O dia 15 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1.
Não foi nesta partida em Brasília que Portugal comprometeu a passagem aos oitavos. Exigir que ganhássemos por três ou quatro ao Gana (sendo que a Alemanha, por exemplo, empatou 2-2) não era razoável. «Razoável», isso sim, seria não termos levado aqueles inacreditáveis 4-0 da Alemanha (uma derrota «normal» de 2-1, 3-1 ou 2-0 abriria para a terceira jornada um quadro muito mais realista), sobretudo se tivermos em linha da conta que o primeiro critério de desempate é a diferença de golos. A análise de tudo o resto é condicionada por esta realidade. Quase toda a presença de Portugal no Brasil-14 foi uma história de falhanço, coração nas mãos, sentimento de frustração. Mesmo os quatro golos apontados (dois aos EUA, dois ao Gana) tiveram sabor amargo, nem foi possível festejar muito. Em três jogos, uma vitória (de Pirro…), um empate e uma derrota. Goleada sofrida na estreia, empate depois de estarmos a ganhar aos 5m no segundo jogo; triunfo com lágrimas no último encontro. Quase tudo mau, portanto. Hoje foi bem melhor do que nos primeiros dois jogos, mas isso era o mínimo, tão maus foram os primeiros dois desempenhos. A resposta foi digna, ainda deu para ganhar, mas o essencial voltou a falhar. Perante o triunfo da Alemanha por 1-0 sobre os EUA, as oportunidades que Portugal conseguiu concretizar diante do Gana tornaram possível o que parecia ser impossível. Mas a concretização voltou a falhar, o desperdício foi demasiado (só Ronaldo, teve oportunidades para que o triunfo fosse de 4-1, pelo menos). A imagem ficou um pouco mais retocada, mas a impressão final continua a ser negativa.

2. Foi a melhor meia hora de Portugal no Brasil-14 (também não era difícil…). Os primeiros 30 minutos frente ao Gana mostraram uma Seleção positiva, ofensiva, a querer marcar, a explorar os flancos, a rematar de longe, a sonhar com o golo das mais diversas maneiras. Ronaldo atirou à barra logo aos 5 minutos, Portugal mandava, rapidamente se percebeu que a nossa Seleção estava em cima e com muito mais condições de vencer a partida do que o Gana. Africanos irreconhecíveis, a jogar muito menos do que nos dois primeiros jogos, pareciam até outra equipa, que não aquela que na segunda parte com a Alemanha encantou com futebol entusiasmante, que por pouco não vencia a poderosa seleção germânica. O golo português adivinhava-se e surgiu de forma pouco ortodoxa, com «oferta» de Boye. Portugal quis mais, esteve perto do segundo, mas na verdade já não conseguiu manter até ao intervalo o mesmo andamento da primeira meia hora. Mas a segunda parte não confirmou os bons sinais da primeira meia hora. Péssima entrada de Portugal na segunda etapa. A Seleção entrou desconcentrada, sem conseguir manter os níveis de organização e construção dos primeiros 30 minutos. O Gana agradeceu, começou a acreditar no apuramento, fez o empate. Portugal podia ter-se embalado com o golo de Muller no Recife, mas nem teve tempo para isso, com o golo de Gyan em Brasília. Ainda deu para chegar ao 2-1, mas terá sido mesmo o golo mais triste da carreira de Cristiano Ronaldo (mas a valer mais uma entrada para a história, como primeiro português a marcar em três mundiais diferentes). E aquela lesão de Beto, a obrigar Eduardo a entrar, foi o auge de uma sina de lesões e problemas físicos nos três jogos de má memória de Portugal neste Mundial. Um rescaldo com mais tempo de perspetiva e uma análise do que poderá ser a Seleção pós Brasil-14 fica para a crónica de amanhã.

3. O triunfo da Alemanha sobre os Estados Unidos é mais uma prova de que nunca é bom princípio acreditar em teorias de conspiração. O golo de Muller foi aos 54 minutos. Portugal, na altura, ganhava por 1-0 e tinha muito tempo para concretizar «o milagre». Mas o que aconteceu logo a seguir foi o golo do Gana. Não houve milagre, de facto, mas isso não teve nada a ver com um tão temido «arranjinho» entre Joachim Low e Jurgen Klinsmann, velhos amigos, antigos parceiros de equipa técnica. A Alemanha fez por ganhar por mais, os EUA podiam até ter empatado no fim. Esqueçam o Recife. O problema, para Portugal, foram Salvador e Manaus.

4. Sim, ainda houve mais dois jogos depois da conclusão do «nosso» grupo G. A Bélgica já estava apurada. A Rússia procurava ultrapassar a Argélia na segunda vaga. Os belgas geriram com a Coreia do Sul (talvez com as Honduras, uma das das seleções menos interessantes do Mundial), os argelinos voltaram a surpreender, arrancando um empate sobre uma Rússia dececionante. Slimani, avançado do Sporting, voltou a marcar e foi o herói do apuramento, em salto vitorioso para o empate. Mas saiu a fava à Argélia, num duelo com a Alemanha que talvez seja o mais desequilibrado dos oitavos. A Bélgica defronta os EUA e terá que jogar mais para não ser surpreendida. 

5. O castigo de nove jogos e quatro meses a Luis Suarez (com proibição de exercer qualquer atividade futebolística durante a suspensão) é exemplar. Prova que no futebol não vale tudo. Suarez é um craque, um dos melhores concretizadores do futebol atual. Foi o melhor marcador da Premier League, um dos dois melhores das ligas europeias, a par de Cristiano Ronaldo. Sem ele, o Uruguai perdeu com a Costa Rica e parecia condenado a dizer adeus bem cedo ao Mundial. Com ele, o Uruguai renasceu e ainda foi a tempo de se qualificar. Mas além de ser um «pistoleiro» capaz de «matar» o adversário pelas melhores razões, com os golos fantásticos que marca, Luis Suarez é, de facto, um jogador com um comportamento disciplinar muito pouco recomendável. Perante o histórico que já tinha (já cumprira sete jogos na Holanda e dez em Inglaterra), a «mordidela» a Chiellini ganha especial gravidade. Uma pena, ver um avançado deste calibre pecar de forma tão grave na questão disciplinar. É caso para dizer que, com Suarez, dá Deus nozes a quem… tem dentes a mais.

«Do lado de cá»
é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MFTotal. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.