O dia 6 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1.No
«day after» da humilhação, nem deu bem para começar a fazer uma análise mais a frio. A «maldição» que se abateu sobre a Seleção portuguesa desde o minuto 12 da partida com a Alemanha parece ter-se prolongado pelas horas e até pelo dia seguinte. Coentrão já disse adeus ao Mundial, Rui Patrício e Hugo Almeida também devem ser baixas, Pepe será castigado… Mudanças no onze para a vitória obrigatória em Manaus já não serão uma escolha: são uma necessidade. Scolari, quando quis dar «uma força» a Portugal, minutos depois da goleada 4-0, recordou que «no Euro-2014, também começámos com uma derrota, mas depois ganhámos os dois seguintes, qualificámos e fomos à final». E há dois anos, acrescento eu, Portugal arrancou o Euro-2012 com derrota perante a Alemanha. O problema é que o que aconteceu foi bem diferente. Para muito pior: perder por 4-0 era um risco que pensávamos já não correr a este nível. Portugal não tem a obrigação de ganhar a EUA e Gana. Mas tem, ah isso tem mesmo, a obrigação de deixar uma imagem muito mais positiva. Se isso significar a qualificação para os oitavos, tanto melhor.

2. Decididamente, este é o Mundial das reviravoltas: o 2-1 da Bélgica, depois de estar a perder 0-1 com a Argélia, já é a sexta do torneio e ainda só vamos na primeira jornada da fase de grupos. Os belgas reúnem uma espécie de consenso como possível «seleção-surpresa-que-se-não-for-será-desilusão». Uma equipa que junta Hazard, Witsel, Lukaku, De Bruyne e alguns outros talentos só pode ter qualidade. Mas a entrada nete Mundial não podia ser pior: primeira parte triste, Argélia mais positiva, a merecer a vantagem. No segundo tempo a maior qualidade belga veio ao de cima e a vantagem até podia ter sido maior. Fellaini e Mertens saíram do banco e resolveram. Ora, quem pode dar-se ao luxo de começar o jogo sem Fellaini terá que gerar fortes expetativas. Não sei se já repararam, mas se Portugal ainda for a tempo de ser segundo no grupo G, é bem provável que «leve» com esta Bélgica nos oitavos. Não é bom.

3. Dois jogos, quatro pontos, 180 minutos sem convencer. Há qualquer coisa que (ainda) falta a este Brasil para poder ser considerado, de forma tão clara, o principal candidato ao título. O que dará ao escrete esse estatuto será mesmo o fator casa. Os 180 minutos já jogados mostram um Brasil com sérias dificuldades de concretização e demasiado «Neymardependente» para criar desequilíbrios. Este jogo com o México mostrou ainda outra coisa: sem Hulk, as carências ofensivas são ainda mais evidentes. Solução Ramires-no lugar de Oscar-Oscar na frente não resultou. Bernard entrou com vontade, mas ainda é cedo para assumir. Palmas para o México: belo jogo no Castelão, vontade enorme de provocar escândalo, sobretudo nos remates de longe, a dar trabalho inesperado a Júlio César. E uma vénia a Ochoa, exibição monumental, talvez a melhor do Mundial, até agora. A «culpa» de Scolari ter tido hoje a primeira não-vitória em jogos de mundiais ao comando do Brasil foi mesmo do fantástico guarda-redes mexicano.

4. México a jogar de vermelho contra o Brasil? Mas a que propósito? O verde da camisola e o branco dos calções são marcas identificadoras da seleção mexicana e em nada colidiriam o amarelo e azul do escrete. A necessidade de promover comercialmente os equipamentos tira identidade às equipas. Já tinha sido assim no Espanha-Holanda (uma pena que os holandeses tenham festejado aquele jogo histórico a atuar… de azul, vencendo uma «Roja» que se exibia de branco). Não me revejo. Mundial também é identidade. E estes pormenores, numa perspetiva de registo histórico, são mais relevantes do que parecem.

5. Excelente primeira jornada (com o dia a ter já o arranque da segunda com o triunfo do Brasil sobre o México). Ao contrário do que muitos temiam, a qualidade do Mundial-2014 é muito aceitável, acima, até, das expetativas. Bons jogos, reviravoltas no marcador, média de golos estimulante: até ao Rússia-Coreia do Sul, que decorre em Cuiabá, tinham-se marcado 47 golos. em 16 jogos, quase, quase três golos por partida. Seleções de que gostei mais até agora: Alemanha (favorita número um depois da primeira jornada), HolandaColômbia, México, Costa Rica e, curiosamente, duas que perderam: Inglaterra (tanta qualidade do meio-campo para a frente!) e Bósnia (grande primeira parte frente à Argentina). Desilusões: Uruguai, Espanha (na segunda parte) e Portugal, claro. Pode ser que a segunda jornada desmonte as ideias criadas na ronda inaugural. Dava jeito.

«Do lado de cá»
é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MFTotal. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.