*Enviado-especial ao Brasil

Nem o céu cinzento chumbo de Curitiba, num domingo que ameaçou chuva desde as primeiras horas, retirou o sorriso rasgado a Carlos Queiroz. O técnico português, que está na sua segunda fase final, depois de ter orientado Portugal em 2010, sente-se como peixe na água nestes ambientes: depois de ser sucessivamente cumprimentado por vários elementos do «staff» da FIFA, iniciou a conferência de imprensa de antevisão ao jogo com a Nigéria com uma operação de charme em vários idiomas.

A mensagem a passar era só uma: reforçar a ideia de que o Irão é a seleção com mais problemas estruturais, o verdadeiro «underdog» de todas as seleções deste Mundial. A tal ponto que mesmo antes da estreia, Queiroz e o seu capitão, Javad Nekounam, sublinharam o regresso a casa «de cabeça erguida» como um dos objetivos a conquistar no Brasil.

«Somos a equipa que enfrentou mais dificuldades fora do campo para estar aqui, as circunstâncias económicas e políticas criaram-nos mais problemas do que a qualquer outro. E por isso merecemos o respeito e a simpatia de todos os adeptos. Temos muito orgulho no nosso trabalho, apesar de todo o sofrimento, tanto no apuramento como na preparação. O Irão está aqui porque merece, e vai ter o privilégio de jogar pela honra e o orgulho de um povo. Depois, tentará dar-lhes tantas alegrias quanto possível», começou por dizer o técnico português.

Para vincar as diferenças, não hesitou em carregar nos contrastes, ao fazer o retrato do primeiro adversário, a Nigéria, que atualmente até tem um ranking FIFA mais baixo do que o do Irão: «É uma seleção cheia de estrelas, com jogadores de clubes como o Liverpool ou o Chelsea, orientada por um grande treinador e com experiência incomparavelmente superior, que neste tipo de provas é quase tudo. Tem uma enorme vantagem sobre nós e como o mundo espera grandes coisas de uma seleção africana, também tem muito mais responsabilidades», acrescentou, afirmando que a Nigéria chega ao Brasil com legimitidade para pensar em ser a primeira seleção africana a «chegar às meias-finais».

A uma pergunta do Maisfutebol Carlos Queiroz exprimiu assim o patamar de ambições da seleção iraniana, num grupo em que a Argentina parte com favoritismo claro: «É muito bom ver esta entrega, esta lealdade e paixão dos jogadores para com a sua seleção. Esta é a minha seleção, sinto-a como tal, há três anos e três meses. E ninguém é tão pequeno que perca sempre, ou tão grande que possa ganhar sempre», frisou.