O Japão bateu a Alemanha com uma cambalhota no marcador e ditou a segunda grande surpresa neste Campeonato do Mundo, depois do desaire da Argentina na véspera. Um desfecho difícil de acreditar para quem assistiu à primeira parte do jogo, totalmente controlada pela Mannschaft de Hans Flick, que adiantou-se no marcador e teve oportunidades suficientes para conseguir uma vantagem mais dilatada até ao intervalo. O Japão, inicialmente muito submisso, foi-se transfigurando a partir do banco e virou o resultado nos últimos quinze minutos do jogo com golos de Doan e Asano.

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A Alemanha, depois de fazer o seu manifesto contra a descriminação, subiu ao relvado com um onze muito ofensivo, à imagem do treinador Hans Flick, com Gundogan, apoiado por Kimmich, com total liberdade para apoiar todos os setores da equipa e com Thomas Müller, Musiala e Gnabry no apoio direto a Havertz na frente de ataque. Mal começou o jogo, a Mannschaft deixou claras as suas intenções, assumindo as rédeas da partida, com uma elevada posse de bola, tentando fixar o jogo no meio-campo nipónico, com muita paciência, fazendo circular a bola a toda a largura do campo, para depois procurar acessos rápidos à área de Gonda.

Um domínio, diga-se, muito consentido pelo Japão, que cedeu a bola ao adversário para fixar bem as suas linhas atrás, dando total prioridade ao aspeto defensivo, para depois procurar explorar os erros da Alemanha e responder com transições rápidas, neste caso, quase sempre pela direita, com o lateral Sakai em plano de destaque, a colocar muitos problemas a Schlotterbeck. Foi assim que Maeda marcou um golo, logo aos oito minutos, na sequência de um contra-ataque rápido, com Tanaka a cruzar da direita, mas o antigo avançado do Marítimo estava adiantado e não valeu.

Um dos poucos lances de ataque do Japão, numa primeira parte praticamente controlada pela Alemanha que chegou a roçar os oitenta por cento de posse de bola. Um domínio exercido com um ritmo baixo, numa primeira fase, com muita circulação de bola, mas depois com uma aceleração na ponta final, no último terço, com Gundogan, Musiala e Muller a aparecerem muitas vezes entrelinhas e a abrirem vias para a baliza de Gonda.

Pressão crescente até ao golo de Gundogan

As oportunidades junto da baliza nipónica começaram a multiplicar-se, com pontapés de meia-distância de Kimmich e Gundogan (sempre em jogo), mas também em lances de bola parada, com destaque para uma cabeçada de Rudiger, na sequência de um canto, que passou muito perto do poste. Uma pressão crescente e cada vez mais próxima da baliza de Gonda, ao ponto do guarda-redes do Japão ter feito uma falta clara sobre Raum na área que ditou uma grande penalidade inequívoca que Gundogan, com classe, transformou no primeiro golo do jogo.

O Japão não teve capacidade de reação, até porque a Alemanha continuava com uma elevada posse de bola e continuava a criar novas oportunidades para ampliar a vantagem, com destaque para um remate de Musiala e, já em tempo de compensação, para um golo anulado a Havertz que estava ligeiramente adiantado no momento da assistência de Kimmich.

Uma primeira parte em que o resultado foi escasso para um domínio tão acentuado da Alemanha. O selecionador japonês, Hajime Moriyasu, procurou reequilibrar a sua equipa logo no arranque do segundo tempo, abdicando do apagado Kubo para reforçar o eixo defensivo com Tomyasu, libertando mais os laterais para os ataques no corredor. A Alemanha continuou a ter mais bola e a criar sucessivas oportunidades, com destaque para um remate de Gnabry que tirou tinta ao poste e para um lance individual de Musiala que, por pouco, também não resultou em golo.

Transfiguração do Japão e cambalhota

Gundogan também teve uma oportunidade soberana para bisar, com um remate ao poste, mas a verdade é que o Japão estava a mudar e Moryasu continuou a melhorar a equipa a partir do banco com as sucessivas entradas de Asano, Mitoma, Doan e Minamino. Uma transfiguração progressiva, com evidentes resultados no campo, com o Japão a crescer até ao golo do empate, aos 75 minutos, com Miotomo a arrancar na esquerda, a servir Minamino que cruzou tenso para a área. Neuer ainda afastou com uma palmada, mas apareceu Doan a finalizar.

Estava feito o empate e o Japão continuava a crescer, até porque a Alemanha, com as saídas de Gundogan e Muller, já não conseguia impor o seu jogo, como o tinha feito de forma tão clara na primeira parte. Hans Flick ainda lançou Gortezka e o possante Fullkrug para a frente de ataque, mas logo a seguir o Japão voltou a marcar. Na sequência de um passe longo, Asano invadiu a área, aguentou a pressão e disparou, já de angulo apetado, junto ao primeiro poste, batendo Neuer.

Grande festa dos japoneses, tanto no relvado, como nas bancadas, diante de uma Alemanha que não estava a perceber o que lhe estava a acontecer. Com os minutos a correrem céleres para o final, Flick ainda lançou Moukoko que acabou de completar 18 anos e a Alemanha até esteve perto de empatar, mas o Japão agarrou a vantagem com unhas e dentes e segurou a vitória que resulta na segunda grande surpresa deste Mundial. Depois da Argentina, a poderosa Alemanha também caiu.