Aí está o Campeonato do Mundo. Em vésperas do arranque da competição no Qatar, o foco agora é Portugal, na última da série de perguntas e respostas com que ao longo das últimas semanas o Maisfutebol abordou um Mundial inédito e rodeado de controvérsia: das suspeitas de corrupção na atribuição da organização às questões em torno dos direitos humanos, da organização aos adeptos, das datas à vertente desportiva. Aqui, enquadramos o percurso da seleção nacional na história dos Mundiais, falamos de jogos épicos mas também de enormes frustrações, de recordes e do que aí vem.

Quantas vezes esteve Portugal na fase final de um Mundial?

Foram sete até aqui. O Qatar será a oitava presença em absoluto e a sexta consecutiva, uma regularidade que tornou normal algo que não o foi durante muito tempo. Porque para trás as coisas são muito diferentes. Ao longo dos primeiros 68 anos de Campeonato do Mundo – com um interregno de 12 anos, entre 1938 e 1950, por causa da II Grande Guerra -, Portugal só esteve em dois dos 16 Mundiais que se disputaram. A estreia aconteceu em 1966, o regresso foi 20 anos depois, em 1986. E a partir de 2002, então sim, Portugal não falhou uma única fase final. Nas sete presenças anteriores, Portugal atingiu por duas vezes as meias-finais, caiu outras tantas nos oitavos e foi eliminado na fase de grupos em três ocasiões.

Em que lugar está Portugal na história dos Mundiais?

Contando já com 2022, Portugal ocupa o 22º lugar no que diz respeito a número de presenças, numa lista liderada pela única seleção que participou em todas as edições, o Brasil. Em 30 jogos no total, a seleção nacional somou 14 vitórias, seis empates e 10 derrotas, 49 golos marcados e 35 sofridos, o que corresponde ao 17º lugar num ranking de pontos somados, entre 79 seleções. Tem um lugar de pódio, conseguido em 1966, algo que só 20 países diferentes conseguiram. A série atual de seis presenças consecutivas já representa um registo de elite. Na Europa só outras quatro seleções têm em curso mais presenças seguidas em fases finais: Alemanha, Espanha, França e Inglaterra.

Qual foi o melhor Mundial de Portugal?

O primeiro. Em 1966, a seleção nacional chegou ao terceiro lugar, numa campanha épica da equipa que ficou conhecida como «Magriços», com Eusébio a brilhar sobre todos e um onze baseado em jogadores do Benfica e do Sporting – o ataque de um e a defesa de outro, no plano do selecionador Manuel da Luz Afonso e de Otto Glória, a dupla que orientou essa seleção. Foi uma equipa que conciliou qualidade, organização e, pela primeira vez, jogadores que sabiam o que era vencer fora de portas, depois das conquistas europeias de Benfica e Sporting no início dos anos 60: o Benfica ganhou duas Taças dos Campeões Europeus, o Sporting venceu a Taça das Taças em 1964. Portugal qualificou-se depois de embalar com quatro vitórias seguidas, entre elas uma histórica e dramática vitória na Checoslováquia. Depois, apresentou-se ao mundo em grande estilo. O Mundial de Inglaterra viu os Magriços vencerem os primeiros três jogos, com Hungria (3-1), Bulgária (3-0) e depois frente ao campeão do mundo Brasil (3-1), que tinha o rei Pelé limitado fisicamente – acabaria mesmo por sair de cena depois de uma entrada dura de Morais – e voltou mais cedo para casa. Seguiram-se os quartos de final e o jogo que entrou para a história eterna dos Mundiais. A Coreia do Norte surpreendeu e vencia por 3-0 aos 25 minutos, até Eusébio virar lenda, com um póquer que comandou a reviravolta. 5-3. Portugal estava nas meias-finais e tinha agora pela frente o anfitrião. Não conseguiu passar a Inglaterra, num jogo que foi transferido para Wembley. Um bis de Bobby Charlton deu aos futuros campeões do mundo uma vantagem que Portugal não conseguiu superar, apesar de ter tentado e de Eusébio ter marcado, de penálti, aos 82 minutos. Restava à seleção o jogo de consolação. Frente à URSS de Lev Yashin, Portugal venceu por 2-1, para garantir aquele que é até hoje o único lugar no pódio em Mundiais. Foi preciso esperar 40 anos até Portugal voltar a passar a primeira fase de um Mundial. Conseguiu-o em 2006, naquela que é a segunda melhor participação de sempre. Depois da final do Euro 2004, já sem alguns dos principais rostos da «geração de ouro» mas ainda com Luís Figo e naquele que foi o Mundial de estreia de Cristiano Ronaldo, Portugal venceu os três jogos da fase de grupos, depois superou os Países Baixos nos oitavos, num jogo decidido num golo de Maniche e que entrou para a história dos Mundiais pelo recorde de carões, 16 amarelos e quatro vermelhos. Os quartos de final, como no Euro 2004, foram um duelo épico com a Inglaterra decidido nos penáltis. Depois, Portugal perdeu a meia-final com o então «papão» França – um trauma anulado de vez com a conquista do Euro 2016 -, por culpa de um penálti batido por Zidane. No jogo pelo terceiro lugar, a anfitriã Alemanha foi melhor e venceu por 3-1.

