No futebol não há justiça ou injustiça, dizem as leis da bola.

Mas quanto vale a alma?

No primeiro jogo dos quartos de final do Mundial 2022, a Croácia, vice-campeã do Mundo em título, defrontava um Brasil sedento da sexta estrela no símbolo. E com a confiança no auge.

Alegria e ritmo nos pés.

Se calhar o ditado não chegou ao outro lado do Atlântico, mas por cá diz-se que «quando um não quer, dois não dançam».

E a Croácia não quis entrar no baile. De todo.

Num jogo chato, o conjunto balcânico limitou-se a encurtar espaços. A fechar caminhos para a baliza.  A bater. E a confiar numa muralha de nome Dominik Livakovic.

O guarda-redes croata fez uma exibição monstruosa, acabou o jogo com duas mãos cheias de defesas. Só não impediu o golo de Neymar no último minuto da primeira parte do prolongamento.

Mas depois, se a Croácia pôde tirar uns apontamentos sobre o que a fantasia traz a um jogo de futebol, o Brasil pode fazer deste jogo uma aula sobre frieza.

A equipa de Tite marcou no 11.º remate enquadrado que fez à baliza. Depois de 10 defesas de Livakovic. E quando Neymar soltou a festa do povo brasileiro que tanto sonha com o «Hexa», a Croácia tinha zero! (0!) remates enquadrados.

Só que o Brasil continuou a querer jogar o seu futebol. E a três minutos do final do prolongamento, tinha seis jogadores à frente da linha da bola e perdeu a posse.

Numa jogada de quatro para quatro, com três passes, e o primeiro (!) remate à baliza, a Croácia fez o empate e levou a decisão para onde se sente confortável: os penáltis.

Em 2018, foi essa a receita de sucesso até à final: venceu nos oitavos e nos quartos nos penáltis; venceu a meia-final no prolongamento.

Quatro anos depois, volta a apurar-se para os quartos e para as meias no desempate nas grandes penalidades. Rodrygo e Marquinhos falharam, enquanto os croatas tiveram 100 por cento de eficácia. 

O aviso está dado. E de que forma!

Já alguma vez tinha ouvido falar de uma vitória por 1-11? Isso aconteceu. Na Croácia, um é melhor do que 11. Onze remates? Eles têm os onze metros.