O pai Adélio Oliveira garante que o filho só teve três paixões em miúdo: o futebol, as bicicletas e... o cavaquinho. É verdade: Nelson Oliveira chegou a inscrever-se numa escola de música para aprender a tocar o instrumento muito próprio do Minho. «Até um dia que achou que não dava para tudo e desistiu.»

O futebol, afinal, estava no sangue da família: o pai nutria uma paixão louca pela bola. Já o avô tinha deixado a política e sobrava-lhe muito tempo livre. Tudo somado levou Nélson Oliveira ao prazer dos jogos infantis. Natural de Carreira, perto de Barcelos, o jovem começou pelo óbvio: o Gil Vicente.

No entanto não durou muito: um par de treinos, apenas. Até que surgiram duas pedras no caminho. «Não gostei daquilo», conta o pai Adélio Oliveira. «Os miúdos treinavam no campo do Andorinho, com duas pedras a fazer de baliza. Nem sequer tinha um responsável a olhar pelas crianças.»

Por isso Nélson Oliveira deixou o Gil Vicente e foi levado ao mais pequeno Santa Maria. Também da cidade. Outra vez pela mão do avô. «Fez um treino e ficou um mês sem voltar. Pensei que não vinha mais. Fiquei triste porque já era um miúdo superior aos outros, apesar de mais novo dois anos.»

Quando o avô se chateou com um treinador...

As palavras são de Eusébio Fernandes, o primeiro treinador da carreira do jovem. «Cerca de um mês depois voltou. Tinha estado doente.» Durou apenas um ano e pouco. Até que o avô não gostou de uma conversa que ouviu nas bancadas. «Foi num dia em que o Nélson chegou atrasado a um treino.»

Um dos treinadores disse-lhe então que não podia chegar atrasado. «Mister, tenho aulas. Foi por isso que me atrasei», ripostou. «Tens de decidir: ou queres estudar ou queres jogar futebol.» Ora o avô não gostou, claro. «O que é que você está a dizer? É uma criança de 11 anos. Tem é de estudar.»

... e quando o pai se chateou com outro...

Augusto Castro pegou no filho e levou-o para Braga. Um pouco mais longe de casa, mas num clube também maior, Nelson Oliveira voltou a agradar. «Fez um treino e ficou. Disseram que tinha muitas qualidades.» Em Braga, Nelson Oliveira cumpriu três épocas de formação. Sempre levado pelo avô.

Até um dia, claro. «Chateei-me lá com um treinador», conta o pai. «Ele estava a jogar com os outros miúdos da idade dele e era claramente superior. Fui falar com o treinador para o meter no escalão acima e respondeu-me que o meu filho não era mais do que os outros. Mas ali não estava a progredir.»

Nelson Oliveira era então seguido por Benfica, F.C. Porto, Sporting e Chelsea. «Nisto o Sp. Braga vem falar comigo para fazermos contrato de formação. Disse-lhes que não. Acertámos tudo com o Benfica e deixei-o a jogar em Braga mais um ano, mas já com tudo certo com o Benfica para o ano a seguir.»

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Na Luz, e apesar das dificuldades, o impacto foi imediato. Com 16 anos assinou então contrato profissional, pouco tempo depois (e ao lado do amigo Roderick) renovou contrato com cláusula de opção em trinta milhões. Na Luz está onde sempre quis. «Com nove anos já dizia que iria jogar no Benfica.»

No entanto está também sem esquecer as raízes. Eusébio Fernandes conta até que é frequente vê-lo no campo do Santa Maria. «Tem cá o irmão a jogar e vem ver os treinos. Cumprimenta toda a gente, fala com os miúdos, é muito humilde. Nunca esquece as raízes e ajuda quando pedimos.»

Ajuda até em dias de temporal. «Um dia liguei-lhe a pedir se não queria dar um treino aos meus miúdos. Respondeu logo que sim. Veio cá, estava a chover torrencialmente, mas ele não desistiu. Deu o treino normal, brincou com os miúdos e deixou-os todos contentes. Ele é assim, um rapaz cinco estrelas.»