Com a saída de Pablo Osvaldo abriu-se uma vaga no ataque do «Dragão» e rapidamente várias nomes vieram à baila, sendo que o de Suk foi sempre o mais forte. Aliás, já há alguns dias que se esperava a oficialização do negócio, Quim Machado (o seu treinador em Setúbal) tinha até confirmado a sua transferência para a Invicta, algo que só foi feito na noite de quinta-feira.

Suk foi apresentado e afirmou que quer fazer do FC Porto o «melhor clube do mundo», mas para isso terá de ir contra as estatísticas. O sul coreano é o nono avançado que o clube azul e branco compra no mercado nacional no século XXI e nenhum dos outros saiu do FC Porto pela porta grande. Só um apresenta números condizentes com a grandeza do clube: Derlei.

O Ninja foi contratado à União de Leiria por José Mourinho, depois de três épocas na cidade do Lis e venceu tudo o que tinha para ganhar de «dragão» ao peito, sendo uma das figuras das conquistas da Taça UEFA e Liga dos Campeões, em 2003 e 2004, respetivamente.

O caso de Suk é diferente já que Derlei iniciou a época na Invicta, depois de ter feito 21 golos na época de 2001/02 em 33 jogos na U. Leiria. Na época de estreia no FC Porto (2002/03) quase superou essa marca, fazendo 20 golos em 42 partidas realizadas.

A regularidade manteve-se na época seguinte que culminou em Gelsenkirchen com o triunfo na Champions. Derlei não marcou na final, mas foi decisivo até lá. Sabem quem marcou o golo em Corunha que deu o passaporte para o jogo decisivo? Pois, o Ninja, de penálti.

Esse foi um dos seus 18 golos (em 33 jogos) da temporada em que o FC Porto foi mesmo o melhor da Europa. Na seguinte seria o melhor do mundo, como Suk quer, com a vitória na Taça Intercontinental frente ao Once Caldas. Derlei estava no «onze», mas não marcou (empate a 0-0 e decisão nas grandes penalidades). Aliás, pouco tempo depois desse jogo abandonaria o Dragão para a Rússia. 1 golo em 20 jogos foi o registo em 2004/05, a última de azul e branco.

Derlei foi o único avançado que o FC Porto recrutou no mercado nacional e que se pode equiparar a nomes como os de Falcão, Lisandro ou Jackson Martínez, todos eles vindos do estrangeiro.



Será que Suk vai seguir as suas pisadas? Ou o caminho será o mesmo dos outros sete?

Se excluirmos Derlei, as outras sete contratações de avançados no mercado nacional foram... falhadas. Começamos pelo primeiro do século e logo um que veio de um rival... o Benfica.

Edgaras Jankauskas chegou ao FC Porto no verão de 2002 (tal como Derlei) depois de ter representado as «águias» durante os primeiros seis meses desse ano. O jogador tinha sido emprestado pela Real Sociedad ao clube da Luz, mas no final da temporada o Benfica não avançou para a compra e os «dragões» chegaram-se à frente.

Ao serviço do Benfica marcou oito golos em doze jogos e no FC Porto, com a forte concorrência de Derlei e Hélder Postiga, o atual selecionador lituano ainda deixou a sua marca na primeira época. 14 golos em 44 jogos, sendo que desses encontros só 17 foram como titular. Para o campeonato marcou 9 golos.

A época culminou com a conquista da Taça UEFA em Sevilha, tendo Jankauskas alinhado em nove das partidas até à final (três como titular). O avançado continuaria ao serviço de José Mourinho na temporada de ouro do clube, mas perdeu importância com a chegada de Benni McCarthy. 38 jogos, 11 como titular e apenas cinco golos, três deles para a Taça de Portugal.

Acabaria por sair no final da temporada 2003/04 rumo ao Nice (França), onde em 21 jogos não marcou nenhum golo.

Depois de Edgaras Jankauskas e Derlei, o FC Porto só voltou a comprar um «9» no mercado nacional no verão de 2005. Sabem de onde veio esse avançado? Do Benfica, novamente.

