O talento de Nélson Oliveira tem muito de genético: garante o pai, que o conhece desde sempre. O avançado do Benfica acrescenta-lhe, no entanto, um pormenor que faz toda a diferença. «É um trabalhador incansável», garante. «Está sempre a querer treinar, a querer fazer ginásio, progredir.»

Eusébio Fernandes foi o primeiro treinador, no pequeno Santa Maria, e concorda. «Era um miúdo cinco estrelas, muito educado, não criava problemas. Mas era ao mesmo tempo muito competitivo. Queria sempre mais: treinar mais, jogar mais. Já falava em ser jogador e era muito ambicioso.»

O pai Adélio Oliveira faz até um paralelo curioso. «O irmão dele e alguns primos também jogam à bola, mas não têm a mesma cabeça. Miúdos com talento há muitos, o que faz a diferença é muitas vezes a vontade de trabalhar e de progredir. O Nélson nesse aspecto sempre teve muito juízo.»

Quando Rui Costa lhe fechou o ginásio

Lições de cavaquinho e duas pedras no caminho

A noite do assalto ao centro de treinos

Ora foi essa vontade que o fez ultrapassar algumas dificuldades. Por exemplo quando largou a família aos 14 anos para ir para Lisboa. «O Bruno Maruta era o responsável da formação e dizia-me que de todos os miúdos o Nélson era o que tinha mais dificuldades em adaptar-se ao Seixal.»

O pai diz que nas conversas com o filho não percebia isso: dizia-lhe sempre que estava bem. Mas quem contactava com eles todos os dias percebia a agrura. «Passei a ir a Lisboa de 15 em 15 dias para estar com ele. Era um esforço físico e financeiro muito grande, mas valeu a pena.»

Nelson Oliveira nunca disse ao pai que queria desistir: ceder não faz parte dos seus princípios. Parecia até querer mostrar que estava tudo bem. «Com o tempo acabou por se adaptar e foi até o melhor aluno do Seixal», diz o pai. «Sempre foi bom aluno. Era muito aplicado em tudo o que fazia.»

O dia em que Vieira decidiu formar um campeão

Foi essa aplicação ao trabalho que lhe permitiu queimar etapas: foi emprestado ao Rio Ave como júnior de primeiro ano e ao P. Ferreira como júnior de segundo ano. «Foi muito importante. Há que agradecer ao Jorge Mendes, que percebeu que nos juniores não evoluía como devia», diz o pai.

«O João Camacho, colaborador do Jorge Mendes, estava encarregue de acompanhar a progressão do Nélson Oliveira e percebeu que ele não estava a melhorar como devia. Então falou com o Jorge Mendes e decidiram emprestá-lo. Foram falar com Luís Filipe Vieira, mas ele não queria deixar.»

O presidente do Benfica tinha a intenção de ser campeão e Nélson Oliveira era fundamental. O empresário perguntou-lhe se preferia ser campeão de juniores ou formar um ponta-de-lança campeão. Vieira cedeu. «Para ele foi muito bom, pôde jogar com os seniores e ficar em casa dos pais», conta.

Um ano e meio depois, com duas experiências na primeira divisão pelo caminho, o avançado estava finalmente preparado para se fixar no plantel do Benfica. Voltou a fazer a pré-época, como já tinha feito com Quique Flores, e cumpriu o sonho de criança: ficar no Benfica. Apreciar e aprender.

Adélio Oliveira conta até outro episódio curioso. «Mesmo nesta fase, quando estava sem jogar, nunca se queixou. Dizia-me que tinha era de treinar bem e trabalhar muito no ginásio para estar bem preparado fisicamente. Queria estar em forma para, no caso de ser emprestado, entrar imediatamente na equipa.»