Enquanto se escreve nova história no Qatar, o Maisfutebol olha para o que está para trás. De 1930 a 2018, um Mundial por dia em pequenas histórias, figuras, números, frases, curiosidades ou o percurso de Portugal. Pistas para recordar do que falamos quando falamos do Campeonato do Mundo.

Rússia 2018

14 junho a 15 julho 2018

Campeão: França

2ª lugar: Croácia

3º lugar: Bélgica. 4º lugar: Inglaterra

Jogos: 64

Golos: 169 (2,64 por jogo)

Melhor marcador: Harry Kane (Inglaterra), 6 golos

Portugal

Na ressaca da festa da conquista do Euro 2016, Portugal começou a corrida ao Mundial 2018 a perder na Suíça, mas aprendeu a lição. Venceu os restantes nove jogos, fechando com a vitória na Luz sobre a seleção helvética, e garantiu o apuramento direto pela primeira vez desde 2006, para a sétima presença em Mundiais, a quinta consecutiva. Na Rússia, depois do hat-trick num empate inaugural memorável frente à Espanha (3-3), Cristiano Ronaldo voltou a ser protagonista, marcando cedo o golo que garantiu a vitória sobre Marrocos (1-0). A qualificação ficou selada num tenso empate com o Irão de Carlos Queiroz (1-1). O segundo lugar no grupo ditou que seria o Uruguai o adversário nos oitavos e Portugal. E a seleção caiu logo aí, em Sochi, numa derrota (2-1) decidida em dois golos de Cavani. Pelo meio, Pepe reduziu, mas não chegou.

O Mundial

A organização do Mundial 2018 na Rússia, decidida em simultâneo com a atribuição do Mundial 2022 ao Qatar, esteve rodeada de polémica desde o início, por causa do processo de votação, das limitações aos direitos humanos no país e também, a partir de 2014, por causa da questão da Ucrânia. Mas o Mundial, oportunidade de ouro para uma operação de charme da Rússia de Vladimir Putin, avançou mesmo. Em campo, foi uma montanha-russa de histórias, surpresas e emoções, até à vitória da França.

Os «Bleus» conquistaram o seu segundo título, 20 anos depois do primeiro, com uma equipa que festejou depois de uma final à altura da história, 4-2 frente a uma Croácia que fez uma campanha épica e chegou pela primeira vez à decisão.

Já havia surpresas com fartura antes de começar o Mundial, desde logo as ausências de Itália – de fora pela primeira vez em 60 anos – e dos Países Baixos. Depois, foi a campeã do mundo Alemanha a cair logo na primeira fase, o que não acontecia desde 1938. A «Mannschaft» perdeu o primeiro jogo com o México, depois venceu a Suécia e por fim saiu em choque, última no grupo, eliminada numa derrota com a Coreia do Sul. Já soava a maldição: era o quarto de cinco campeões no século XX a cair na primeira fase, depois da França em 2002, da Itália em 2010 e da Espanha em 2014.

O Mundial que estreou o VAR e registou apenas um empate sem golos teve também o primeiro desempate decidido com base nos rankings de fair play, penalizando o Senegal face ao Japão no Grupo H. Os favoritos foram caindo – Argentina e Espanha logo nos oitavos – desenhando progressivamente um quadro nas meias-finais em que poucos apostariam - além de França e Croácia, a Bélgica, com a sua geração de ouro, e uma jovem e promissora Inglaterra. Um pleno europeu, que no final terminou com a consagração da França liderada no banco por Didier Deschamps, apenas o terceiro a festejar como jogador e treinador, depois de Mário Zagallo e Franz Beckenbauer.

