Portugal é a seleção que chega ao Mundial com mais minutos nas pernas, segundo dados recolhidos pela Fifpro (Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol) e apresentados num estudo recente que serve de alerta para os impactos severos da sobrecarga competitiva na saúde dos jogadores.

Ao todo, entre jogos nacionais e internacionais, os jogadores nacionais acumularam 30.986 minutos entre 1 de agosto de 2022 e 24 de outubro. Trata-se do máximo registado entre as 32 seleções, seguido de perto dos jogadores das seleções do Brasil (29.128), Alemanha (28.956) e Coreia do Sul, com 28.814 minutos.

Total de minutos jogados esta época pelos internacionais. DR: Fifpro

Os 26 de Portugal lideram ainda nos minutos acumulados desde o início da época passada (2021/22) e 24 de outubro deste ano: são 135.237 minutos, ligeiramente mais do que o Brasil (135.078) e do que o México, que fecha o pódio com 132.317 minutos.

Total de minutos jogados pelos internacionais desde o início da época passada até 24 de outubro deste ano. DR: Fifpro

O estudo da Fifpro foca-se ainda sobrecarga competitiva, observada quando os jogadores acumulam altas percentagens de tempo utilização em jogos consecutivos e com pouco tempo de intervalo entre eles. Aqui, os jogadores portugueses voltam a estar no pelotão da frente, mas o ranking passa a ser liderado pelos brasileiros, que são seguidos pelos espanhóis, franceses e, só depois, Portugal, no quarto posto.

João Cancelo é o segundo mundialista com mais minutos desde o início da época passada: 7.347 minutos num total de 78 jogos. À frente do lateral do Manchester City está Virgil van Dijk, também com 78 jogos mas 7.597 minutos cumpridos no clube e na seleção desde o início da época passada. O argentino Nicolás Otamendi, do Benfica, fecha o top-10, com 6.902 minutos e 71 jogos.

A Fipro alerta para os riscos do excesso de competição que, aliados ao pouco tempo de descanso, podem pôr em causa a integridade física dos atletas. E usa o senegalês Sadio Mané como elemento de prova: o avançado do Bayern Munique lesionou-se a 8 de novembro depois de 93 (!) jogos realizados desde o início da época passada.

Para o Sindicato dos Jogadores Profissionais, esta situação é agravada pelo facto de o Mundial do Qatar jogar-se a meio da época, o que significa menos tempo de preparação após a paragem nos clubes e também de recuperação entre o final da prova e o regresso à competição nas respetivas equipas: neste Mundial, por exemplo, o tempo médio de preparação é de sete dias e o de recuperação não irá além dos oito. Há quatro anos, na Rússia, tempo médio de preparação foi de 32 dias e o de recuperação (tempo até ao primeiro jogo oficial) foi de 26 dias.

Comparativo do tempo de preparação e tempo de descanso nos Mundiais desde 1990. DR: Fifpro

«Nos últimos meses antes do torneio deste ano, aqueles que mais contribuem para a competição - os jogadores - têm sido confrontados com exigências sem precedentes e sem serem salvaguardados. (...) A atual situação não pode continuar no próximo ciclo e em futuros torneios», alerta a Fifro.