Pelé anunciou, neste domingo, o regresso dos New York Cosmos. Os galácticos originais, as super-estrelas do futebol norte-americano, estão de volta após um interregno de um quarto de século. Na década de 70, este sonho americano surpreendeu o Mundo.

A Warner Communications, inesgotável fonte de capital, criou um fenómeno sem paralelo numa sociedade pouco habituada a conviver com o «soccer». Os NY Cosmos popularizaram-se com nomes como Pelé, Carlos Alberto, Beckenbauer, Chinaglia ou Neskeens. O português Seninho estava entre eles.

«É difícil repetir um fenómeno como aquele. Quando cheguei, em 1978, éramos os verdadeiros galácticos. Vi o estádio dos New York Giants, com 76 mil pessoas, várias vezes esgotado. Já havia ecrâns gigantes, cheerleaders, animações antes do jogo e ao intervalo, até estádios com relva artificial. Naquela altura, diziam que os americanos eram malucos por jogar em relva artificial», recorda Seninho, em conversa com o Maisfutebol, ao rebobinar o filme de uma aventura inesquecível.

A máquina impressionava. Os jogadores desdobravam-se entre as competições e os eventos sociais. «Mal cheguei, disseram-me logo que tinha de aprender inglês. Não estava ali só para jogar futebol. Ainda por cima, ali não sabiam quem era o Seninho. A minha sorte foi ter brilhado numa vitória do F.C. Porto frente ao Man. United. Deu na televisão e, na manhã seguinte, estava reunido com os responsáveis da Warner», diz o antigo avançado.

Pelé a chegar aos estádios de helicópetro

Seninho chegou aos Estados Unidos em 1978, ainda na fase dourada dos New York Cosmos. Pelé foi o porta-estandarte da equipa americana. Nessa altura, jogava apenas os particulares. Sempre com estatuto de estrela: «Foi há 32 anos, mas o Pelé já chegava de helicóptero. Íamos de costa a costa, não raras vezes, em avião particular, da empresa. Certa vez, pagaram a viagem a todas as nossas famílias, para estarem connosco oito dias. Pagaram hotel, tudo. Era algo extraordinário, na altura.»

Os NY Cosmos venciam quase sempre. Arrastavam multidões para os estádios e convenciam milhões de jovens a descobrir o «soccer». Multiplicaram-se os títulos, entre a década de 70 e o início de 80. Porém, com o tempo, surgiram os incontornáveis problemas.

«A dada altura, a Liga chegou a acordo com o Cosmos para distribuir jogadores por outros clubes. O Cruijff foi para Washington, o Cubillas e o Gerd Muller foram para Fort Lauderdale, por exemplo», enumera Seninho, actualmente com 61 anos. Eusébio também participou no desfile de estrelas na América do Norte.

O fim das estrelas para o início da formação

Os adeptos apaixonavam-se pelo fenómeno, as equipas apostavam em estrelas de renome internacional. Contudo, a «galáxia» dos New York Cosmos desapareceu em 1984. Aos poucos, os jogadores norte-americanos foram reclamando o seu espaço e alteraram a lógica vigente.

«Nesse tempo, eles não tinham tanta qualidade como hoje. Quando cheguei, eram nove estrangeiros e dois americanos por equipa. Depois quiseram reduzir, primeiro oito estrangeiros depois sete. Em 1984, jogavam apenas seis. Com isso, o público afastou-se e o encanto perdeu-se. Os NY Cosmos desapareceram nesse ano», lembra o antigo avançado.

26 anos depois, os Cosmos estão de volta. Pelé anunciou o regresso, no lançamento de um projecto assente na formação. «Once in a Lifetime», «Uma vez na vida». Eis o nome do documentário que relata a história daquele fenómeno. Irrepetível, concorda Seninho.