Rui Costa chegou nesta quinta-feira a Ponferrada, onde no domingo pela manhã começa a defender o título de campeão do mundo de estrada. O português preparou-se a fundo e terá toda a seleção nacional ao seu lado, para ajudar. Mas terá de lutar contra adversários de peso, e contra a história.

Em mais de 85 anos de existência da competição, apenas cinco corredores conseguiram até hoje vencer em anos consecutivos, numa prova em que se decide tudo num dia, cinco ou seis horas sem perdão para algum percalço, um erro estratégico ou um dia mau. À dificuldade da revalidação do título juntam-se histórias difíceis para alguns campeões do mundo depois da conquista. Já lhe chamam a maldição da camisola arco-íris, uma denominação alicerçada em dramas como a morte do belga Jean-Pierre Monseré, num acidente de estrada em 1971, meses depois de ter sido campeão do mundo de estrada, ou em muitos exemplos de campeões que tiveram problemas, com lesões ou de outros tipos, no ano seguinte à conquista.

Em muitos casos, ao título seguiu-se uma má época para o homem que usou durante o ano a camisola arco-íris. Nesse sentido Rui Costa não é exceção. E a broncopneumonia que o obrigou a desistir do Tour deste ano contribui para alimentar o mito da maldição.

Mas Rui Costa e Portugal apostam muito na decisão de domingo. A seleção nacional, que há um ano, em Florença, era constituída por três corredores (além de Rui Costa, Tiago Machado e José Mendes), duplicou este ano. Juntam-se Nélson Oliveira, que na quarta-feira conseguiu um excelente sétimo lugar no contrarrelógio, Sérgio Paulinho e André Cardoso.

A ordem é para apoiar Rui Costa. «Todos estão conscientes que vêm para cumprir uma missão: ajudar alguém. SSe essa pessoa falhar por qualquer motivo, falhamos todos. Não há duas ideias. O objetivo é trabalhar para aquele fim. Só assim se faz uma equipa. Ninguém vem com um pensamento que não seja trabalhar para o líder», assume o selecionador José Poeira, à Lusa.

Uma ideia reforçada por Sérgio Paulinho: «Todos nós sabemos que vimos para este mundial com o objetivo de ajudar o Rui a revalidar o titulo. Essa é a minha missão.» E também por José Mendes: «O Rui é o nosso homem que, pelo que fez no ano passado e este ano, é favorito. Temos todos consciência que estamos aqui para o ajudar e, se possível, renovar o título de campeão do mundo.»

Rui Costa, que falou ao final da tarde em conferência de imprensa no hotel da seleção portuguesa, em Lugo, garante no entanto que não está obcecado com o título. «Estou tranquilo. Já ganhei um Mundial, não é por isso que vou dormir à sombra da bananeira, mas estou tranquilo. Ser campeão do Mundo é muito bonito. Para o desporto português, um atleta poder levar aquela camisola durante um ano é um orgulho», disse, rejeitando de caminho que seja o primeiro favorito à vitória.

«São outros corredores que nunca ganharam que têm de ir à procura da vitória. Se me acham favorito, são os outros corredores. Eu acho que há corredores mais favoritos do que eu», defendeu. «O importante é que trabalhei bastante, fiz as coisas corretas. Mas este mundial não é um mais um. Temos de deixar correr os quilómetros e, nas duas últimas voltas, ver a tática das outras equipas. Tanto a seleção espanhola como a italiana vão estar muito fortes. Temos de ver se eles vão mandar alguém para a fuga», disse.

A Itália tem como principais candidatos Vincenzo Nibali, o vencedor do Tour este ano, e Fabio Aru, enquanto a Espanha tem várias armas, com destaque para Joaquim Rodriguez (Katusha) e Alejandro Valverde (Movistar). 
 
Portugal já teve motivos para sorrir nos Mundiais de Ponferrada. Primeiro o quarto lugar de Rafael Reis no contrarrelógio sub-23. O português, que disputou o último ano na categoria, ficou a 10 segundos do pódio.

Depois, as prestações de Nélson Oliveira e Tiago Machado, que abriram caminho à participação da elite portuguesa nos Mundiais com um sétimo e um 11º lugar no contrarrelógio, respetivamente. Prestações saudadas por Rui Costa, à distância.




Houve ainda a primeira presença feminina lusa no contrarrelógio de elite. Um marco para Daniela Reis, apesar do último lugar. A portuguesa volta a competir no no sábado, na prova de fundo feminina.

Mas todas as atenções estão reservadas para domingo. A prova de fundo que decidirá o campeão do mundo começa às 9h, hora portuguesa. 254,8 quilómetros depois, com chegada prevista pelas 15h35, haverá campeão.

Portugueses, campeões e o que falta dos Mundiais de ciclismo de Ponferrada:

Contrarrelógio de sub-23 (36,15 quilómetros):
Rafael Reis (Banco BIC-Carmim), 4º lugar, 44m09.26s
Campeão: Campbell Flakemore (Austrália), 43m49.94s

Contrarrelógio de juniores (29,5 quilómetros):
Ivo Oliveira (Bairrada), 30º, com 39m14.45s;
Tiago Antunes (CC José Maria Nicolau), 45º, 39m52.20s.
Campeão: Lennard Kamna (Alemanha), 36m13.49s

Contrarrelógio de elites femininas (29,5 quilómetros):
Daniela Reis (Acreditar/AC Malveira), 47º e último lugar, com 46m36.98s.
Campeã: Lisa Brennauer (Alemanha), 38m48.16s

Contrarrelógio de elites (47,1 quilómetros):
Nelson Oliveira (Lampre-Merida), 7º, 57m47.15s
Tiago Machado (NetApp-Endura), 11º, 58m17.89s
Campeão: Bradley Wiggins (Grã-Bretanha), 56m25.52s

Sexta-feira, 26 de setembro:
Prova de fundo de sub-23 (182 quilómetros): Joaquim Silva (Anicolor), Ricardo Ferreira (Rádio Popular), Rúben Guerreiro (Liberty Seguros/Feira/KTM) e Rafael Reis (Banco BIC-Carmim)

Sábado, 27 de setembro:
Prova de fundo de juniores (127,4 quilómetros): André Carvalho (EC Carlos Carvalho), Rui Oliveira (Bairrada) e Tiago Antunes (CC José Maria Nicolau)

Prova de fundo de elites feminina (127,4 quilómetros): Daniela Reis (Acreditar/AC Malveira)

Domingo: 28 de setembro:
Prova de fundo de elites (254,8 quilómetros): Rui Costa (Lampre-Merida), Sérgio Paulinho (Tinkoff-Saxo), Tiago Machado (NetApp-Endura), André Cardoso (Garmin-Sharp), Nelson Oliveira (Lampre-Merida) e José Mendes (NetApp-Endura)