* enviado-especial ao Brasil

Sem glória, mas com um pingo de honra. Portugal arrancou a ferros a única vitória no Mundial e evitou, pela primeira vez, deixar a fase final de uma grande competição com a coluna dos triunfos a zero. A vitória sobre o Gana não foi brilhante, não teve os números que eram necessários mas esteve muito perto de nem ser uma vitória. Foi quase na última corrida, no último esforço e, ao mesmo tempo, entregue de bandeja.

Dois golos oferecidos, várias oportunidades desperdiçadas, novamente incríveis erros defensivos e uma vontade que não chega quando não há pernas. Os jogadores até quiseram, mas não conseguiram mais. É o fim da linha para o grupo de Paulo Bento. No local onde se previa desde o desastre de Salvador.

Analisando o que foi o jogo, não é difícil perceber que Portugal teve ocasiões suficientes para construir o resultado que precisava. Sim, que precisava, porque a Alemanha bateu os EUA e Portugal cai do Mundial pela goleada sofrida no primeiro jogo.

O que aconteceu, então? Ronaldo, é preciso dizê-lo, desperdiçou parte delas. Atirou à trave na fase inicial, num lance meio fortuito, meio intencional. No único cruzamento que João Pereira acertou, permitiu de forma incrível a defesa a Dauda. Depois de ter feito o 2-1, numa oferta do guardião ganês, teve mais…três! Uma atirou por cima, nas outras duas permitiu a defesa.

Números anormais para uma máquina de fazer golos e que demonstram o que já era óbvio: Portugal não teve, neste Mundial, o Ronaldo que precisava. Com o avançado do Real Madrid em pleno, era possível sonhar. Com ele em baixo e muitos outros em nível francamente mau o desfecho tornou-se lógico. E inevitável.

O melhor meio-campo ao terceiro jogo?

Paulo Bento mudou o meio-campo, lançando William Carvalho e Ruben Amorim de início. O médio do Benfica ficou incumbido de ajudar o adaptado Miguel Veloso na esquerda, trabalho que, como se sabe, Ronaldo não faz.

Na frente, Éder era o farol dos ataques portugueses, mas, é preciso dizê-lo, foi um farol muito desalinhado. Tarde para esquecer do avançado do Sp. Braga. O pior é que não foi o único.

João Pereira confirmou o péssimo Mundial, Veloso não escondeu naturais limitações naquele lugar, Bruno Alves voltou a estar nervoso em demasia, Nani pouco fez e João Moutinho, que até terminou a primeira parte com nota positiva, naufragou completamente na segunda.

O turbilhão de momentos para esquecer de Portugal neste Mundial teve o ponto final em Brasília, frente a uma seleção do Gana, que, mesmo com a união do grupo feita em cacos pelos problemas com o pagamento aos jogadores e as expulsões, na manhã do jogo, de Muntari e Kevin-Prince Boateng, quase evitou a derrota frente a uma equipa de Portugal que quis ser combativa mas foi, essencialmente, desorganizada.

Teve mais e melhores oportunidades, poderia ter ido para o descanso com uma vantagem confortável, mas acabou traída por erros próprios minutos depois de a Alemanha fazer a sua parte frente aos EUA. Na prática o «E se» de Portugal durou uns dois minutos. O espaço de tempo entre o golo de Muller, no Recife, e o empate de Gyan, em Brasília.

Salvou-se o triunfo…

Imitando o padrão do jogo com os EUA, Portugal chegou ao golo através de um mau cruzamento de Veloso. Marcou John Boye, na própria baliza. Erro incrível e Portugal sonhava.

O empate de Gyan, a cabecear nas costas de Miguel Veloso finalizando um lance que começou num mau passe de Moutinho a meio campo, acabou com a esperança. Restava, então, tentar, pelo menos, ganhar o jogo.

E a vitória caiu do céu, praticamente. Oferta incrível de Dauda e Ronaldo atirou para a vitória.

Ninguém festejou. Varela colocou a bola no círculo central mas era tarde. O milagre de Brasília não passou de uma miragem e Portugal vai para casa mais cedo, como era mais provável. Mais do que a eliminação, o problema é a nuvem cinzenta que parece estar em cima desta equipa. Os próximos tempos ameaçam ser de renovação.

Problemas para resolver em solo português. A epopeia no Brasil terminou. Sem glória e só com um pouquinho de brio.