A final

França-Croácia, 4-2

Estádio Luzhniki, em Moscovo

França: Lloris; Pavard, Varane, Umtiti e Hernández; Pogba e Kanté (Nzonzi, 55m); Mbappé, Griezmann e Matuidi (Tolisso, 73m); Giroud (Fekir, 81m). Treinador: Didier Deschamps

Croácia: Subasic; Vrsaljko, Vida, Lovren e Strinic (Pjaca, 81m); Rakitic e Modric; Rebic (Kramaric, 71m), Brozovic e Perisic; Mandzukic. Treinador: Zlatko Dalic

Golos: 1-0, Mandzukic, 19m, pb; 1-1, Perisic, 28m; 2-1, Griezmann, 38m gp; 3-1, Pogba, 59m; 4-1, Mbappé, 65m; 4-2, Mandzukic, 69m)

A final ao minuto no Maisfutebol

Figura

Modric

Kylian Mbappé era um nome para o futuro antes de chegar à Rússia, mas foi presente na caminhada da França até ao título. O fenómeno que foi campeão do mundo aos 19 anos tem muito tempo pela frente para dar ainda maior dimensão à lenda. Ele avisou logo em 2018 que isto era só o início, já lá vamos. Seja então o palco, por esta vez, para Luka Modric, o criador de jogo elegante e sereno que chegava ao Mundial depois ter sido uma vez mais preponderante na terceira conquista seguida da Liga dos Campeões pelo Real Madrid. Na Rússia, Modric foi o símbolo maior de uma Croácia que entusiasmou o mundo. Foi eleito melhor jogador do Campeonato do Mundo, a consagração de um mago discreto, em contra-corrente num espaço mediático polarizado em torno de super-estrelas. No final do ano, venceria também a Bola de Ouro, quebrando uma longa hegemonia de Messi e Ronaldo. O ano de todos os sonhos, chamou-lhe ele.

Frase

«Não estou apenas de passagem pelo futebol: ser campeão do Mundo é uma mensagem»

A frase é de Kylian Mbappé, o adolescente que se tinha apresentado ao mundo apenas um ano antes e que jogou como gente grande na Rússia. De Mbappé em 2018 fica essa sensação de estar a ver história a acontecer. E ficam momentos memoráveis. No memorável França-Argentina (4-3) dos oitavos, não foi Messi a brilhar, mas o miúdo que nasceu no ano em que a França foi pela primeira vez campeã do mundo. No mesmo dia em que deixaram a Rússia não só Messi mas também Cristiano Ronaldo, o avançado francês marcou dois golos e assumiu o palco em estilo. Mbappé já tinha apontado o golo da vitória da França sobre o Peru, na fase de grupos, e voltou a marcar na final, o mais novo a fazê-lo desde Pelé em 1958. O jogador que tinha Cristiano Ronaldo como ídolo e explodiu no Mónaco, antes de assinar pelo PSG, foi eleito melhor jovem do Mundial. Marcou quatro golos, bate uma série de recordes e reforçou a mensagem: o futuro é ele.

Número

45 anos e 161 dias

É a idade que tinha Essam El-Hadary quando bateu no Mundial 2018 um incrível recorde de longevidade. O guarda-redes tornou-se o mais velho de sempre a jogar no Campeonato do Mundo ao terceiro jogo da fase de grupos, na despedida do Egito. Ainda defendeu um penálti, mas sofreu outro nessa derrota com a Arábia Saudita (2-1) que representou também uma homenagem ao histórico guarda-redes, que venceu por quatro vezes a CAN com o Egito e outras tantas Ligas dos Campeões africanos com o Al Ahly. El Hadary formalizou o adeus à seleção logo a seguir ao Mundial, despedindo-se ao fim de 22 anos e 159 internacionalizações. O guarda-redes colombiano Mondragón, que tinha estabelecido novo recorde quatro anos, aos 43 anos, ocupa o segundo lugar no pódio de jogadores mais velhos em Mundiais. A seguir vem Roger Milla, o mítico avançado dos Camarões, que jogou o Mundial 1994 aos 42 anos. Jogou e marcou.

