O dia 10 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1. Para quem ainda duvidasse, o Alemanha-Gana mostrou que o grupo de Portugal é mesmo o mais forte deste super Mundial (com o grupo Costa Rica, Itália, Inglaterra e Uruguai muito perto, claro). Depois do Itália-Inglaterra e o Uruguai-Inglaterra era difícil, mas este Alemanha-Gana merecerá mesmo o estatuto de «melhor jogo do Mundial até agora» (graças a uma segunda parte espetacular, com quatro golos em 20 minutos) . Quatro bons golos, muita emoção, duas equipas com características completamente diferentes, a surpreenderem-se mutuamente. Qualidade, técnica, superação, espetáculo. Tudo bom. O Gana provou que a derrota da primeira jornada com os EUA foi injusta e enganadora. Mostrou ter equipa muito técnica, com bons executantes, e muito física também. A Alemanha surgiu bem menos demolidora do que no jogo com Portugal. A «gerir» demasiado cedo o provável primeiro lugar no grupo G. Com Klose no banco, faltou quem, na primeira parte, concretizasse. Menos pressionante, menos dominadora, mas mesmo assim forte, a Alemanha teve apesar de tudo o mérito de, depois de sofrer o 2-1 e com um Gana por cima do jogo, ainda fazer o 2-2, com as entradas em campo de Klose (golo histórico, a igualar o Ronaldo brasileiro) e Schweinsteiger. Mas mesmo assim forte. O empate é justo, premeia a ousadia ganesa e a resposta final da Alemanha.

2. Mais do que se preocupar com fazer contas, com as baixas ou com o clima impossível de Manaus, Portugal deve preocupar-se consigo próprio. Por certo que os jogadores viram ao pormenor o EUA-Gana. E já estarão a par das enormes dificuldades que norte-americanos e ganeses irão provocar nos dois jogos que faltam a Portugal no grupo G. O empate no Alemanha-Gana foi bom ou mau? Pelo menos, «obriga» a Alemanha a não perder com os EUA. E para Portugal, um ponto do Gana não será assim muito ameaçador, no cenário de que a nossa Seleção só entrará nas contas se fizer quatro ou seis. Sejamos claros: perante a eficácia que os EUA revelaram com o Gana e perante a excelente exibição do Gana com a Alemanha, Portugal só tem um caminho: fazer dois grandes jogos para sonhar com o apuramento. Cometer menos erros que no primeiro jogo. Ter mais controlo emocional. Ser mais equilibrado. Perante os EUA,
muita paciência. Frente ao Gana, ainda mais técnica e coração que esta excelente seleção africana (de longe, a melhor do seu continente neste Mundial). Está visto: só vamos lá (aos oitavos, pelo menos) com Gana. Mesmo muita gana.

3. Pois é, o primeiro jogo, com a Bósnia, já tinha denunciado problemas sérios na dinâmica da Argentina. E não foi só a tal falha de sistema que o próprio Sabella reconheceu, ao alterar a equipa da primeira para a segunda parte dessa partida no Maracanã. O encontro desta tarde, com o Irão, voltou a mostrar uma Argentina longe de encantar, longe de massacrar, longe de golear. Num pragmatismo ainda mais acentuado do que o que mostrou frente à Nigéria, o Irão de Carlos Queiroz até esteve perto de marcar primeiro, próximo do intervalo. E voltou a estar perto do 0-1, na segunda parte (Reza só não marcou porque Gago evitou a tempo). Mas uma vez mais a força… dos mais fortes fez-se sentir: penálti claro de Zabaleta sobre Dejagah, como é que o árbitro sérvio (o mesmo que se apressou a marcar penálti de João Pereira sobre Gotze, por muito menos, no Alemanha-Portugal) não viu aquilo? Quando quase todos pensavam que ia dar mesmo 0-0, o génio de Messi apareceu para resolver, com um golo fantástico. A «Pulga» não está bem, andou quase todo o jogo desaparecida, mas os jogadores de eleição são assim: podem resolver a qualquer momento. Foi que valeu, por duas vezes, a uma Argentina dececionante, perante Bósnia e Irão. Tão perto esteve Carlos Queiroz de fazer História!

4. À hora de publicação desta crónica, Bósnia e Nigéria fechavam a segunda jornada do grupo F. O duelo de Cuiabá, perto da meia-hora de jogo, mostrava um jogo equilibrado e já um golo mal anulado aos bósnios (mais um erro de arbitragem neste Mundial): Dzeko não estava em fora de jogo. No primeiro encontro, a Nigéria desiludira perante o Irão (0-0) e a Bósnia perdeu, mas apresentou-se francamente bem perante a Argentina, sobretudo na primeira parte. Com os argentinos já apurados, a segunda vaga deste grupo poderá recair em qualquer dos outros três pretendentes.

5. A exibição impressionante da França, ontem à noite, sobre a Suíça, mostrou três coisas. A primeira é que a tese segundo a qual este está a ser «o Mundial das seleções da América Central e do Sul» é um pouco exagerada (então e a Alemanha? E a Holanda? E agora a França?). A segunda aponta para uma coincidência que não deixa de causar algum espanto: três dos jogos com mais golos desta prova aconteceram no mesmo estádio, o Arena Fonte Nova, em Salvador. Espanha-Holanda, 1-5; Alemanha-Portugal, 4-0; França-Suíça, 5-2. E ainda há uma terceira conclusão a tirar: a seleção de Deschamps, que esteve tão perto de falhar a presença no Brasil (perdeu a primeira mão do playoff na Ucrânia por 2-0 e virou em cima da hora para 3-0 em casa), surge como uma três equipas (a par de Alemanha e Brasil, embora por razões bem diferentes) mais apetrechadas para sonhar com o título a 13 de julho. Defesa sólida, rapidíssima a sair para o contra-ataque, processos bem estudados, várias soluções para a concretização, banco quase tão bom como o onze. Muito perto da definição de uma seleção ideal, portanto. 

«Do lado de cá» é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MFTotal. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.