Maria Mutola regressou às origens. Muito antes de ser campeã olímpica em Sidney, nos 800 metros, e de muitas outras medalhas conquistadas na carreira, a atleta moçambicana jogava futebol nas ruas de Maputo.
Em Joanesburgo, na África do Sul, terra que adoptou como segunda casa, Maria Mutola, de 37 anos, joga na principal liga feminina e está prestes a ajudar a sua equipa, a Luso África, a ganhar na região e qualificar-se para os «play-offs» nacionais. Desde que se retirou do atletismo, há um ano e após 16 a viver e treinar nos Estados Unidos.
«É bom ter algo para fazer e os treinos não são como dantes. É mais agradável agora, porque posso comer aquilo que quiser. E se o tempo está mau, não preciso de ir treinar. Antes tinha de seguir à risca as regras», observou a ex-campeã ao Sunday Times da capital sul-africana.
Aos 37 anos seria de esperar que Mutola jogasse num sector mais recuado, mas Mutola é a melhor marcadora da equipa. «Em cinco/seis jogos marquei oito/nove golos. E marquei quatro só num jogo», contou.
Foi como futebolista que Mutola foi descoberta pelo poeta José Craveirinha, que a convenceu a tentar o atletismo. E foi assim que chegou aos Jogos Olímpicos de Seul, com 14 anos. Fez o seu melhor tempo nos 800 metros, terminou no último lugar da sua série, mas nunca mais olhou para trás. «Os Jogos só acontecem de quatro em quatro anos na carreira. Tive de ir a três antes de finalmente ganhar, nos meus quartos. Vi em Sidney a minha última oportunidade para ganhar», lembrou Mutola, a única atleta a ganhar um milhão de dólares [740 mil euros, actualmente] na Golden League, em 2003, dinheiro que usou também para a criação de uma fundação, que oferece bolsas escolares a atletas e alunos de Moçambique.