No Mundial 2022 vai atingir-se a centena de presenças de jogadores estrangeiros oriundos do futebol português no Campeonato do Mundo. A liderar a lista de jogadores que ao longo da história saíram de Portugal – e não apenas da Liga – para representar outras seleções na maior competição do planeta está o FC Porto, com 27 jogadores, seguido de perto pelo Benfica, com 25. O Sporting, num total de 18 jogadores, completa o pódio.

No Qatar estarão 12 jogadores da Liga a representar outras seleções que não Portugal. O clube que cede mais estrangeiros é o Sporting, que não tem nenhum jogador na seleção nacional mas tem quatro representantes noutras seleções, um novo máximo para os «leões»: no Uruguai terá Ugarte e Coates, que estará no segundo Mundial como jogador do Sporting, no Japão tem Morita e no Gana, adversário de Portugal, o jovem Fatawu.

FC Porto e Benfica contribuem com três representantes cada um: as águias têm Enzo Fernández e Otamendi na Argentina e Bah na Dinamarca, os dragões têm Taremi no Irão, Eustáquio no Canadá e Grujic na Sérvia. Os outros dois jogadores representam estreias: o sérvio Racic é o primeiro estrangeiro do Sp. Braga na competição, enquanto o Desp. Chaves coloca o seu primeiro jogador de sempre num Mundial, com Steven Vitória.

A lista dos jogadores que saíram de Portugal para jogar um Mundial é obviamente dominada pelos chamados três «grandes». Essa história começou em 1974, com um grande nome. Nesse verão, Hector Yazalde partiu de Alvalade para representar a Argentina. O avançado chegou à Alemanha depois de uma época de sonho em que conquistou com o Sporting o campeonato e a Taça de Portugal, marcou 46 golos e ganhou a Bota de Ouro para o melhor marcador europeu. Na Alemanha, o «Chirola» jogou três jogos e marcou dois golos, num bis frente ao Haiti. A Argentina seria eliminada na segunda fase de grupos.

Não houve qualquer jogador oriundo de Portugal no Mundial seguinte, em 1978, mas a partir daí a Liga esteve sempre representada, mesmo quando a seleção nacional não se apurou. O FC Porto cedeu os primeiros jogadores – o argelino Madjer e o polaco Mlynarczyk – em 1986, enquanto o Benfica estreou-se quatro anos depois, logo com cinco jogadores: Aldair, Ricardo Gomes e Valdo no Brasil e Thern e Magnusson na Suécia. O Brasil tinha aliás cinco «portugueses» nesse Mundial, em que ficou pelos oitavos de final, eliminado num clássico com a Argentina decidido numa grande jogada de Maradona concluída pelo futuro benfiquista Caniggia.

O primeiro dos «portugueses» a chegar à final de um Mundial foi Doriva, o médio do FC Porto que fez parte da seleção do Brasil na caminhada até à final do Mundial 1998, perdida para a França. Foi apenas utilizado num jogo, saindo do banco frente a Marrocos. Em 2014, os benfiquistas Garay e Enzo Pérez, mais o sportinguista Marcos Rojo, avançaram até à grande decisão frente à Alemanha, que conquistou o título numa vitória por 1-0, graças a um golo de Gotze. São portanto quatro os vice-campeões do mundo que sairam do futebol português.

É preciso recuar mais tempo para recordar um Mundial de muitas memórias a cruzar-se com a Liga portuguesa. Em 1994, no Mundial que teve os Países Baixos de Valckx nos quartos de final e a Nigéria de Yekini a passar aos oitavos, a Bulgária de Balakov, Kostadinov e Iordanov fez uma caminhada épica até às meias-finais do Mundial 1994, tal como a Suécia de Stefan Schwarz. As duas equipas defrontaram-se no jogo pelo terceiro lugar e a Suécia venceu o trio «português» por 4-0.

Da expulsão de Zahovic ao recordista Maxi Pereira

Também houve momentos mais insólitos. Em 2002, quando a Eslovénia se estreava no Mundial, o benfiquista Zahovic foi expulso da seleção após o primeiro jogo, com a Espanha, em que foi substituído a meia hora do fim. A Federação emitiu um comunicado a detalhar uma extensa lista de motivos disciplinares, que incluíam insultos ao selecionador, tratamento «rude» ao presidente federativo e declarações «incorretas». De volta ao Benfica, Zahovic disse que não merecia o que tinha acontecido, mas aprendera a lição. Ainda voltou à seleção eslovena. 

E depois houve o caso de Diego Reyes, que foi convocado para o Mundial 2018, depois de já ter representado o México como jogador do FC Porto quatro anos antes, mas lesionou-se na véspera do arranque da competição.

O Mundial 2014 foi aquele que teve mais estrangeiros oriundos do futebol português. Foram 15 no total, entre eles o guarda-redes iraniano Alireza Haghighi, que Carlos Queiroz levou ao Brasil e pôs o Sp. Covilhã no mapa do Campeonato do Mundo. Não foi o único clube do segundo escalão nacional a dar jogadores ao Mundial. Isso já tinha acontecido em 2006, por via da presença de Angola, que levou jogadores de quatro clubes então na II Liga: Varzim, Barreirense, Portimonense e Moreirense.

O estrangeiro com mais participações no Mundial jogando no futebol português é o uruguaio Maxi Pereira, que esteve na competição duas vezes como jogador do Benfica e uma quando estava no FC Porto. Ao lado de vários companheiros de seleção que também jogavam na Liga, ajudou a sua seleção a chegar às meias-finais em 2010, aos oitavos em 2014 e não foi utilizado quatro anos mais tarde no Mundial da Rússia, quando o Uruguai eliminou Portugal nos oitavos de final e perdeu depois com a França nos quartos de final. Há outro jogador que jogou o Mundial representando dois clubes portugueses diferentes: o argelino Rafik Halliche, por Nacional e Académica, em 2010 e 2014.

São no total 102 as chamadas de jogadores estrangeiros a partir do futebol português, embora se reportem a 93 futebolistas. Além de Maxi e Halliche, também Iordanov, Luisão, Fucile, Hector Herrera e Diego Reyes repetiram a convocatória em mais do que um Mundial como «portugueses».

Estes dados contabilizam o clube que cada jogador representava aquando da chamada ao Mundial, o critério que é definido nas listas oficiais da FIFA e que serve de referência para enquadrar vários casos. Desde logo os jogadores que estão entre clubes quando decorre a competição – um exemplo, o de Paulo Silas, que estava de saída do Sporting ainda antes do final da época 1989/90, mas só passou a representar outro clube depois do Mundial -, mas também jogadores que estiveram emprestados na época que antecedeu o Campeonato do Mundo e que para efeitos das listas oficiais são enquadrados não no «clube-mãe», mas naquele onde jogaram e onde justificaram a chamada ao Mundial.

Os estrangeiros que Portugal deu ao Campeonato do Mundo: