O dia 8 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1. O golo de
Tim Cahill à Holanda, o golo em voo de Van Persie à Espanha, os golos de Robben (já são três, qual deles o melhor?), a exibição monumental de Ochoa no Brasil-México, o Inglaterra-Itália, todo ele um hino ao futebol e digno de final de Campeonato do Mundo logo à primeira jornada, o fantástico Uruguai-Inglaterra desta noite. O entusiasmante Joel Campbell, a eficácia cruel da Alemanha sobre Portugal, a França a prometer voltar a ser candidata, o Chile a condenar de vez a ainda campeã Espanha, o futebol positivo da Colômbia, os golos soberbos de Suarez. Três golos por jogo, grandes espetáculos, exibições surpreendentes. Abençoado Mundial, este, e ainda só passou uma semana. Um pouco como Valdano um dia definiu este período de Campeonato do Mundo e que o livro recentemente publicado pela redação do Maisfutebol destaca na contracapa: «Bem-vindos ao mês em que todos os dias é domingo».

2. O Uruguai com Luis Suarez é mesmo outra coisa. Mas, sim, terá havido displicência do conjunto de Tabarez perante a Costa Rica. Só pode. Quem viu a seleção celeste perder claramente para os costa-riquenhos e quem viu hoje frente à Inglaterra, sobretudo na primeira parte e nos primeiros minutos do segundo tempo, percebe a ideia. Golos soberbos do «pistoleiro» do Liverpool, com Cavani a ajudar à festa. Uruguai renascido, Inglaterra com novo estigma de derramar qualidade mas… tender ao fracasso nos Mundiais. Rooney quebrou o enguiço, marcou finalmente, mas não chegou. Se a Costa Rica perder com Itália, ainda há uma réstia de esperança, mas a Inglaterra parece talhada para as «vitórias morais». Jogo fantástico, mais um. Podem chamar-lhe «grupo da morte», é justo.

3. Confirma-se: vale a pena ver a Colômbia. Futebol positivo, argumentos no ataque como muito poucas seleções têm neste Mundial (talvez só Alemanha e Holanda com nível superior e França e Argentina em plano idêntico ou até um pouco abaixo). 3-0 à Grécia, agora 2-1 à Costa do Marfim. James outra vez em grande (pode mesmo ser uma das figuras individuais deste Mundial). Quintero entrou e marcou pouco depois, em triunfo com sabor a dragão. Hoje nem foi preciso tirar Bacca e Jackson do banco. A Costa do Marfim vendeu cara a derrota e ainda está na luta, depois do triunfo da primeira jornada sobre o Japão. Yaya Touré com mais uma demonstração de qualidade e uma ideia geral sobre esta seleção africana: um Drogba dos melhores anos colocaria esta Costa do Marfim pelo menos nos oitavos. E as lágrimas vertidas por Geoffrey Serey enquanto o hino costa-marfinense tocava (pela emoção de jogar a este nível e não pela morte do pai, como correu durante horas...) ficarão para a história deste evento. Mundial também é isto.

4. À hora da publicação desta crónica, Japão e Grécia disputavam a primeira parte do jogo de fecho da segunda jornada do grupo C. Do que já deu para ver do duelo de Natal, a questão será mesmo quem fica com a segunda vaga, depois do domínio colombiano. Costa do Marfim, japoneses e gregos dão mostras de terem hipóteses não muito distintas de chegarem lá. O primeiro jogo da Grécia foi para esquecer. Fernando Santos pediu mais paixão aos seus jogadores. Pelo menos, o início do encontro com o Japão mostrou mais acerto e equilíbrio. Com Kagawa fora do onze, o Japão de Zaccheroni tentou jogar na surpresa. Está a ter mais bola, mais posse, mais remates. Mas as saídas rápidas da Grécia podem vir a ser produtivas.  

5. Comecei este
«Do lado de cá» a falar das muitas coisas boas que este Mundial nos está a revelar. Mas há também já duas desilusões confirmadas: a Espanha, claro, e ainda os Camarões. Nenhuma obrigação de sequer pontuar no difícil grupo A (Brasil, México, Croácia). Mas a forma como foi goleado pela Croácia (0-4), com uma agressão inacreditável de Song (um murro pelas costas que Pedro Proença viu bem e castigou com vermelho) e discussão e empurrões em pleno relvado entre dois jogadores da mesma equipa. Que saudades de Roger Milla e dos Camarões de 90 e 94!

«Do lado de cá» é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MFTotal. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.