Capitães de areia, bando de miúdos à solta, doce rebeldia adolescente. Não é romance ou novela. É realidade rebuscada nas memórias mais pueris. Ano de 2006, Nélson Oliveira chega ao Benfica carregado de sonhos. E medos. Vem do Norte acompanhado por Fábio Pereira. Ainda não o sabe mas, durante os dois anos seguintes, o guarda-redes torna-se na sua sombra.

«Andávamos sempre juntos. Vivíamos no centro de estágio, almoçávamos e jantávamos lado a lado, jogávamos playstation. Ajudámo-nos muito», conta o amigo de Nélson Oliveira ao Maisfutebol.

A família lá longe, as horas por matar, demasiado tempo livre e mentes fervilhantes. Os treinos eram insuficientes para sossegar a adrenalina dos 15/16 anos. E quem pagou? Um segurança do Complexo Desportivo do Seixal.

A palavra a Fábio Pereira. «O centro de estágio tinha dois seguranças. Um deles andava sempre preocupado, o outro era muito nosso amigo. Certo dia, eu, o Nélson e outros colegas decidimos pregar-lhe uma partida.»

E que partida, senhores! «Simulámos um assalto. É verdade. Tapámos as caras, combinámos com o outro segurança e fomos em frente. O homem ficou aflito! Fugimos, como um bom ladrão fugiria, e até fomos perseguidos de carro. As coisas estavam a aquecer e nós revelámos a nossa verdadeira identidade. Acabámos todos a rir, claro.»

Quando Rui Costa lhe fechou o ginásio

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Fábio Pereira jogara no Gil Vicente, passou duas temporadas no Benfica, regressou ao Minho para vestir a camisola do Sp. Braga e está agora no Santa Maria. A carreira de Nélson Oliveira tomou outro rumo. No discurso de Fábio não há ponta de inveja. Apenas saudade.

«Sei que posso contar com ele, se precisar. Merece tudo o que está a alcançar. Sempre foi ambicioso, determinado, dizia que chegava sempre onde queria. Na altura ríamo-nos, mas o tempo deu-lhe razão», considera Fábio, que nos pede desculpa. «Estou atrasado, tenho de ir trabalhar.»

A vida sorriu-lhes de maneira diferente. Diogo Figueiras estará no meio termo. É profissional de futebol, tal como Nélson, e foi forçado a sair do Benfica, tal como Fábio. Não triunfou no P. Ferreira e está cedido ao Moreirense.

Ao longo de três anos, entre 2006 e 2009, foi um dos amigos mais próximos de Nélson no Benfica. «Eu tinha uma limitação grande. Vivia em Vila Franca de Xira com os meus pais e não podia acompanhá-los nas maluqueiras deles», confessa, meio envergonhado.

«A ascensão do Nélson não me surpreende nada. Sempre teve enorme qualidade. Devo-lhe um dos grandes momentos da minha vida. No jogo decisivo, quando eramos juvenis A, é ele que faz a assistência para um golo meu. Fomos campeões.»

Conquistar ao primeiro toque de bola

Chegar de Barcelos, um perfeito estranho, aparecer diante de um grupo novo e conquistá-lo ao primeiro toque na bola. É mais ou menos assim que se conta a aparição de Nélson Oliveira nos treinos do Benfica.

«Ninguém o recebeu mal, pelo contrário. Era fácil gostar dele, conversava com toda a gente. Impôs-se rapidamente porque era, de facto, superior aos outros. Muito rápido, fortíssimo e com capacidade para rematar com qualquer um dos pés», recorda Diogo Figueiras.

A amizade, sólida, resiste à distância geográfica e ao avançar dos anos. «Foi com ele que me aconselhei antes de ir para o Paços de Ferreira. Ele jogou lá e convenceu-me a aceitar.»

João Alves, Diamantino Miranda e João Couto treinaram Nélson nas camadas jovens do Benfica. Este último fala carinhosamente do menino que conheceu há seis anos. «Apresentava características muito interessantes. Sentimos que podia dar jogador. Adorava treinar, era muito interessado. Fico feliz pelo que está a viver», referiu à RR.

E pensar que esta história ainda está a começar.