Vinte anos depois, a história aos quadradinhos voltou à fase decisiva do Mundial. Em 1998, quando Suker, agora presidente da federação, Boban, Prosinecki e os outros ergueram a Croácia até ao pódio mundialista em França, Modric e Rakitic ainda andavam de calções (tinham então 12 e 10 anos, respetivamente).

Hoje, são eles a liderar outra geração de ouro do futebol croata, que se permite até a sonhar com o título, algo que nem a Jugoslávia (cuja melhor classificação foram os quartos lugares em 1930 e 1962) chegou alguma vez a discutir.

Depois do passeio na fase de grupos com três vitórias, a Croácia passa o segundo jogo a eliminar com o credo na boca. O desempate por grandes penalidades já havia valido o passaporte para os quartos de final (diante da Dinamarca, 1-1) e hoje, frente à anfitriã Rússia, voltou a valer a viagem para Moscovo, para as meias-finais diante da Inglaterra, na próxima quarta-feira.

Esta noite, os croatas tiveram a fortuna dos penáltis de novo a sorrir-lhes, mas também tiveram muito mérito.

As estatísticas não explicam tudo, mas ajudam a perceber o domínio da seleção de Zlatko Dalic ao longo de 120 minutos de futebol. Quase o dobro da posse de bola (64%-36%), quase o dobro dos passes (763-402), vantagem também nos remates (17-13) e maior domínio territorial diante de uma Rússia que já havia sido demasiado submissa frente à Espanha, apesar da condição de anfitriã.

A fórmula resultou nos oitavos e desta vez quase que voltava a surtir efeito, não fosse Subasic, que inclinou o desempate por grandes penalidades logo de início ao defender o primeiro remate de Kuzayev. Kovacic também falhou, mas Mário Fernandes, o herói do empate, a cinco minutos do final do prolongamento falharia de novo para os russos e abriria a porta a Rakitic, que cobrou com classe o penálti que escancara as portas das meias-finais para os croatas.

Antes do final dramático, houve duas horas de futebol. 120 minutos bem disputados, com preponderância dos forasteiros.

Rússia-Croácia, 2-2 (3-4 gp): ficha e jogo ao minuto

Dalic repetiu o onze da estreia frente à Nigéria, com Modric e Rakitic ao meio. Não obstante os cruzamentos perigosos do lateral Vrsaljko, a verticalidade de Perisic e o talento de Rebic, é no meio que está a grande virtude croata, de facto. Com a qualidade de passe e visão de jogo desta dupla, a Croácia controla cada momento do jogo. O selecionador russo Stanislav Cherchesov apostou num 4-2-3-1 de deixava Dzyuba lá na frente a combater por cada bola, procurando espaços nas costas da defensiva croata e explorando as transições rápidas.

Numa destas situações, à passagem da meia-hora de jogo, Dzyuba segurou e tocou para Cheryshev, que dominou com o pé direito, ganhando a dividida a Modric, e disparou colocadíssimo com o esquerdo. Um golaço a inaugurar o marcador e a fazer a festa em Sochi. A injustiça no marcador duraria, porém, apenas por oito minutos. Já que aos 39’, Mandzukic, apareceu solto na direita a cruzar para Kramaric, que na área desviou para o empate.

Empatada ao intervalo, a Croácia voltou a estar por cima no segundo tempo, mas a bola não quis entrar. Nem quando Perisic, inteligentíssimo, colocou rasteiro e cruzado, enganando defesas e guarda-redes russo… O poste evitou o golo à passagem da hora de jogo.

Golos só no prolongamento. Vida encontrou de cabeça o caminho da baliza ao minuto 100 e consumou uma reviravolta que não havia de durar muito, já que a cinco minutos do final Mário Fernandes, russo de São Paulo, também de cabeça fez o empate para o delírio em Sochi.

O resto já se sabe. Subasic a defender. Mário Fernandes a trair o papel de herói. E Rakitic a carimbar o passaporte.

A Rússia despediu-se sob aplausos do seu melhor Mundial de sempre (sem contar com o 4.º lugar da União Soviética em 1966). Os croatas voltam às meias finais, repetindo o feito de 1998. Depois dos «Ursos», seguem-se os «Três Leões» no Estádio Luzhniki, que será também palco da final. De calções e com os pés, Rakitic e Modric têm tudo para escrever um novo capítulo de ouro da tal história aos quadradinhos.