbrio, pela organização, por todos aqueles aspectos que fazem um coisa ser bem feita.»

Talvez por isso não haja muitas goleadas na carreira de Mourinho. Antes de golear o Levante, o resultado mais expressivo era um duplo 7-0: pelo Leiria frente ao Salgueiros e pelo F.C. Porto sobre o Varzim. Este último num jogo da Taça em que até o guarda-redes Nuno marcou, de penalty, no último minuto.



Derlei estava no F.C. Porto, mas não participou nesse encontro. Participou sim, na outra goleada de Mourinho por 7-0. A 9 de Dezembro de 2001, a U. Leiria bateu o Salgueiros por 7-0 num jogo em que o brasileiro marcou quatro golos. «Mourinho nunca falava em golear. Era uma palavra que não entrava no balneário.»

«A palavra que sempre estava presente no vocabulário de Mourinho era vitória. Independentemente do número de golos ou do nome do adversário, ele só falava em vitória, vitória, vitória. Os golos dão tranquilidade e moralizam os jogadores, mas não era isso que mais o preocupava ou que mais o deixava feliz.»

Apesar disso, e muito curiosamente, Mourinho conseguiu no F.C. Porto várias das maiores goleadas. Por quatro vezes, aliás, passou acima dos cinco golos por jogo. Um pecúlio só ultrapassado agora no Real Madrid. Em seis meses ao serviço dos merengues, já conseguiu por cinco vezes mais de cinco golos.

Ora conta Derlei que as goleadas são até os jogos que mais preocupam Mourinho. «Quando um jogo estava, por exemplo, 4-0 era quando ele cobrava mais», diz. «Ele exigia que a equipa mantivesse o rigor. Os golos por vezes relaxam os jogadores e esse é um perigo que ele queria evitar.» O que explica muita coisa.