Análise integrada no projeto coordenado pelo jornal inglês «The Guardian», que reúne publicações de todos os países das seleções presentes no Mundial 2018 e que tem mais uma vez o Maisfutebol como representante português.  Nos próximos dias, até à entrada em cena da equipa das quinas, traçamos o perfil aos três adversários da fase de grupos.

A Roja sorri de novo. Depois da catástrofe do Mundial 2014 e das derrotas no Euro 2016, a Espanha reagiu no último ano e chega à Rússia a parecer-se um pouco mais com a equipa que venceu três grandes competições seguidas entre 2008 e 2012. Julen Lopetegui, que sucedeu a Vicente del Bosque depois do Euro 2016, revitalizou a equipa sem ter de começar tudo de novo.

É extraordinário que a Espanha tenha voltado ao bom caminho com a mesma base que tinha quando atingiu o seu ponto mais baixo. Oito dos jogadores que estavam na equipa que foi eliminada pela Itália no Campeonato da Europa desempenharam um papel fundamental no apuramento para a Rússia (David de Gea, Sergio Ramos, Gerard Piqué, Jordi Alba, Sergio Busquets, Andrés Iniesta, David Silva e Álvaro Morata).

É provável que sete deles estejam no onze inicial quando começar o Mundial, faltando apenas Morata, que nem teve lugar nos 23 convocados. As posições seguintes serão provavelmente ocupadas por Koke e Thiago Alcântara (que também faziam para parte do plantel no Europeu de França), Dani Carvajal (que estava lesionado), Isco e Diego Costa. Por outras palavras, a linha da última década mantém-se intacta com Ramos, Iniesta e Silva. Esse trio está nisto desde a vitória no Euro 2008 em Viena.

Ao longo do último ano, a Espanha rejuvenesceu, mantendo ao mesmo tempo o estilo de jogo de sempre. Embora Lopetegui vá sendo flexível, a equipa continua a valorizar uma coisa sobre todas as outras: a bola. Tudo em torno da bola. O seu estilo de passe mantém-se vivo graças a um iluminado grupo de médios: Busquets, Thiago, Iniesta, Isco e Silva.

O único ponto de discussão é na frente. David Villa e, em menor escala, Fernando Torres, foram os únicos avançados que encaixaram bem no tiki-taka da Espanha. É uma equipa tão contra-cultura que é quando usa um falso avançado escondido entre os médios, como Cesc Fabregas em tempos ou agora Marco Asensio, que joga ao seu melhor nível.

Como Diego Costa não podia jogar pelo At. Madrid até janeiro, foi Morata a referência na frente de ataque depois do seu explosivo início de época no Chelsea. Mas o jogador nascido em Madrid pareceu entrar em queda mais ou menos ao mesmo tempo em que Costa começava a reaparecer. Costa, no entanto, não conseguiu encaixar. Ele tem dificuldade em envolver-se num jogo que flui passe após passe. Iago Aspas e Rodrigo enquadram-se melhor no estilo da Espanha.

Em suma, é no ataque que Lopetegui ainda precisa de encaixar as últimas peças do seu puzzle. O resto da equipa é fácil de reconhecer como a de 2008, 2010 ou 2012. Não foi preciso nenhuma revolução, a Roja voltou a ser a Roja. Só falta a equipa confirmá-lo em mais um grande palco.

Provável Onze Inicial

Que jogador vai surpreender toda a gente no Mundial?

Isco, que foi fundamental no apuramento da Espanha, vai jogar a sua primeira grande competição num momento ótimo do seu desenvolvimento como jogador. Ganhou enorme maturidade e encaixa muito bem na mentalidade desta equipa com a sua astuta capacidade de decisão. É um driblador de topo e muito bom no último passe. A isso junta muito boa movimentação na zona entre os médios e os avançados.

Qual o jogador com mais probabilidades de desiludir? 

Com David Villa nos Estados Unidos, a Espanha tem jogado bem sem um avançado convencional. Diego Costa não assentou bem e é por isso que pode debater-se com dificuldades na Rússia. Tem sido difícil para ele a ligação com os médios – parece que Costa gosta de «heavy metal» enquanto os companheiros de equipa preferem música clássica.

Qual a expectativa realista para a Espanha no Mundial 2018?

A Roja tem equipa para chegar até ao fim na competição. Depois das desilusões no Brasil (2014) e França (2016), a equipa tornou-se de novo competitiva. Lopetegui manteve a espinha dorsal e acrescentou, com muita cautela, jogadores como Isco, Asensio, Lucas, Saúl, Aspas e Rodrigo. A Espanha pode voltar a esperar o melhor.

Textos: José Sámano/El País