Uma lição de vida. Assim se pode descrever a entrevista do nadador espanhol Rafael Muñoz, que anunciou recentemente a retirada da alta competição aos 28 anos.

Numa conversa desarmante aos microfones da Cadena Cope, Muñoz confessou como a sua vida mudou assim que estabeleceu em 2009 o máximo mundial dos 50 metros mariposa, recorde que ainda detém.

«Tenho gravado a fogo quando no dia seguinte tinha 123 chamadas não atendidas de meios de comunicação. Muita gente encaixa bem no êxito e eu não», começou por reconhecer.

A partir dessa altura, em que tirou mais de meio segundo ao anterior recorde mundial (era de 22,96 centésimos e nadou a distância em 22,43 centésimos), a carreira de Rafael Muñoz entrou numa espiral descendente. No verão seguinte realizaram-se os Mundiais de Roma, onde o nadador espanhol conquistou duas medalhas de bronze, numa altura em que já apresentava um quadro depressivo. «Estive sem nadar 15 dias antes dos Mundiais de Roma e os meus pais foram ter comigo porque não queria competir. Tinha medo do que podia conseguir, das minhas capacidades.»

Rafael Muñoz confessou que nem as medalhas o animaram. Começou a sair e deixou a natação para segundo plano. «Tive três advertências porque não comunicava onde ia estar para os controlos antidoping. A minhas férias duraram cinco meses, a beber.» Copos, noitadas, peso a mais e muitas dúvidas na cabeça: desistir ou não, da natação e da vida.

«Tentei suicidar-me duas vezes. Vivo num quinto andar, com isso digo tudo. Tive de procurar um profissional. Estou muito orgulhoso por ter superado isto», confessou.

Depois de superados os problemas, Rafael Muñoz regressou à competição. Ainda foi campeão da Europa, mas nunca mais conseguiu voltar ao nível de 2009 e acabou por afastar-se gradualmente da alta competição, mas não das piscinas. «Continuo a nadar, mantenho a forma, mas não vou nadar sem um objetivo», disse Muñoz, revelando que quer seguir carreira na polícia.