O dia 3 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1. O Espanha-Holanda já foi ontem mas o primeiro ponto é mesmo para o
«day-after» do massacre ao campeão. Matematicamente, os espanhóis continuam a ter todas as hipóteses de seguir em frente. Mas a tal «depressão» em que caíram, e que Vicente Del Bosque aponta como razão principal para o descalabro da segunda parte, pode prolongar-se para lá do desastre de Salvador. A super Espanha já acabou? Pode ser que não. Mas convém recordar os sinais de alarme do último ano: derrota clara na final da Confederações perante o Brasil (3-0); época abaixo do normal para algumas unidades nucleares (Xavi e Iniesta). E, é claro, há o «caso Casillas». Todo o respeito pelo carisma e historial de Iker. Mas é tão evidente que Casillas já não devia ser o titular da seleção espanhola (De Gea, De Gea!) que nem será preciso puxar do argumento do golo sofrido na final da Champions.

2. Será que vai ser o Mundial das surpresas? Depois da Croácia ameaçar na abertura frente ao superfavorito Brasil, depois da Holanda esmagar a Espanha, o escândalo foi total no Arena Castelão: o Uruguai até estava a ganhar por 1-0, mas deixou-se apanhar por uma Costa Rica desconcertante. Em segunda parte exemplar do ponto de vista ofensivo, a seleção da CONCACAF mereceu por completo o triunfo, por 1-3. E com duas estrelas improváveis deste terceiro dia de Mundial: Navas, excelente guarda-redes, e o fantástico Campbell, que deu sopa aos uruguaios. Avançado cedido pelo Arsenal (jogou na Grécia, no Olympiakos, em 13/14), é rápido, atrevido, bom tecnicamente, imprevisível. Operou a reviravolta e ajudou à humilhação uruguaia (terá sido o mesmo bicho que mordeu espanhóis e uruguaios na segunda parte?). Quem disse que a Costa Rica ia ser o «patinho feio» do grupo D?

3. Não é tanto a derrota por 3-0 que é preocupante para Fernando Santos: é mesmo a quase completa incapacidade da Grécia de criar perigo e mostrar poder de fogo. Já se tinha notado esse problema nos jogos de preparação, passou a ser uma carência evidente desta seleção helénica. Por estranho que isso parecer, a derrota clara dos gregos frente à Colômbia até reforçou os méritos do trabalho do técnico português: só mesmo com muita competência tática e estratégica foi possível levar a Grécia a este ponto. Quanto à Colômbia, poucos se terão lembrado de Falcao para marcar três golos. Com Jackson no banco até aos 76, que luxo. Ah! E James, cujo talento imenso o futebol português tão bem conhece, pode muito bem ser uma das figuras individuais deste Mundial. Qualidade para isso não lhe falta.

4. O Inglaterra-Itália ainda está a começar em Manaus à hora de publicação desta crónica (23.30h, com jogo equilibrado e promissor até agora), mas ganha ainda maior interesse perante a surpreendente entrada da Costa Rica na lista de pretendentes aos oitavos. Se o D já era o «grupo da morte», com três campeões do Mundo, agora com o «outsider» Costa Rica a ser primeira grande surpresa da Copa, passou a ser o grupo-de-quatro-candidatos à qualificação. Fantástico!

5. Pode ser ingenuidade minha, mas não acredito que em jogos do Mundial haja resultados combinados. Não acredito, simplesmente. Em jogos amigáveis, em partidas nacionais, até em jogos de qualificação... ok. Mas em partidas de fases finais de Mundial, não consigo acreditar. Mas pronto, os especialistas da Interpol que investiguem isso.


«Do lado de cá» é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MFTotal. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook