«Parece proibido falar bem de Dunga. Ou mesmo da equipe brasileira depois do 7-1, vergonha sem precedentes. O bom início de Dunga não apaga nem apagará o que aconteceu, também não indica que o Brasil seja favorito a ganhar a Copa América, muito menos a Copa do Mundo daqui a três anos. Os elogios são presentes, não mudam o passado nem preveem o futuro».

«A vitória sobre a França foi convincente. Difícil, rara e contundente, revelou ainda capacidade de não se abater depois de sofrer um gol diante de milhares de franceses eufóricos. O Brasil atuou em situação adversa exatamente da mesma maneira que fez nas outras partidas, totalmente dominadas. Isso é uma virtude importante na formação de um time vencedor.»

ALEXANDRE LOZETTI, jornalista Globo Esporte, sobre Dunga


O regresso de Dunga ao comando do escrete, depois do trauma do falhanço do Brasil de Scolari no Mundial, gerou controvérsias e fez franzir muitos sobrolhos.
 
Em tempo de necessidade de virar de página e de renovação no futebol brasileiro, a CBF ignorou as correntes que defendiam a contratação de um técnico com o perfil de Tite, Paulo Autuori, Cuca ou Leonardo e acabou por optar, em julho passado, pela contratação de Dunga, o selecionador que, em 2010, orientou o escrete no Mundial da África do Sul.
 
Dunga, que tem relação próxima com o desacreditado líder da Confederação Brasileira, José Maria Marin (em fim de mandato e a passar a «pasta» a Marco Polo del Nero), parecia não ser o treinador em melhores condições de fazer ruturas, para mais numa fase em que o clima entre a CBF e os futebolistas brasileiros se encontra particularmente tensa.

Experimentar sempre a ganhar

A verdade é que nove meses depois do início da era Dunga, parte II, o saldo não podia ser mais positivo: oito jogos, oito vitórias, 43 jogadores testados, subida ao sexto lugar no ranking da FIFA e melhor defesa entre as seleções do «top ten», pós Mundial (apenas dois golos sofridos). 

Nem sempre com grandes exibições, é certo, mas para já com 100% de vitórias frente a oito adversários com grau de dificuldade entre o médio/alto e o muito elevado: Colômbia, Equador, Argentina, Japão, Turquia, Áustria, França e Chile.

Esta série garante, aliás, a Dunga o estatuto de selecionador com maior percentagem de vitórias na história do escrete (80%), tendo ultrapassado já os valores de Mário Zagallo

Contando com a primeira passagem, e somando agora as oito vitórias em oito jogos, Dunga tem agora, em 68 partidas, 50 vitórias, 12 empates e seis derrotas. 

Copa América, primeiro teste

«A Copa América é uma competição e, dentro disso, vamos colocar jogadores que já jogaram e deram resposta. Não é lugar de testar jogador. Fica difícil para quem nunca jogou na Seleção. Todos os jogadores que nunca atuaram ou fizeram duas ou três partidas, dificilmente deram certo na Seleção»

DUNGA

Dunga testou 43 jogadores em quatro convocatórias e oito partidas, nestes nove meses. 

Apesar da diversidade, o essencial das escolhas para a Copa América, primeiro grande teste desta segunda era de Dunga como técnico da seleção brasileira.

Para a baliza, Jefferson e Diego Alves estão garantidos. O terceiro guarda-redes será um destes dois: Marcelo Grohe, do Grêmio, ou Victor, do Atlético Mineiro.

A aposta em Danilo e Alex Sandro à espreita
 
Na defesa, Danilo, portista que será do Real Madrid a partir da próxima época, ganhou o lugar à direita e já mereceu grande elogio do próprio Dunga. Filipe Luís é concorrente forte para o mesmo posto. 

À esquerda, outro portista, Alex Sandro, luta por uma vaga, mas Fabinho é a primeira opção, com Marcelo, do Real Madrid, como principal alternativa. 

Quanto aos centrais, não há grandes dúvidas:  Thiago Silva, David Luiz, Marquinhos e Miranda são os quatro nomes de Dunga. 

No meio-campo há questões em aberto. Se Luiz Gustavo, Elias, Fernandinho, Oscar e William estão garantidos, haverá doi ou três lugares por preencher, entre o portista Casemiro, o ex-portista Souza, Rómulo, Philipe Coutinho, Douglas Costa e Lucas Silva.

Já no ataque, além da vedeta Neymar, há dois nomes emergentes na era de Dunga: Diego Tardelli e Roberto Firmino. Entre Robinho e Luiz Adriano, um deles também deverá ter hipóteses de fazer parte das escolhas finais, a divulgar em maio. A Copa América, a realizar no Chile, está marcada para o período entre 11 de junho e 4 de julho.

O Brasil fará ainda, até lá, amigáveis com Honduras e México. Dunga tem, por isso, boas hipóteses de chegar à Copa América com... dez vitórias em dez jogos.
 
DUNGA CAPITÃO DO BRASIL NO «TETRA» DE 1994
 
 
 
 
Dunga tem fama de técnico excessivamente cauteloso, aplicando no banco a forma como atuava em campo: sem grandes rasgos, com mais cérebro que emoção, preferindo não sofrer e marcar pouco, desde que isso garanta a vitória.

A verdade é que foi assim que o Brasil chegou ao «tetra», em 1994, com Dunga capitão de um escrete que venceu uma das finais menos interessantes da história dos Mundiais: 0-0 com triunfo nos penáltis sobre a Itália de Roberto Baggio (que viria a falhar a grande penalidade decisiva, ao atirar muito por cima).

Ele explica neste vídeo como foi:

«A gente não pode querer superar a falta de organização, humildade e superação só com a técnica»
 
 
 

Na era Dunga, parte I como selecionador, o jogo com a Holanda ditou o afastamento do Brasil do África do Sul-2010...

DUNGA EM 2010: CORREU MAL
 
 
 

A era Dunga, parte II está a começar muito bem e até deu para exorcizar o fantasma de 1998 do Stade de Franca, com a vitória recente sobre a França, numa grande segunda parte brasileira...

FRANÇA-BRASIL, 1-3
 

 


É, parece que não é fácil dizer bem de Dunga e isso tem muito a ver com o estilo autoritário e, por vezes, «zangado», do selecionador brasileiro...


DUNGA: MAU FEITIO NÃO É SÓ FAMA, NÃO
 
(Os jornalistas Alex Escobar e Milton Neves que o digam)
 
 
 

B.I.


DUNGA 
Nome: Carlos Caetano Bledorn Verri 
Data de nascimento: 31 de outubro de 1962 (52 anos) 
Naturalidade: Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil 
Altura: 1,77 metros 

Percurso como jogador: Internacional de Porto Alegre (1983-84), Corinthians (84-85), Santos (86), Vasco da Gama (87), Pisa, Itália (87-88), Fiorentina, Itália (88-92), Pescara, Itália (92-93), Estugarda, Alemanha (93-95), Jubilo Iwata, Japão (95-98), Inter de Porto Alegre (1999-2000), Brasil (1987-1998, 91 jogos, 7 golos) 

Percurso como treinador: Brasil (2006-2010), seleção olímpica Brasil, Jogos 2008; Inter de Porto Alegre (2013), Brasil (2014)

 
«Mundo Brasil» é uma rubrica que conta histórias das experiências de jogadores e treinadores brasileiros que atuam ou já atuaram em campeonatos espalhados pelo globo