O dia 14 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1.
A Argentina lá ganhou à Nigéria. Mas, na verdade, continua a não convencer como «candidata plena» ao título. Se o Brasil é muito dependente do talento de Neymar, então a Argentina é mesmo muito dependente da magia de Messi. Mais dois golos de génio, pormenores que fazem a diferença, sobretudo quando o coletivo não rende o que era exigido. A «Pulga» fez quatro golos seguidos pela Argentina em Mundiais (o segundo à Bósnia, o golo ao Irão, os dois primeiros à Nigéria), algo que não acontecia desde… Maradona, lá está. Mas, sejamos justos, hoje a Argentina não foi só Messi: hoje a «albiceleste» atacou um pouco mais, beneficiando de menor rigidez nigeriana (quando comparada com bósnios e iranianos). Lavezzi mostrou rasgos, Rojo marcou, Di Maria podia ter assinado golaço. Três jogos, três vitórias: as primeiras duas muito sofridas, é certo, e as três à tangente (2-1; 1-0; 3-2). Claro que a Argentina é candidata, mas ainda mais certo do que isso é que Messi é sério pretendente a melhor marcador da prova e a melhor jogador do Mundial.

2. Bósnia, um caso de puro desperdício. Grande primeira parte com a Argentina, justificaria estar a ganhar ao intervalo, mas perdendo com a «albiceleste», graças ao tal génio de Messi. Surpreendida pela Nigéria no segundo jogo, mas de novo a mostrar bom futebol. Já sem hipóteses de apuramento, a seleção europeia venceu claramente o Irão. Menos intenso e menos concentrado do que com a Argentina, o conjunto de Carlos Queiroz (que confirmou hoje o adeus ao cargo) perdeu a oportunidade de fazer história (um triunfo garantia-lhe o apuramento), mas se nos primeiros dois jogos os iranianos mereceram elogios pela organização e disciplina tática, isso não sucedeu desta vez. Bósnia mais fluida, mais perigosa. Irão a dar demasiados espaços, macio quando era preciso procurar o golo. Este acabou por surgir quando o Irão já perdia por 0-2, mas na jogada seguinte… 1-3. Irão ganhou palmarés, Bósnia perdeu enorme ocasião de chegar aos oitavos. Merecia mais que a Nigéria.

3. A França cumpriu, ganhou o grupo e nem precisou de ganhar ao Equador. Deschamps assumiu a gestão, tirou meia equipa, percebeu que iria com relativa facilidade assegurar o primeiro posto e evitar a Argentina. Mesmo assim, na segunda parte teve hipóteses de vencer o jogo, sobretudo com um belo remate de Benzema, tirando partido da inferioridade numérica do adversário. Espera à França a Nigéria, nos oitavos, com claro favoritismo gaulês. O Equador ainda sonhou com o triunfo, mas com menos passou mesmo a ser utopia. Em Manaus, Shaqiri festejou três vezes (segundo «hat-trick» deste Mundial, depois de Muller frente a Portugal). A Suíça mereceu o segundo lugar e aplicou 3-0 às Honduras, talvez a seleção mais fraca deste mundial. Único grupo com dois apurados europeus até agora, talvez tenha mostrado ser também o menos competitivo.

4. Pedro Proença fez duas excelentes arbitragens no Camarões-Croácia e Japão-Colômbia. Segunda melhor nota da segunda jornada, bem ontem também, a ver o penálti que deu no primeiro golo colombiano. Com Portugal quase fora da prova e as seleções europeias em queda, uma terceira atuação de nível alto (talvez nos «quartos») pode abrir conjugação muito favorável para uma presença na final de 13 de julho. Se a final for sul-americana (Brasil-Argentina, por exemplo), isso será ainda mais provável. Um pouco menos se for uma final europeia (Alemanha-Holanda, por exemplo). Ainda é só um cenário, mas o quadro que está a criar-se nesta fase do Mundial favorece as hipóteses do árbitro português. É possível.

5. Só podemos focar-nos no que é controlável. Portugal vai jogar com o Gana, em Brasília. Não estará no Alemanha-EUA. Por isso, mais importante do que gastar energias a fazer contas e criar ansiedade pelas curtíssimas probabilidades que a conjugação de que precisamos para passar nos oferecem, o fundamental será aparecer bem no Estádio Nacional Mané Garrincha. Fazer o que, até agora, ainda não foi feito pela nossa Seleção no Brasil-14: jogar bem e ganhar. Em princípio, isso não chegará para atingirmos os oitavos. Mas se der para minimizar a péssima imagem deixada nos dois primeiros jogos, se der para criar algo construtivo para a campanha do Euro-2016, se der para melhorar o inacreditável saldo de 2-6 que temos em golos, já será importante. Não fica atingido o essencial, mas é muito importante. Portugal começou muito mal esta campanha brasileira, mas as reações à humilhação com a Alemanha foram ainda piores do que as feridas da derrota. O Uruguai perdeu 1-3 com a Costa Rica e ainda passou; a Grécia do nosso Fernando Santos levou três da Colômbia e conseguiu o apuramento nos descontos do terceiro jogo. Na minha opinião, pior do que os 0-4 com a Alemanha foi a atitude no jogo com os EUA. Portugal até «começou» aquele jogo a ganhar. Havia que ser mais dominante, mais positivo. Mas o estado físico e anímico que a seleção revelou foi preocupante. Estou muito curioso de ver que tipo de resposta será capaz Portugal dar, perante um Gana tecnicamente muito dotado e com uma alegria e entrega muito maiores (pelo menos nas duas primeiras jornadas). E agora? Paulo Bento garantiu que «aconteça o que acontecer com o Gana» não se demite. E acho que faz bem: tem contrato, sente-se em condições de ajudar a Seleção até 2016 e, a menos que a FPF decida em contrário, o cargo não está vago.

«Do lado de cá»
é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MFTotal. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.