Onze contra onze e no fim… ganhou a Bélgica.

O cliché habitualmente aplicado à Alemanha – que nesta quarta-feira até perdeu o sentido – bem pode ser reclamado com propriedade pela vizinha Bélgica.

A número dois do ranking FIFA, terceira classificada do último Mundial, entrou em prova com uma vitória tangencial sobre o Canadá, 41.º colocado da hierarquia e a participar apenas no quarto jogo em Mundiais, depois dos três há 36 anos no México.

Com os também portugueses Steven Vitória e Stephen Eustáquio de início, o Canadá mostrou ao Mundo como uma boa organização pode anular um conjunto que tem alguns dos melhores intérpretes do jogo.

O Canadá superiorizou-se aos belgas em quase tudo o que serve de base de sustentação para o sucesso: abnegação, combatividade, intensidade e sentido prático, o que se traduziu em mais remates, mais oportunidades de golo, mas (mais importante do que isso) menor eficácia.

Aos 9 minutos, Alphonso Davies, estrela dos canadianos, teve no pé esquerdo a possibilidade de fazer história: empurrado para a marca dos onze metros após uma mão na bola de Carrasco na área belga, perdeu o frente a frente com Courtois, adiando o primeiro golo da história do Canadá em Mundiais.

O momento não abalou a seleção da América do Norte, que se manteve por cima de uma Bélgica muito abaixo do que seria de esperar.

De um lado acumulavam-se chegadas perigosas à área belga. Johnston testou os reflexos de Courtois, Jonathan David desperdiçou uma grande oportunidade e a equipa de arbitragem viu num mau atraso de um belga uma assistência de um atacante canadiano e anulou um possível penálti cometido pelo ex-Benfica Jan Vertonghen.

Do outro, as unidades mais ofensivas da Bélgica pareciam isoladas numa ilha e longe dos setores mais recuados, responsabilidade do experientíssimo Hutchinson (o titular mais velho num Mundial), do portista Eustáquio, exímio na gestão dos equilíbrios defensivos e brilhante nos desequilíbrios ofensivos, e também dos homens da frente, fortes na pressão que obrigou os defesas belgas a recorrerem várias vezes ao jogo direto umas vezes com e outras sem critério.

Aos 41 minutos, com critério, Alderweireld descobriu uma brecha na defesa canadiana e fez a bola viajar até Batshuayi, que ficou isolado e atirou de pé esquerdo para aquele que seria o único golo do jogo.

Ao intervalo, o resultado penalizava os canadianos, que pecaram apenas por alguma falta de discernimento no último terço, necessário para ter sucesso pelo menos num dos 14 (!) remates efetuados.

Roberto Martínez, selecionador da Bélgica, fez duas alterações logo para o regresso dos balneários - o que explica que viu o mesmo jogo que o resto do Mundo - mas a melhor seleção europeia do ranking FIFA nunca teve o controlo absoluto do jogo, apesar de os segundos 45 minutos terem sido melhores do que os primeiros.

O Canadá continuou em busca da felicidade e a entrada de Cyle Larin pouco antes da hora de jogo aumentou a capacidade de combate no ataque.

O tempo passou e o Canadá começou a pagar a fatura (física) do máximo compromisso, mas nunca deixou de tentar. As transições defensivas perderam eficácia, mas a Bélgica, pragmática numa noite sem chocolate dos seus habituais artistas, preocupou-se sempre mais em defender a baliza de Courtois do que em aproveitar os espaços que começaram a surgir no meio-campo ofensivo e lhe permitiriam chegar ao golo que lhe daria absoluto conforto.

Chamem-lhe respeito.