Tinha de ser um brasileiro a decidir a final do Mundial de Clubes.

É que a malta em Inglaterra parece olhar para a competição como uma espécie de Taça da Liga do mundo.

E isso voltou a ver-se neste sábado em Doha, onde o Liverpool até venceu pela primeira vez um título que já lhe escapara por três vezes, mas nunca pareceu assim tão interessado nisso.

Ainda por cima está a decorrer o Mundial de dardos, ou lá o que é. E a isso sim, o povo inglês dá valor e atenção, como foram mostrando vários jornalistas brasileiros que foram assistir a este jogo em Liverpool.

«Final do Mundial de quê?!» Essa era a questão repetida de pub em pub nas imediações de Anfield Road, onde as televisões mostravam alvos em vez de balizas.

Rush! Vamos resolver isto rápido

Talvez com pressa para ir ver esse clássico dos dardos entre o norte-irlandês Daryl Gurney e o inglês Justin Pipe – quem? pois, perguntem ao senhor Google – o Liverpool até entrou com tudo.

Firmino deve ter dado um toque aos colegas a dizer que isto do Mundial de Clubes é uma coisa importante e aos 40 segundos já surgia isolado na cara de Diego Alves a desperdiçar a primeira oportunidade de golo.

A pressão do Liverpool durou cerca de dez minutos, nos quais o Flamengo sentiu enormes dificuldades, mas depois as coisas acalmaram.

O Liverpool até se apresentou com praticamente todos os nomes mais sonantes do seu plantel. Mas na primeira parte, exceção feita a esse início, pareceu mesmo que só entraram em campo… os nomes.

A equipa de Klopp desligou depois da pressão inicial e os jogadores do Flamengo perderam o respeito ao adversário. Não que a equipa de Jesus tenha criado grandes oportunidades para marcar – apesar da muita vontade mostrada por Bruno Henrique -, mas o Flamengo passou a conseguir manietar o campeão europeu com relativa facilidade.

«Go, go, go! A seguir temos o Durrant a atirar umas setas!»

A reentrada na segunda parte foi uma repetição do que acontecera no início da partida.

O Liverpool voltou a ser asfixiante – ou não houvesse entretanto Glen Durrant a entrar em campo (?) no mundial de dardos – e Firmino rematou ao poste logo nos instantes iniciais do segundo tempo.

Mas depois… sono novamente. E o Flamengo a ameaçar. Gabriel Barbosa testou a atenção de Alisson, o Flamengo dominou a posse de bola e o jogo foi-se arrastando para o expectável prolongamento, com apenas um sobressalto na sonolência da partida.

Em cima do minuto 90, Mané caiu na área e o árbitro assinalou penálti, perante a incredulidade dos jogadores do Flamengo e de Jesus.

Só que o árbitro foi avisado pelo VAR, foi rever as imagens e voltou atrás na decisão, empurrando o jogo para o tempo-extra.

Aí, à terceira, Firmino mostrou que os brasileiros valorizam mesmo o Mundial de Clubes.

No único lance de rock n’roll do Liverpool de Klopp, um contra-ataque a três homens – Henderson, Mané e Firmino – derrubou a fé flamenguista.

E assim, o Flamengo caiu. Mas caiu em pé.

Jesus foi capaz de fazer a equipa andar sobre águas tumultuosas, ressuscitou graças ao VAR depois de um susto que quase deitava tudo a perder para o Flamengo em cima do minuto 90, mas não resistiu à traição do brasileiro Firmino que, com um golo no prolongamento, deixa milhões de compatriotas em lágrimas.

Klopp junta o título europeu ao Mundial e o Liverpool lembra Inglaterra que neste mês de dezembro há mais Mundial para além dos dardos.