E qual foi o pior?

Há dois Mundiais traumáticos para Portugal, mas em absoluto o pior registo fica com o México 86: uma vitória, duas derrotas, dois golos marcados e quatro sofridos no meio do caos organizativo e da revolta dos jogadores que redundou naquele que ficou conhecido como Caso Saltillo. Dois anos depois das meias-finais do Euro 1984, Portugal chegava ao seu segundo Mundial graça ao golo de Carlos Manuel em Estugarda, que garantiu a vitória sobre a Alemanha e tornou realidade o sonho do selecionador José Torres. No México, a seleção entrou a vencer a Inglaterra (1-0), de novo com golo de Carlos Manuel, mas perdeu a seguir com a Polónia (1-0) e com Marrocos (3-1) e regressou a casa em alvoroço, num processo cujas consequências se prolongaram por vários anos. O outro Mundial para esquecer de Portugal é 2002. Quando se esperava que a «geração de ouro» de Baía, Couto, Paulo Sousa, Figo, Rui Costa, João Vieira Pinto e companhia brilhasse, Portugal deixou-se surpreender pelos Estados Unidos na estreia, perdendo por 2-3. Ao segundo jogo, um «hat-trick» de Pauleta na vitória sobre a Polónia (4-0) ainda deixou o apuramento em aberto. Na partida decisiva frente à Coreia do Sul, o desenrolar do outro jogo, com a Polónia a vencer os Estados Unidos, até tornava suficiente o empate, mas essa informação não foi passada aos jogadores pela equipa técnica liderada por António Oliveira. Sob muita tensão, João Vieira Pinto foi expulso ainda antes da meia-hora e na reação atingiu o árbitro com um soco, o que lhe valeria uma suspensão prolongada. Também Beto viu vermelho e Portugal estava reduzido a nove quando Park Ji-sung marcou aos 69 minutos o golo que eliminou a seleção nacional. A terceira eliminação na primeira fase aconteceu em 2014, quando Paulo Bento orientou uma seleção marcada por uma sucessão de lesões, que entrou a sofrer uma goleada perante a Alemanha (4-0), empatou a seguir frente aos Estados Unidos (2-2), com um golo de Varela nos descontos a evitar a eliminação precoce, e venceu o Gana na despedida (2-1), mas não foi suficiente para anular a diferença de golos para os Estados Unidos e garantir o segundo lugar.

O que é que Portugal fez no último Mundial?

Chegou aos oitavos de final. Na Rússia, a campanha de Portugal começou em tom épico, num 3-3 frente à Espanha, com hat-trick de Cristiano Ronaldo. Seguiu-se uma vitória frente a Marrocos por 1-0, a única na competição, em mais um golo do capitão. O apuramento jogava-se ao terceiro jogo, frente ao Irão orientado por Carlos Queiroz. Foi um jogo tenso, em que Portugal ganhou vantagem com um golo de Quaresma e, já depois de Cristiano Ronaldo falhar um penálti, acabou por sofrer o empate (1-1), garantindo a presença nos oitavos como segundo do grupo. A decisão foi perante o Uruguai, que levou a melhor (2-1) com um bis de Edinson Cavani, com Pepe a marcar pelo meio o quinto e último golo de Portugal na Rússia. Tal como em 2010, quando perdeu com a Espanha, a seleção foi eliminada nos oitavos de final, repetindo uma tendência: desde 2006 que não passa dessa fase no Campeonato do Mundo.

Quem são os recordistas de Portugal em Mundiais?

Antes de mais, Eusébio. O Pantera Negra que encantou Inglaterra em 1966 foi o melhor marcador desse Mundial, o único jogador português a ganhar uma distinção individual na competição. E com os nove golos que somou na única presença é até hoje o melhor marcador de Portugal em Campeonatos do Mundo. Depois, Cristiano Ronaldo supera todas as restantes marcas. O capitão da seleção nacional já jogou quatro Mundiais – vai para o quinto, o que desde logo iguala o máximo, alcançado até agora apenas por quatro jogadores. Tem sete golos marcados, um em cada um dos seus primeiros três Mundiais (2006, 2010 e 2014) e quatro em 2018. Se marcar um golo no Qatar, torna-se apenas o primeiro jogador a fazer golos em cinco Mundiais. A marca de Eusébio está ao alcance daquele que é o maior goleador da história ao nível de seleções nacionais, com 117 golos. Ronaldo é, obviamente, o português com mais jogos em Mundiais, um total de 17, já bem à frente do segundo lugar, que pertence a Simão Sabrosa, com 11. Entre os 26 que estarão no Qatar, Pepe é o segundo com mais jogos, um total de oito, ele que vai participar no seu quarto Mundial.

Quem é o selecionador com mais jogos no Mundial por Portugal?

