O México até venceu a Arábia Saudita (2-1) na derradeira jornada do Grupo C do Mundial 2022, marcou os primeiros golos na prova e protagonizou um caudal ofensivo avassalador, mas caiu na fase de grupos da prova, algo que não acontecia desde o longínquo ano de 1978.

Já a Arábia Saudita, não teve capacidade para lidar com a valentia mexicana, mas ficará para sempre recordada pela exibição categórica com que travou a Argentina no arranque da prova.

«Quem tem coração fraco que tenha cuidado»

Hervé Renard já tinha avisado os mais sensíveis que a última jornada iria ser imprópria para cardíacos. E assim foi.

Estas duas equipas foram o antagónicas em toda a linha. Se os sauditas começaram o Mundial 2022 com a maior surpresa da competição até ao momento, foram perdendo fogo e acabaram sem grande capacidade de reação. Já os mexicanos, que estiveram irreconhecíveis nas duas primeiras jornadas, onde nem sequer marcaram, guardaram o melhor para o fim e serviram-nos uma lição de entrega e luta.

Tata Martino sabe que muito provavelmente já não se vai voltar a sentar no banco como selecionador mexicano, mas quis deixar – e conseguiu – uma imagem positiva, depois de duas exibições amorfas. O técnico argentino apostou numa equipa virada para o ataque, fez algumas mexidas para a derradeira jornada com jogadores mais jovens (é preciso renovação) e deu-se bem.

Os mexicanos foram melhores de início ao fim, com constante procura das costas da defensiva saudita, que estava muito subida, embora sem a melhor das definições no primeiro tempo. Notava-se mais vontade e mais qualidade, mas a ansiedade nem sempre permitiu as melhores opções, pelo que se viram 45 minutos equilibrados.

Hirving Lozano, conhecido por Chucky, por gostar de se esconder debaixo da cama para assustar os colegas, foi quem não passou despercebido. Assumiu a responsabilidade de ser a principal estrela, liderou a exibição da «El Tri» e só ficou a faltar um golo na etapa final para sair coroado como rei nesta noite no Qatar.

Foi de bola parada que o México construiu a vitória. Num pontapé de canto cobrado por Luis Chávez logo no arranque do segundo tempo, Jorge Martín apareceu à ponta de lança na pequena área para deixar em delírio os mexicanos.

Por esta altura, a Argentina já vencia a Polónia e a seleção de Tata Martino sabia que só precisava de mais dois golos para igualar a diferença de golos da equipa europeia.

Luis Chávez tinha rematado de toda e qualquer parte nos primeiros 45 minutos, mas os pontapés saíram sempre desajeitados. Ora, aos 53 minutos, bateu um pontapé livre de tal forma exemplar, que certamente vai disputar o troféu de melhores golos da prova.

Seguiu-se uma avalanche de futebol ofensivo, com golos anulados ao México, contra-ataques constantes e um jogo disputado a um ritmo eletrizante. A Arábia Saudita não aguentava a velocidade da «El Tri» e chegavam aos ouvidos dos mexicanos que a Argentina já tinha aumentado a vantagem. Nesta altura, todos estavam agarrados aos papéis para descobrirem qual o critério que estava em causa. Ora, empatadas na diferença de golos, entrava em cena o fair-play, traduzido no número de cartões que cada equipa viu na prova.

Neste ponto, o México estava em clara desvantagem e sabia que precisava de mais um golo. Lançou-se com todas as armas de que dispunha, Martino colocou em campo os homens de ataque, mas já não foi a tempo. Do outro lado, a Polónia não tinha conseguido reverter o 2-0, mas a Arábia Saudita ainda marcou pelo craque Salem Al Dawsari num dos últimos lances de jogo, aproveitando o desequilíbrio mexicano.

Ainda assim, o México consegue limpar a imagem dos últimos jogos e sai de pé do Qatar. Já a Arábia Saudita, vai ficar eternamente ligada à proeza do triunfo sobre a Argentina. Mesmo que Hervé Renard entenda o contrário, já escreveram história.