Tomo Sokota estava em final de contrato com os encarnados, clube que representou entre 2001 e 2005. Pinto da Costa estava atento e convenceu o croata a rumar à Invicta, onde não foi nada feliz. As lesões voltaram a assolar o jogador que em ano e meio fez apenas quatro jogos, sem conhecer o que é marcar de dragão ao peito.

No Benfica tinha feito oito golos em 19 jogos, na sua última época, aquela que deu o título ao conjunto comandado por Giovanni Trappatoni. No Estádio do Dragão, o avançado foi bicampeão, mesmo sem importância nas campanhas. Saiu em janeiro de 2006 para representar o Dínamo de Zagreb.

Entretanto no FC Porto surgia um goleador improvável: Lisandro López. Depois de duas primeiras épocas com números discretos, em 2007/08 o argentino «explode» e não deixa que ninguém o supere na frente de ataque. 27 golos em 41 jogos não deixaram que Edgar Silva, que chegou no Verão proveniente do Beira-Mar, pudesse provar o seu valor.

Na altura com 21 anos, o brasileiro fez apenas três jogos, sem marcar, e logo em janeiro saiu para a Académica emprestado. O avançado tinha sido figura dos aveirenses com seis golos em 16 jogos, o que impressionou os dirigentes dos portistas.

A concorrência era muito forte no plantel treinado por Jesualdo Ferreira com Farías, Adriano e Postiga a estarem à sua frente para substituir Lisandro. Mais tarde, Edgar viria a ser figura do Nacional (2009/10) e do Vitória de Guimarães entre 2010 e 2012. Atualmente joga nos Emirados Árabes Unidos ao serviço do Al Wasl.

Ora nessa mesma época, o FC Porto voltaria a recorrer ao mercado nacional, desta vez em janeiro. Edgar Silva saiu tal como Hélder Postiga e os «dragões» agarraram a então promessa: Rabiola.

Ainda com 18 anos, o português chega aos portistas depois de dar nas vistas no V.Guimarães, onde fez a sua formação. Estreou-se com 17 anos e marcou um golo em cinco jogos (2006/07), sendo de imediato comprado pelos azuis e brancos. Ficou em Guimarães a evoluir na primeira metade da temporada 2007/08 e teve o mesmo registo até janeiro (1 golo em 5 jogos). Com as tais saídas foi chamado para a segunda metade do campeonato.

Nessa mesma época só fez um jogo sob o comando de Jesualdo Ferreira, por culpa da concorrência, da idade e de uma lesão grave em abril, que o deixou sete meses sem jogar.

Era uma promessa para futuro, mas que nunca se confirmou. Em 2008/09, após o regresso em novembro, fez cinco jogos e marcou um golo. O tento, único que festejou na Invicta, foi apontado para a Taça da Liga contra o V.Setúbal.

O avançado acabaria por ser sucessivamente emprestado a Olhanense e Aves e em 2011/12 vinculou-se ao Feirense. Atualmente alinha na Académica.

As apostas nacionais continuaram e Orlando Sá foi quem se seguiu em 2009/10. Após uma época em Braga com dois golos marcados em 16 encontros, o avançado (na altura com 22 anos) fez a viagem para o FC Porto, já com uma internacionalização somada.

Também não vingou no «Dragão» numa época em que Radamel Falcao era figura, juntamente com Hulk. O português tinha ainda Farías num patamar superior e fez apenas 11 jogos e marcou um golo, tal como Rabiola, para a Taça da Liga frente ao Estoril.

Para o campeonato nunca foi titular, sendo suplente utilizado por duas vezes. Foi emprestado ao Nacional na temporada seguinte e saiu para o Fulham em 2011. Agora brilha no Reading, depois de passagens pelo Chipre e Polónia.



Mais nenhum português foi comprado para a posição central do ataque, mas ainda houve mais dois jogadores que o FC Porto contratou. Kléber deu nas vistas pelo Marítimo e os «dragões» compraram o seu passe ao Atlético Mineiro enquanto Nabil Ghilas veio diretamente do Moreirense.