Fernando Santos vai-se tornar no Qatar o primeiro treinador a orientar Portugal em dois Mundiais e igualará pelo menos o total de jogos de Luiz Felipe Scolari, que soma as sete partidas da seleção até ao jogo pelo terceiro lugar no Mundial 2006. Em absoluto, Felipão é o terceiro treinador da história com mais jogos em Mundiais, um total de 21, ele que foi campeão do mundo com o Brasil e voltou a liderar a canarinha em 2014, quando caiu com estrondo frente à Alemanha nas meias-finais. Quanto aos técnicos que orientaram a seleção nacional, o segundo melhor registo é da dupla Manuel da Luz Afonso/Otto Glória, em 1966, com seis jogos. Fernando Santos soma para já quatro partidas no banco de Portugal em Mundiais. Mas o treinador, que já tinha orientado a Grécia no Mundial 2014, soma no total oito jogos e estará no Qatar no seu terceiro Campeonato do Mundo. Carlos Queiroz, que orientou Portugal em 2010, é o treinador português com mais jogos em Mundiais, uma vez que junta aos quatro como selecionador de Portugal duas presenças com o Irão, em 2014 e 2018. Tem nesta altura 10 jogos e vai para o seu quarto Mundial, de novo com o Irão. Outro treinador português que vai somar o segundo Mundial é Paulo Bento, agora à frente da Coreia do Sul, depois de ter liderado a seleção nacional em 2014. Quanto a longevidade na seleção nacional, Fernando Santos é de longe o recordista, com 104 jogos no banco, ao longo de oito anos em que se tornou o primeiro treinador a conquistar títulos de relevo com Portugal, ao vencer o Euro 2016 e a Liga das Nações em 2019.

Como é o grupo de Portugal no Mundial 2022?

Portugal está inserido no Grupo H, o último a entrar em competição, com o Uruguai, Gana e Coreia do Sul como adversários. Curiosamente, já defrontou todas estas seleções em Mundiais e as memórias não são boas. À eliminação nos oitavos de final frente ao Uruguai em 2018 junta-se a despedida do Mundial 2002, na derrota com a Coreia do Sul, e a vitória amarga sobre o Gana que não chegou para o apuramento em 2014. O Uruguai é das quatro equipas do grupo a que tem maior palmarés no Mundial. Foi duas vezes campeão do mundo, em 1930 e 1950 e nas últimas três edições tem uma presença nas meias-finais (2010), outra nos quartos (2018) e outra nos oitavos (2014). A Coreia do Sul de Paulo Bento tem como melhor registo o quarto lugar no Mundial que acolheu, em 2002, além de ter chegado aos oitavos em 2010. O Gana, primeiro adversário de Portugal a 24 de novembro, atingiu os quartos de final em 2010 e os oitavos quatro anos antes. Está de volta ao Mundial depois de não se ter qualificado em 2018. Atualmente, a seleção nacional é das quatro a que ocupa um lugar mais alto no ranking da FIFA, na 9ª posição, enquanto o Uruguai é 14º, a Coreia está na 28ª posição e o Ganha é a menos cotada das 32 seleções presentes, no 60º lugar. Portugal defronta o Uruguai a 28 de novembro e fecha a fase de grupos frente à Coreia do Sul a 2 de dezembro.

Veja aqui o calendário completo do Mundial do Qatar

Que ambições tem Portugal no Mundial 2022?

Fernando Santos tem repetido o discurso de 2016, quando Portugal venceu o Campeonato da Europa, dizendo que só conta regressar a casa no dia seguinte a terminar o Mundial. «O que é que esta equipa pode dar? Vou responder de uma forma simples. Pode ser campeã do Mundo. Eu acredito que é possível e os meus jogadores acreditam», disse o selecionador quando anunciou os 26 convocados. A ideia também tem sido repetida por Cristiano Ronaldo. «Portugal vai ao Qatar para ganhar. Tem plantel para isso», diz o capitão. Discursos otimistas e motivadores, ainda que a realidade em campo levante muitas questões há muito tempo - mesmo no Euro 2016 - quanto ao estilo de jogo de Portugal, alimentadas por exibições e resultados aquém das expectativas, das fases finais do Mundial 2018 e do Euro 2020 aos sobressaltos na reta final do apuramento para este Mundial. Mas, como diz Ronaldo, Portugal tem plantel para justificar ambições altas. Tem um lote de jogadores que concilia experiência e juventude: além dos muito veteranos Cristiano Ronaldo e Pepe e dos também «trintões» Patrício e William Carvalho, há mais seis jogadores já com anteriores presenças em Mundiais, para 16 estreantes. E tem sobretudo muito talento e qualidade, num grupo de jogadores além disso habituado ao mais alto nível competitivo. Para lá dos sete que atuam na Liga portuguesa, todos os restantes convocados jogam nas cinco principais Ligas europeias, o que acontece pela primeira vez em convocatórias para Mundiais. Para ajudar ao enquadramento, um outro dado: o site especializado Transfermarkt avalia Portugal como a quarta seleção com maior valor de mercado entre as que estarão no Qatar, só atrás de Inglaterra, Brasil e França.

Um a um, os 26 jogadores de Portugal no Mundial 2022

O guia de Portugal no Mundial 2022