Uma época para esquecer. É assim que os adeptos do FC Porto se sentem depois da décima primeira derrota sofrida no espaço de uma temporada e logo uma eliminação da Taça de Portugal no estádio do principal rival. Os alarmes soaram há muito tempo, mas a substituição do treinador já não serviu para salvar o que já tinha sido mal construído durante demasiados meses.

Depois da euforia dos últimos anos, os dragões têm de assistir aos festejos dos adversários e começam a fazer contas para o futuro próximo, desejando que tão cedo se repita uma época como esta, simplesmente porque estão a ver passar à frente dos seus olhos o pior FC Porto da última década (e ainda há para jogar mais três jornadas da Liga e uma meia-final da Taça da Liga… com o Benfica).

Se nas últimas oito temporadas os portistas foram campeões sete vezes, pode estar a surgir um novo ciclo a favor dos encarnados, que foram os únicos a intrometerem-se nestas contas, vencendo os títulos de 2009/10 e 2004/05. Foi precisamente nesta última época que os dragões conseguiram ser tão desastrosos como na atualidade.



Na ressaca da conquista da Taça UEFA e da Liga dos Campeões, que levou Mourinho para o Chelsea, Pinto da Costa teve dificuldade em encontrar um sucessor. Foi buscar Del Neri a Itália, mas despachou-o antes da época começar, contratando Víctor Fernandez para conquistar a Supertaça e a Taça Intercontinental. O espanhol seria despedido e José Couceiro não conseguiu evitar o descalabro do final da temporada, perdendo o título para o Benfica. No total foram 46 jogos, com 20 vitórias, 15 empates e 11 derrotas.

Os paralelismos entre 2004/05 e a época atual são mais do que muitos e não se ficam pela troca de treinadores a meio da época ou a conquista da Supertaça, que serviu para dar um sinal errado de que tudo ia correr bem. Uma das maiores diferenças é a eliminação da Taça de Portugal logo na quarta eliminatória, pelo V. Guimarães e o facto de até ter passado a fase de grupos da Champions, com muito sofrimento, caindo depois com o Inter de Milão, já com Couceiro. Nessa Liga dos Campeões os dragões também somaram três derrotas (Chelsea, Paris Saint-Germain e Inter de Milão).

Os onze jogadores mais utilizados foram: Quaresma, Costinha, Vítor Baía, Diego, McCarthy (que só marcou 14 golos), Seitaridis, Hélder Postiga (3 golos), Ricardo Costa, Bosingwa, Jorge Costa e Pedro Emanuel.

A necessidade de reforçar o plantel levou a SAD azul e branca a ir buscar Co Adriaanse e contratar vários jogadores importantes no defeso seguinte: Helton, Bruno Alves, Lucho González, Lisandro López e Anderson, entre outros.



Mas este século trouxe uma época bem pior do que a atual ou a de 2004/05. Em 2001/02, Octávio Machado tentava colocar um ponto final num ciclo de dois anos sem títulos (devido às conquistas de Sporting e Boavista), mas os maus resultados acumularam-se e Pinto da Costa decidiu apostar em José Mourinho, que brilhava na União de Leiria, depois de ter sido desperdiçado no Benfica.

Foi a pior época desde que Pinto da Costa é presidente dos dragões. Em 55 jogos, 31 vitórias, oito empates e 16 derrotas. Nunca os azuis e brancos perderam tantas vezes, apesar de também terem conquistado a Supertaça Nacional. Depois disso, o descalabro.

Foram oito derrotas na Liga (em Alvalade, duas vezes com Beira Mar e Belenenses, em Guimarães, nos Açores com o Santa Clara e no Bessa), eliminação nos quartos-de-final da Taça em casa com o Sp. Braga e sete derrotas na Liga dos Campeões: na pré-eliminatória com os galeses do Barry Town; e nas duas fases de grupos, com Celtic, Juventus, Sparta de Praga (duas vezes) e Real Madrid (duas vezes).

Mourinho pegou numa equipa fragilizada e ainda perdeu cinco vezes (duas para o campeonato e três para Champions), mas sabia que na época seguinte tinha de operar uma revolução no plantel. E assim aconteceu, entrando muitos daqueles que ficaram associados aos títulos conquistados nos anos seguintes: Nuno, Jorge Costa, Pedro Emanuel, Nuno Valente, Paulo Ferreira, Maniche e Derlei.

Os processos são muito diferentes, mas é notório que o FC Porto terá de operar nova revolução no plantel, tendo de vender para comprar, não se sabendo em que medida a mudança vai também passar pela equipa técnica. A capacidade de liderança de Pinto da Costa estará, uma vez mais, à prova e não só no que diz respeito ao mercado, mas também na resolução de lutas intestinas que ameaçam arrastar o clube para a lama.