Histórias

Cristiano para a história

Aos quatro minutos de jogo em Sochi, Cristiano Ronaldo fazia história. Tornou-se apenas o quarto jogador a marcar em quatro Mundiais diferentes, ao lado de Pelé, Uwe Seeler e Miroslav Klose. Depois de ter assinado um golo em cada uma das três edições anteriores, Ronaldo marcou outros tantos naquele primeiro jogo frente à Espanha, naquela que foi até então a sua exibição mais marcante no Campeonato do Mundo. Sofreu a falta que resultou no primeiro golo, de penálti, marcou o segundo em cima do intervalo e converteu nova falta sofrida no seu terceiro golo, segurando o empate perto do final com um livre magistral. Voltaria a ser decisivo no segundo jogo, frente a Marrocos, e deixou a Rússia com um total de sete golos marcados em Mundiais, em 17 jogos. Mas, uma vez mais, o caminho foi curto para Portugal e para Ronaldo, sem conseguir passar a barreira dos oitavos de final.

Lopetegui deixou a Roja em fúria

Faltavam três dias para a Espanha se estrear no Campeonato do Mundo, frente a Portugal. Ao início da tarde de 12 de junho, o Real Madrid anunciou que o seu próximo treinador seria Julen Lopetegui. Problema: Lopetegui era o selecionador da Espanha, que preparava o Mundial em Krasnodar. O presidente da Federação, Luis Rubiales, garantiu que só foi informado sobre o que se passava cinco minutos antes do anúncio do Real Madrid. E na manhã seguinte anunciou que a Espanha «prescindia» dos serviços do antigo treinador do FC Porto. Lopetegui voltou para casa e avançou Fernando Hierro, antigo central que era então diretor técnico da seleção. Faltava um dia para começar o Mundial. Em campo, a Espanha passou em primeiro no grupo, mas cairia logo nos oitavos de final, frente à anfitriã Rússia. Lopetegui também não durou muito em Madrid: o Real prescindiu dos seus serviços quatro meses depois, no final de outubro.

Neymar virou caricatura

Neymar a rebolar no chão, a contorcer-se, a cair uma e outra vez. Imagens que se transformaram em memes – muitos – e críticas em catadupa à estrela que voltava a carregar o peso de levar o Brasil ao sucesso, de novo a dividir opiniões. Quatro anos depois do choque de 2014, o avançado que no Mundial brasileiro tinha falhado a humilhação frente à Alemanha por lesão, chegou à Rússia longe do seu melhor mas disse presente, sempre rodeado de enorme pressão. Defendido pelos seus - «É pecado fintar?», perguntava o selecionador Tite – e criticado por meio mundo, marcou dois golos no percurso do Brasil até aos quartos de final. E sim, enquanto esteve em prova foi o jogador que mais faltas sofreu na Rússia, 26 em cinco jogos. Também passou muito tempo no chão: quase 14 minutos nos primeiros quatro jogos. Em silêncio no Mundial, Neymar voltou a tirar partido do seu potencial mediático, quando comentou as críticas, meses mais tarde, mas num anúncio de um patrocinador. «Às vezes eu exagero», admitiu.

Todos os Mundiais:

1930, a aventura da primeira vez

1934, Itália na Coppa do regime

1938, de novo a Itália entre os ventos da Guerra

1950, quando o Uruguai gelou o Maracanã

1954, quando a Alemanha travou a magia

1958, com o menino Pelé o Brasil enfim deu certo

1962, o génio de Garrincha à solta no bicampeonato do Brasil

1966, Eusébio para a lenda na festa inglesa

1970, a perfeição no tri do Brasil e de Pelé

1974, quando a Alemanha ganhou mas a revolução foi o Futebol Total

1978, a primeira vez da Argentina e muito para lá de futebol

1982, da fiesta aos choques e de Sarriá ao tri da Itália

1986, o recreio de Maradona

1990, e no fim ganhou a Alemanha

1994, o tetra do Brasil na festa made in USA

1998, um Fenómeno perdido na primeira vez da França

2002, o Fenómeno renascido no penta do Brasil

2006, a epopeia de Portugal, a cabeça de Zidane e o tetra da Itália

2010, um novo continente e um novo campeão

2014, a Alemanha é tetra e de caminho destrói o Brasil