De todo este lote de jogadores, o brasileiro ex-Marítimo foi o único que foi contratado com o objetivo de ser titular de imediato e logo para assumir o lugar que era de Falcao, em 2011/12. Kléber tinha marcado 16 golos em duas épocas nos «insulares» (oito em cada) e no FC Porto conseguiu superar a marca: 33 partidas e 10 golos.

O ponto alto foi o golo marcado ao Benfica, no clássico em casa, mas o jogador nunca caiu nas graças dos adeptos. Marc Janko chegou em janeiro e assumiu a titularidade. Começou 2012/13, fez mais 10 jogos (mais um golo), mas sairia para o Palmeiras, a título de empréstimo.

Voltaria à Invicta, mas nunca mais vestiu a camisola da equipa principal dos «Dragões». Jogou uma época na equipa B e em 2014/15 representou o Estoril. Este verão rumou ao Beijing Guoan, da China.

Antes de Suk, chegou Nabil Ghilas, na época em que Paulo Fonseca era o treinador do FC Porto. O argelino era a alternativa a Jackson Martínez e fez 35 jogos, a maior parte como suplente (28). Marcou quatro golos, dois deles decisivos para a Liga Europa: um em Nápoles e outro em Frankfurt, que deram apuramentos.

Ghilas chegou ao FC Porto vindo do Moreirense e depois de uma época de estreia na 1ª Liga, na qual marcou 16 golos em 37 jogos. Números interessantes para um avançado de um conjunto que lutou pela manutenção e que tinha acabado de subir ao escalão máximo do futebol português.

Após uma época, o avançado foi emprestado ao Córdoba e este ano cedido ao Levante. No final de 2015/16 regressa ao clube porque ainda tem vínculo com os «dragões».

Suk é assim o nono avançado que chega proveniente do mercado nacional no século XXI e se tivermos em conta os números dos seus oito antecessores na última época antes de rumar à Invicta, o sul coreano destaca-se, (ver tabela) já que tem 11 golos em meia época enquanto os restantes (excetuando Rabiola e Jankauskas) concluíram as épocas nos seus clubes.

Só Derlei (21) e Ghilas (16) passaram a marca de golos que Suk tem neste momento e fazendo a média, apenas Derlei e Jankauskas ultrapassam o novo reforço.

Golos dos avançados na época antes de rumar ao Dragão:

Jankauskas – 8 golos em 12 partidas – 0,67% golo/jogo (Benfica)**
Derlei – 21 golos em 33 partidas – 0,64% de golo/jogo (U. Leiria)
Suk – 11 golos em 20 partidas - 0,55% de golo/jogo (V.Setúbal)*
Ghilas – 16 golos em 37 partidas – 0,43% golo/jogo (Moreirense)
Sokota – 8 golos em 19 partidas – 0,42% golo/jogo (Benfica)
Kléber – 8 golos em 20 partidas – 0,40% golo/jogo (Marítimo)
Edgar Silva – 6 golos em 16 partidas – 0,38% golo/jogo (Beira-Mar)
Rabiola – 1 golos em 5 partidas - 0,20% golo/jogo (V. Guimarães)*
Orlando Sá – 2 golos em 16 partidas – 0,13% golo/jogo (Sp.Braga)

*integraram o plantel do FC Porto em janeiro
**só jogou seis meses no Benfica

Golos ao serviço do FC Porto:

Jankasukas – 19 golos em 82 jogos (2002/03 e 2003/04)
Derlei – 39 golos em 92 jogos (2002/03, 2003/04 e primeira metade de 2004/05)
Sokota – 0 golos em 4 jogos (2005/06 e primeira metade de 2006/07)
Edgar Silva – 0 golos em 3 jogos (metade de 2007/08)
Rabiola – 1 golos em 5 jogos (de janeiro até final de 2007/08)
Orlando Sá – 1 golo em 11 jogos (2009/10)
Kléber – 11 golos em 43 jogos (2011/12 e primeira metade de 2012/13)
Nabil Ghilas – 4 golos em 35 jogos (2013/14)