* Enviado-especial ao Brasil
Tivesse a seleção portuguesa evitado as sucessivas armadilhas que montou a si própria, e esta seria uma crónica destinada a projetar o jogo dos oitavos de final, na terça-feira, em Salvador. Mas já se sabe que não é assim: serão os Estados Unidos a tentar travar o passo a esta Bélgica que, embora longe das maravilhas prometidas ao longo dos últimos dois anos, é uma das quatro seleções a terminar a fase de grupos com três vitórias.
A desta noite, no Itaquerão, foi tangencial, como as duas primeiras. Mas, mesmo tendo sido conseguida a jogar com dez durante toda a segunda parte, foi bem menos sofrida: mais que não fosse, o apuramento já estava garantido, e o primeiro lugar, que permitia evitar a Alemanha, dificilmente poderia fugir.
A confirmação veio logo nos instantes iniciais, com o golo da Rússia diante da Argélia a tornar ainda mais remota uma ultrapassagem dos argelinos, sobre a meta. Assim, restava à Coreia agarrar-se com unhas e dentes à sua última hipótese de apuramento, partindo para cima de uma Bélgica que poupava sete titulares em relação ao último jogo e dava os primeiros minutos a quatro nomes: Vandenborre, Lombaerts, Defour e Januzaj.
O plano era uma gestão tranquila do esforço, mantendo a chama acesa, e foi isso que aconteceu durante uns primeiros minutos de domínio e ocasiões repartidas. A mais flagrante, aos 26 minutos, viu Mertens disparar por cima da trave, só com o guarda-redes pela frente, depois de mais uma bola nas alturas ganha pela «afro» de Fellaini. Do outro lado, Courtois ia dando mostras de uma segurança invulgar, em especial ao desviar para canto um remate venenoso de Wook Kim (30 minutos).
Sem sofrer demasiado, a Bélgica passava ainda assim por alguns calafrios, um dos quais num lance em que Defour tirou a bola sobre a linha, após um canto. O médio do FC Porto, que fazia o triângulo do meio-campo com Dembelé (recuado) e Fellaini (na frente) estava a aparecer bem no jogo e a combinar com Mertens na meia esquerda quando de repente fez «tilt»: a entrada de pitons à perna de Wook Kim valeu-lhe o vermelho directo, mesmo para um árbitro de critério complacente, como o australiano Williams.
O disparate obrigou a Bélgica a um segundo tempo de esforço, pelo menos enquanto a Coreia teve entusiasmo e energia. Nesses 15 minutos, Courtois foi decisivo, e também afortunado, num cruzamento-remate que esbarrou na sua trave. Isto, para além de uns quantos cortes de Van Buyten ou Fellaini, em último recurso, davam a medida de uma Bélgica obrigada a encolher-se.
Mas, a partir dos 60 minutos, aconteceu o habitual: as substituições de Wilmots mexeram com o jogo, Origi voltou a confirmar toda a desinibição dos seus 19 anos, e ao mesmo tempo chegavam notícias do golo do empate da Argélia, que praticamente fechava as contas para a segunda posição. Assim, mesmo com um jogador a menos, a Bélgica conseguiu libertar-se das amarras, voltar a levar o jogo à área coreana, e acabar por dar a machadada final no jogo e no grupo, com um golo de Verthongen -talvez ligeiramente adiantado - em recarga a um belo remate de Origi.
Pouco mais restava para animar o jogo, à exceção da entrada de Hazard, que nos poucos minutos em que esteve em campo demonstrou que, esta noite, a Bélgica foi uma equipa que raramente teve de testar os seus limites. O teste fica agora marcado para Salvador, na terça-feira. E não será Portugal a fazê-lo.