O dia 12 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1. Este
Brasil sem Neymar não era candidato ao hexa. Pronto, falei. É só ver o escrete e dá logo para perceber. A equipa de Scolari não massacra, não encanta, tem dificuldade até de pegar no jogo. É ótimo ter um dos melhores jogadores do Mundo (daqui a pouco tempo, talvez venha ser «o melhor»). Mas convinha que este Brasil mostrasse mais alternativas, mais rasgo, mais talentos desequilibradores para lá da sua Joia. Frente aos Camarões, os mesmos problemas dos dois primeiros jogos: pouca magia, demasiada previsibilidade nos processos, sempre à procura de Neymar, que de facto continua a resolver e é já o melhor marcador da prova (quatro golos, o último deles foi o centésimo deste belo Mundial). No Recife, Croácia e México lutaram pela segunda vaga. Duelo equilibrado, mais um grande jogo,  Herrera a espalhar competência, quase a assinar golaço em remate à barra. Bastava o empate ao México, mas a experiência de Rafa Marquez e Guardado (e ainda um terceiro golo de J. Hernandez) selaram o apuramento dos «mariachis». Pela segunda vez seguida, a Croácia fica-se pela fase de grupos de uma grande competição internacional, apesar de exibir qualidade (tinha já sido assim no Euro-12, em grupo com Espanha e Itália).

2. Não há dúvidas: a Holanda é mesmo candidata ao título. Três jogos, três vitórias, percurso raro em fases de grupos, mesmo nas seleções mais fortes. Frente ao Chile, a equipa de Van Gaal esteve melhor do que com a Austrália e nem precisou de ser tão demolidora como na segunda parte com Espanha. Chile com muito mais posse (68% ao intervalo!), a criar ocasiões, Alexis Sanchez a dar trabalho à defesa holandesa, mas a laranja mostrou que, quando precisa, sabe defender bem. Sem Van Persie (castigado), a Holanda quase nem acusou a ausência da sua principal referência ofensiva e só não marcou mais cedo porque Bravo fez jus ao nome na baliza chilena. Mas os holandeses chegaram mesmo ao triunfo, com golos «saídos do banco». Leroy Fer e Depay marcaram de bola parada (cabeceamento após canto) e contra-ataque. E que oitavos prometem ser: Holanda-México! Vou querer ver.

3. A Espanha caiu com dignidade. Depois das duas derrotas surpreendentes perante Holanda e Chile, a Roja encheu-se de brios e despediu-se do Mundial-2014 com um triunfo claro, por 3-0. O caminho foi aberto por David Villa, em golo de nota artística elevada. Bela maneira de se despedir da seleção, em momento sublimado após a substituição: sentou-se no banco e chorou. Alma e coração de um avançado que disse adeus em tento de calcanhar, selando estatuto de «melhor marcador de sempre» da seleção espanhola. A Austrália mostrou menos argumentos do que havia revelado com Chile e Holanda. Nem tudo, afinal, está posto em causa neste Mundial surpreendente: até na queda, a Espanha foi grande.

4. Ainda na ressaca do empate frustrante de ontem de Portugal sobre os EUA: acredito bem mais numa vitória clara da Alemanha sobre os EUA do que num triunfo folgado de Portugal sobre o Gana. Klinsmann/Low? Esqueçam. Não é por aí. Não acredito em empate conveniente no Alemanha-EUA. O problema é mesmo como Portugal (não) está a jogar. Infelizmente, tudo aponta para que os 4-0 que levámos da Alemanha vão ser decisivos. Uma derrota mais... normal nessa partida deixaria tudo em aberto. Descontrolo fatal. Não será muito prudente estar à espera de um «milagre» na quinta-feira. Mais inteligente será identificar o que falhou: e foi tanto. Aquele meio-campo, simplesmente, não funcionou. William deveria ter sido titular e nem é daquelas sentenças fáceis de se fazerem depois do mal estar feito. Mesmo Ruben Amorim, pelo que mostrou em época de grande nível no Benfica, poderia ter dado mais pulmão ao meio-campo cansado de Portugal. No resto, sobretudo uma sensação desconfortável de que, mesmo quando as coisas corriam mal, era comum que a Seleção deixasse um perfume de qualidade e bom futebol. Não foi o caso. Não foi mesmo. Depois do humilhante 4-0 com a Alemanha, o jogo com os EUA até podia ter corrido mal. Mas Portugal tinha a obrigação de ter assinado uma exibição mais poderosa, mais personalizada. Assim, não.

5. Melhores sinais do Mundial até ao arranque da terceira jornada da fase de grupos: média fantástica de golos (acima de qualquer expetativa): bons jogos; as reviravoltas, que não param e até fizeram; Luis Suarez; o voo de Van Persie após centro perfeito no Espanha-Holanda; a Costa Rica, por quase tudo; o Chile; o ataque da Colômbia. Ainda a França, fortíssima candidata. A Argélia, que surpresa. O México e sua exemplar organização. O golo de Tim Cahill à Holanda. A segunda parte do Alemanha-Gana. E Ochoa, claro, a defender tudo no Brasil-México. Desilusões do Mundial até agora: Espanha, Portugal, ineficácia da Inglaterra (não o que jogou, que até foi bem interessante), as exibições do Brasil, as exibições da Argentina, as arbitragens. Esperemos que a terceira jornada mantenha este nível. Grande Mundial.

«Do lado de cá»
é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MF Total. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.