Depois de mais de uma década de controvérsia desde a atribuição do Mundial 2022, a bola começou a rolar este domingo, no Qatar.

Questionaram-se as escolhas. Levantaram-se suspeitas de corrupção. Denunciaram-se condições dos trabalhadores migrantes na construção dos estádios. Castigaram-se alguns prevaricadores. Afastaram-se dirigentes. Outros foram absolvidos. Alguns passaram impunes.

O debate sobre as linhas que tornearam a organização da prova no Médio Oriente continua. Agora em campo, no onze contra onze, foi a linha do Equador a colocar o anfitrião… na linha.

Passados 1.589 dias da final de Moscovo em 2018 entre França e Croácia, a bola voltou a rolar na que é considerada a mais importante competição de seleções. No Estádio Al Bayt, euforia nas bancadas, pintadas em tons de vermelho e amarelo.

Gustavo Alfaro atribuíra favoritismo ao Qatar para o duelo de abertura. Afinal, disse, o país árabe preparava este Mundial, este jogo, «há 12 anos». Mas demonstrou ambição e que a ausência de Byron Castillo seria mais uma «bandeira» na equipa.

Essa bandeira foi erguida por Enner Valencia.

No jogo inaugural, um bis do pupilo de Jorge Jesus no Fenerbahçe – um penálti e um cabeceamento irrepreensível – na primeira parte, decidiram no dia um do Mundial 2022 e valeram os três pontos ao Equador, no grupo A.

 

O jogo foi praticamente dominado e controlado pelo Equador. Mais calma na saída de bola, certeza a ferir o adversário e eficácia. No fundo, tudo feito com mais critério e cabeça, perante uma equipa que várias vezes parecia perdida em campo. Ou ansiosa, pela responsabilidade de jogar em casa.

Da ameaça ao castigo

Num jogo que não teve muitas oportunidades, o Equador conseguiu encontrar os espaços certos e necessários para, literalmente, catar o caminho do golo.

Foi da ameaça, com um golo anulado, ao castigo, com o penálti que abriu as contas.

Aos três minutos, Enner Valencia marcou, mas o lance foi anulado por fora-de-jogo de Michael Estrada: tinha o pé direito adiantado no momento em que Felix Torres cabeceou no ar, em duelo com o guarda-redes Saad Al Sheeb.

Mas pouco tempo bastou para Valencia, que após derrubado por Saad Al Sheeb assumiu, com calma e classe, o pontapé de penálti para o 1-0 (16m). O 2-0 surgiu na segunda boa ocasião: Caicedo serviu para o cruzamento perfeito de Preciado, que Valencia, com cabeça, apreciou para voltar a ser feliz (31m), num jogo em que sairia tocado ao minuto 76, após um duelo com Boudiaf ainda no primeiro tempo.

Junta há praticamente meio ano para preparar o Mundial, a equipa anfitriã mal conseguia fazer passes consecutivos e jogadas ofensivas com critério e só assustou na última ocasião da primeira parte: Ali Almoez falhou o cabeceamento na cara de Hernán Galíndez.

Vantagem conseguida, linha estabelecida

Na segunda parte, o Equador fez os serviços mínimos para fechar o triunfo. Estabeleceu uma linha que o Qatar nunca conseguiu contrariar.

Para a história fica uma belíssima defesa de Saad a negar o 3-0 a Ibarra (55m) e, do lado do Qatar, um cabeceamento do português Pedro Correia (62m) e um remate de Muntari (86m) que não chegaram para entortar a linha equatoriana.

Isto num jogo em que Alfaro teve o ex-Sporting Gonzalo Plata a titular e lançou o ex-Benfica Jeremy Sarmiento, assim como Kevin Rodriguez, que brilhou na II Liga equatoriana pelo Imbabura SC e fez a sua segunda internacionalização.

Num Mundial que já teve muita história escrita pela negativa, um dado inédito e histórico, negativo para o Qatar. É a primeira vez que uma seleção anfitriã perde o jogo de abertura.