Foi preciso sofrer mais quatro meses e meio. Correr mais 180 minutos. Vencer mais dois jogos.
Mas já está.
Portugal vai mesmo ao Mundial 2022.
Fernando Santos queria menos sofrimento e Portugal, no palco do Dragão, onde há cinco dias superou a Turquia, não deixou a chama das cores da Macedónia do Norte ir mais além (2-0). Jogo seguro. Controlado. Dominado quase sempre. E um bis de Bruno Fernandes a tirar o passaporte português para o Qatar.
Os golos foram mesmo o auge de uma noite plena no Porto.
Uma noite que começou com o momento arrepiante no hino nacional (com o desejo de Ronaldo cumprido).
Desenhou-se depois com a coesão, união e inteligência da equipa que, na verdade, tinha mais e melhores argumentos. Mostrou-os.
A mesma seleção que, no espaço de um ano e meio, foi ao Euro 2020 e venceu na Alemanha e, há cinco dias, a campeã europeia Itália, foi tudo menos capaz de contrariar Portugal. Basta dizer que não conseguiu um remate à baliza de Diogo Costa.
Os primeiros 20-25 minutos ainda mostraram grande equilíbrio e expectativa, até porque a Macedónia, reforçada com Elmas e Kostadinov esta noite e bem assente num 4x2x3x1, também quis jogar e ter bola e tapou praticamente todos os caminhos a Portugal, que, por sua vez, fez uma revolução na defesa com um trio novo e Pepe a fazer uma exibição arrebatadora. Nada passou ali.
A única ocasião nessa fase inicial do jogo pertenceu a Ronaldo, incapaz de bater Dimitrievski depois de lançado por Otávio (14m).
De ex-leão para ex-leão, Bruno catou o caminho
O andar do relógio mostrava Portugal cada vez mais capaz de enganar marcações aos macedónios. Bernardo a descer para resgatar jogo foi importante nesse sentido.
Mas foi de ex-leão para ex-leão que tudo mudou.
Stefan Ristovski, que fez no Sporting amizade com Bruno Fernandes, “ofereceu-lhe” a bola num passe de risco e uma combinação com Ronaldo significou vantagem para Portugal. Minuto 32, 1-0. Ristovski disse na antevisão que se sentia um pouco português. E os portugueses bem agradecem uma ação que foi decisiva para desbloquear o resultado.
Por essa altura, já eram os gritos por Ronaldo. Ou «Portugal, Portugal» em uníssono nas bancadas. O Mundial parecia perto. Mas era preciso dar uma sapatada no sofrimento recente.
Pepe imperial, Bruno a fechar com classe e a estreia
Foi dada. E o Mundial mais perto ficou na segunda parte quando, depois de 20 minutos de algum impasse, um corte – um de muitos – de Pepe sobre Bardhi conduziu Portugal ao 2-0, numa finalização de absoluta classe de Bruno Fernandes após cruzamento de Diogo Jota (65m).
O jogo ficou na mão da seleção nacional. Era praticamente impossível fugir. E Fernando Santos parecia descansado no banco. Afinal, o coração pode não aguentar estas coisas todas.
Nos minutos finais, ainda deu para a estreia de Vitinha e o Dragão voltou a ir ao rubro com a primeira internacionalização do médio do FC Porto.
Portugal está na 12.ª fase final consecutiva. Não falha uma desde 1998. Oitavo Mundial, o sexto seguido.
Este foi difícil de catar, mas Portugal está mesmo no Qatar.