«Muchachos, ahora nos volvimo’ a ilusionar / Quiero ganar la tercera / Quiero ser campeón Mundial / Y al Diego / En el cielo lo podemos ver / Con Don Diego y Doña Tota / Alentándolo a Lionel»

É a música que por estes dias os argentinos não tiram da cabeça. Se Diego Maradona está lá no céu a empurrar estes pibes, hoje viu o jogo ao lado de outra lenda, de seu nome Johan Cruyff. Países Baixos-Argentina era o menú. Daqueles jogos que regalam os olhos de qualquer adepto e que reavivam memórias de partidas intemporais.

Quem não se lembra da final de 1978, com o bis de Mario Kempes aos neerlandeses? Ou aquele relato em que o nome de Dennis Bergkamp foi dito até à exaustão em 1998? Para os mais novos: e quando Sergio Romero foi herói nos penáltis em 2014?

No Qatar, também houve heróis. Duas figuras a que os argentinos já se têm acostumado a ver brilhar. Primeiro foi Lionel Messi, depois Emiliano Martínez. 

Foram eles os dois principais obreiros do triunfo da Argentina sobre os Países Baixos, arrancado já nos penáltis, após uma igualdade a duas bolas no fim do tempo regulamentar. A albiceleste esteve a vencer por 2-0, deixou-se empatar no último lance da primeira etapa, mas ainda foi a tempo de resgatar a passagem às meias-finais do Mundial 2022.

Que Mundial, Messi!

Messi está a espalhar magia pelo Médio Oriente. Descomplica o que parece complicado. E foi assim que começou este jogo. Muito amarrado, equipas encaixadas (Scaloni até replicou a linha de cinco neerlandesa) e um longo bocejo em perspetiva.

Mas quando Messi está em campo, convém focar-nos na TV para estarmos atentos a tudo. Assim como ele está. Ninguém viu aquela desmarcação de Molina, nem o espaço que Aké tinha deixado nas costas para pressionar o 10 da albiceleste. Mas ele viu. Porque é especial e diferente dos outros. Depois, o lateral só teve de encostar. Pareceu fácil, porque Messi assim o tornou.

Tal como o penálti já na segunda parte. Classe pura a bater o gigante Andries Noppert. A um quarto de hora do final, o resultado já parecia resolvido e para isso tinha bastado o futebol de Leo.

Mas nada pode ser conquistado sem sofrimento ou, pelo menos, o esforço extra torna tudo mais bonito. Do outro lado, também estava alguém que percebe muito disto. Louis Van Gaal «meteu a carne toda no assador», lançou os pontas de lança que tinhas disponíveis e, numa fórmula de jogo direto, arrancou um empate quando tal já não parecia possível.

Wout Weghorst ainda escreveu um guião sobre a noite em que um «pinheiro de área» salvou os Países Baixos com um bis aos 83m e 90+11m, mas teve de o amarrotar e deitar fora.

Dibu suporta Messi

Enzo Fernández também tentou assumir o protagonismo e ajudar o mestre Messi, visivelmente desgastado, mas a primeira tentativa esbarrou no ferro. Era mais um prenúncio de que a passagem não seria fácil de assegurar.

Vieram os penáltis. E estava lançado o aviso: o Brasil já tinha sido eliminado assim.

Mas 2014 repetiu-se, desta vez com outros figurinos.

Emiliano Martínez já é reconhecido pela capacidade de defender remates dos onze metros (quem não se lembra da exibição na Copa América frente à Colômbia ou da Supertaça que deu ao Arsenal?) e não desiludiu. Porque um herói aparece sempre que é preciso.

Van Dijk e Berghuis falharam os primeiros, Messi assumiu a responsabilidade de forma categórica e Enzo Fernández ainda assustou com um tiro ao lado. Mas Lautaro Martínez fechou as contas.

Lá em cima, Cruyff e Maradona terão sorrido ao ver esta história de mais de 120 minutos, que ficará inscrita nos livros do futebol.

«La Tercera» está cada vez mais perto, mas Leo vai continuar a precisar que Diego continue «alentándole», porque os guerreiros croatas prometem mais sofrimento.