Na vida e no futebol há eventos acidentais, mas quando a história se repete, normalmente não é por acaso.

A vitória da Bélgica frente ao Canadá há dias, nada justificada pela exibição pálida de Hazard, De Bruyne e companhia, sugeria que para vencer neste domingo a interessante seleção marroquina, teria de jogar também mais do que frente à congénere norte-americana. Porque, lá está, a história, sobretudo quando se é repetidamente mau e se ganha, dificilmente se repete.

E, a julgar pela entrada no jogo, os «diabos vermelhos» até pareciam a caminho de uma exibição à altura dos pergaminhos de uma das gerações mais douradas da história do futebol belga.

Roberto Martínez fez três alterações no onze e a Bélgica apresentou-se autoritária, instalada no meio-campo contrário e a ameaçar o golo de forma consistente. Aos 5 minutos, Batshuayi rematou para defesa apertada de El Kajoui Mohamedi, que à última hora rendeu o Bounou na baliza marroquina. No minuto seguinte, Mazraoui quase marcou na própria baliza e aos 17m Onana cabeceou por cima em posição privilegiada.

Forçada a recuar ou estrategicamente mais expectante na primeira fase do jogo, a seleção africana soltou-se gradualmente após o primeiro remate efetuado, já depois dos 20 minutos.

De um lado, a melhor versão dos belgas na tarde já tinha ficado para trás e não voltaria nem quando mais precisaria dela; do outro, via-se uma equipa marroquina mais prática, rápida, ambiciosa e jovem.

Já perto do apito para o intervalo, Ziyech marcou num livre lateral direto, Marrocos celebrou o golo, mas o árbitro manteve o 0-0 devido a fora de jogo posicional de Saiss, que estorvou a ação de Courtois.

Na segunda parte, a Bélgica continuou a ter mais bola. Mas também continuou a ser a equipa que soube menos o que fazer com ela.

Eden Hazard ainda esteve perto do 1-0 para os «diabos», mas o maior sentido prático e a capacidade para desequilibrar nas transições rápidas iam deixando os magrebinos mais próximos da felicidade.

Quando a história se repete normalmente não é por acaso.

E o que se viu ao minuto 73 não terá sido, de todo, por acaso, quando Sabiri bateu um livre lateral na direção da baliza e Courtois, como na reta final da primeira parte, foi importunado novamente por Saiss.

Por essa altura, Marrocos até já nem tinha alguma das suas principais figuras em campo, como Hakimi e En-Nesyri, mas mantinha-se apurada.

A Bélgica assumiu o jogo a partir daí, Martínez esgotou as substituições com a entrada de Lukaku – em estreia no Mundial – mas falta de capacidade para importunar o adversário manteve-se, mas com uma agravante: com a defesa mais subida, os veteranos Alderweireld e Vertonghen ficaram mais expostos aos contra-ataques.

O 2-0 de Marrocos surgiu, no entanto, na sequência de um pontapé de baliza aparentemente inofensivo. Aos 90+3m, Witsel falhou um corte e a bola sobrou para Ziyech, que trabalhou bem a bola e serviu com qualidade Aboukhlal.

Em caso de vitória, a Bélgica teria selado já um lugar nos oitavos de final do Campeonato do Mundo. Agora, vai discutir o apuramento no próximo jogo diante da vice-campeã mundial Croácia.

Que diabo.