A bola que rola no Mundial do Qatar está equipada com tecnologia que foi planeada para apoiar a análise de eventuais foras de jogo, mas agora ganhou uma nova utilidade, ao servir para ajudar a perceber a quem devia ser atribuído o primeiro golo de Portugal frente ao Uruguai. Que tecnologia é essa que levou a marca fabricante da bola a garantir que Cristiano Ronaldo não tocou na bola?

A resposta está no interior da bola. Dentro da Al Rihla há um sensor de movimento que fornece um série de informações «sobre todos os elementos do movimento» da bola, segundo explica a Adidas. Esse sensor está no centro da bola, suportado por um sistema de suspensão, pequenos cabos que garantem a estabilidade necessária à recolha de dados.

O sensor é alimentado por uma bateria recarregável que pode ser carregada por indução, explica ainda a marca, acrescentando que o sistema «em nada interfere» com a performance da bola. O dispositivo pesa 14 gramas, segundo acrescenta o site FiveThirtyEight, portal estatístico da cadeia ABC, foi desenvolvido ao longo de cinco anos e na verdade é composto por dois sistemas distintos: um sensor com tecnologia de banda ultra-larga «para dados posicionais precisos» ligado a um conjunto de antenas à volta do campo e aquilo a que se chama uma unidade de medida inercial, ou IMU, de 500Hz, o sensor que capta de forma tridimensional movimentos de um objeto no espaço.

A bola recolhe e envia o incrível volume de 500 registos por segundo. São essas imagens que mostram quando há um contacto de um jogador com a bola, permitindo, segundo a FIFA, uma «deteção muito precisa do contacto, quando comparado com as imagens televisivas ou o rastreamento ótico».

Algumas publicações, como a The Athletic, mostraram imagens dos gráficos que o sistema gera a cada momento e através dos quais se percebe se houve ou não um contacto.

Esta Connected Ball Technology faz parte de um sistema tecnológico já testado em algumas competições, mas implantado a toda a linha no Mundial 2022. A FIFA chama-lhe Tecnologia de Fora de Jogo Semi-automática (SAOT na sigla em inglês) e, além da informação da bola, integra dados recolhidos por 12 câmaras no estádio.

Essas câmaras estão colocadas sob a cobertura dos estádios e seguem a bola, bem como 29 pontos do corpo de cada jogador, incluindo, segundo explica a FIFA, «todos os membros e extremidades que são relevantes para tomar decisões relativas ao fora de jogo». Essas câmaras identificam, ao ritmo de 50 vezes por segundo, «a posição exata» de um jogador em campo. Tudo isso é combinado com software de inteligência artificial, que procura identificar um potencial fora de jogo e, quando o faz, envia um alerta para a sala do VAR em cada estádio.

A partir daí, a decisão é humana. É o vídeo-árbitro quem valida a informação, «verificando manualmente o ponto de contacto e a linha de fora de jogo» que foram geradas automaticamente. Só depois é informado o árbitro de campo.

O sistema pretende também tornar as decisões mais claras para quem assiste no estádio e em casa. Nesse sentido, é gerada uma imagem 3D que pretende mostrar uma visão mais clara da situação que aconteceu em campo.

Mas o objetivo principal é tornar mais rápida a decisão em relação a algo particularmente complexo como é a regra do fora de jogo. Os dados apontam para que o sistema reduza o tempo médio de análise de um fora de jogo de 70 para 25 segundos. «Temos consciência de que o processo para verificar um possível fora de jogo por vezes leva demasiado tempo, sobretudo quando o fora de jogo é muito apertado», disse Pierluigi Collina, o responsável pela arbitragem da FIFA, na apresentação do sistema, que foi também explicado às seleções presentes no Mundial e que continuará a ser aperfeiçoado, segundo a FIFA.

O sistema já foi usado na Liga dos Campeões e no Mundial 2022 foi testado logo aos três minutos de jogo do encontro entre Senegal e Equador, no golo anulado a Enner Valencia. Neste caso a decisão foi rápida, ainda que não fique com isto eliminada na totalidade a subjetividade e a complexidade da regra, que dependerão sempre de uma decisão humana. «Dá-nos a possibilidade de ser mais rápidos e precisos na decisão sobre um fora de jogo. Mas ser mais rápido não significa que teremos uma avaliação instantânea do fora de jogo», diz Collina, sublinhando que, no fim de contas, «a decisão é sempre dos responsáveis pela arbitragem – no VAR, o vídeo-árbitro, e no campo o árbitro.»

Mas o potencial que a nova tecnologia traz ao jogo é grande. Como se viu agora na questão em torno do golo de Portugal que é mesmo de Bruno Fernandes.