O dia 9 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1. A
Costa Rica, quem diria? Parece que vou ter mesmo que escrever isto todos os dias (de preferência, até 13 de julho): que grande, grande Mundial! Mais uma surpresa, mais um bom espetáculo (ainda que já tenhamos visto bem melhores desde 12 de junho), mais um favorito em sérias dificuldades perante um «outsider». São estas coisas que dão dimensão e fascínio a este belo desporto que é o futebol. A seleção da América Central fez, perante a Itália, um jogo imaculado. Não encheu o olho, mas exibiu qualidade e inteligência tática. Mesmo estando a ganhar 1-0, soube trocar a bola, não caiu na tentação de apenas sacudir o perigo. Nunca foi massacrada pelos transalpinos e apanhou a «Azurra» no jogo que, habitualmente, os italianos gostam de fazer aos outros. Os costa-riquenhos mereceram inteiramente o triunfo e até se podem queixar de um erro grosseiro do árbitro, em lance em que Chiellini faz grande penalidade clara sobre Joel Campbell. Como foi possível não ver aquilo?? Felizmente para o decorrer do jogo, logo a seguir a Costa Rica marcou, facto que de algum modo minimiza o impacto deste erro. E Byan Ruiz: grande golo e grande jogo. Parabéns, Costa Rica. Aconteça o que acontecer a partir de agora, a equipa de Jorge Luis Pinto é já uma das grandes histórias do Brasil-2014.

2. Sim, confirma-se: a França é mesmo candidata ao título. A dúvida persistiu até ao jogo com as Honduras, diminuiu depois desse 3-0, mas depois desta demonstração de poder de fogo e de grande capacidade ofensiva, passou a certeza. A par de Alemanha, Holanda e Colômbia, a França revela ter seleção com os melhores argumentos ofensivos deste Mundial. Valbuena (que craque!), Matuidi bem a construir, Giroud (nem sequer foi titular no primeiro jogo) a concretizar. Cuidado com eles, têm tudo para irem muito longe.

3. Está visto: Portugal tem mesmo que combater a «Lei de Murphy», este domingo, em Manaus. Seria difícil conceber um enquadramento tão negativo para a nossa Seleção, antes do segundo jogo. Dúvidas sobre a preparação para o calor e humidade de Manaus. Viagem de São Paulo à Amazónia com pouco tempo de antecedência. As baixas (pelo menos três lesões e um castigo, em relação ao 11 com a Alemanha), agora também com a dúvida em torno da recuperação de Bruno Alves. E a derrota, claro. A goleada, as feridas da humilhação, a chuva de críticas, a contestação a opções do selecionador, a condenação da atitude de Pepe (mais do descontrolo emocional, não tanto do ato em si). A urgência de vencer, perante adversário que arrancou bem, com uma vitória, que poderá assim encarar com mais tranquilidade o jogo. Tudo mau? Pois, parece que sim. O que fazer, então? Combater, de frente, sem medo, a tal «Lei de Murphy». O que podia estar a correr mal parece que está a acontecer de modo ainda mais ameaçador. Mas voltemos ao básico: Portugal, em futebol, é melhor que os EUA. Ponto. Ganhem lá isso.

4. O «filme repetido» da Inglaterra começa a ter contornos difíceis de explicar: porque é que uma seleção com tanta qualidade, um país com tanta tradição futebolística, falha quase sempre nos Mundiais e no Europeus? Neste caso, o mistério até é mais decifrável. Esta Inglaterra tem tudo para ser uma das melhores seleções europeias dentro de três/cinco anos. Basta olhar para jovens talentos como Sterling. Mas ainda foi cedo para brilhar em 2014. A questão da experiência foi crucial nas derrotas (mas sempre com excelentes exibições) perante Itália e Uruguai, naqueles que terão sido os dois melhores jogos deste Mundial até agora. Perder com qualidade? Pode acontecer e foi isso que sucedeu a Inglaterra. 

5. O fantástico exemplo de Luis Suarez no renascimento do Uruguai (sem ele, a «celeste» foi uma das piores equipas da primeira jornada, com ele a «celeste» está a ser das melhores na segunda jornada) prova que um jogador pode mesmo transformar uma equipa. Especialmente quando estamos perante o melhor marcador da liga inglesa e um dos dois melhores (a par de Cristiano Ronaldo) de todas as ligas na Europa. Se é verdade que a força de uma seleção vale essencialmente pelo coletivo, é também verdade que a diferença, em grandes competições, continua a ser feita pela excelência individual. Ainda bem. 

«Do lado de cá» é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MFTotal. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.