Comecemos então a desenrolar as memórias. Como recordam a conquista da Supertaça de 1988? A resposta sai pronta e com um sorriso nostálgico a acompanhar.

«Lembro-me o que o treinador na altura, o Geninho, nos pediu. Propunha-nos entrar na história do clube, que ainda não tinha ganho nada. Foi uma forma simpática de nos encorajar e dos motivar. Realmente a mensagem passou muito bem e fomos autênticos conquistadores», referiu Neno.

Por sua vez Carvalho relembra as dificuldades passadas nessa conquista: «Fizemos o primeiro jogo com o estádio completamente cheio, ganhamos 2-0 com um golo do Décio António e outro golo do N¿Dinga a um Porto cheio de craques, mas nós fizemos um grande jogo em que fomos superiores em certos momentos do jogo».

O capitão não esquece o sufoco inicial do FC Porto: «A segunda mão foi no antigo Estádio das Antas, eles fizeram uma pressão muito forte e deram tudo nos primeiros 20 minutos. Como já disse, o Neno safou-nos e nós guardamo-nos bem na defesa e conseguimos não sofrer nenhum golo». Neno reforça essa mesma ideia: «No jogo das Antas valeu pela união, pela entreajuda e pela solidariedade que nós todos demonstramos em campo».

Festa mais comedida do que a da Taça de Portugal

Ambos os jogadores destacam a importância dos adeptos quer no jogo disputado no Municipal de Guimarães quer no Estádio das Antas. Mesmo sem perguntar, Neno fez questão de relembrar os adeptos: «Tenho de referir o apoio incondicional que nós tivemos. Não havia lugares nas Antas e os nossos adeptos estavam lá todos encavalitados uns nos outros. Havia uma bancada atrás da baliza que era toda nossa.»

Tal como há cerca de dois meses atrás aquando da conquista da Taça de Portugal, também a equipa de 1988 foi recebida no Largo do Toural. Os dois ex-jogadores festejaram a conquista da Taça e relembram que há 2 anos foi mais comedida.

«Quando chegamos a Guimarães não foi esta loucura toda como a Taça de Portugal, foi mais moderado um bocadinho, mas estava uma multidão à espera no Toural para comemorar connosco a Supertaça», disse António Carvalho.

Neno tem a mesma perspectiva: «Na altura foi feita a mesma festa que foi feita hoje, logicamente que com menos gente. Fomos recebidos no Toural, foi importantíssimo porque sabíamos que depois disso ficaríamos na história do clube».

Pouco mais do que o «orgulho» para recordar

Carvalho é natural de Guimarães, tal como refere Neno é um filho da terra e teve o privilégio de capitanear a equipa e ser o primeiro a levantar o troféu. À pergunta sobre o que sentiu naquele momento segue-se uma tentativa de fuga: «Sou adepto e sou sócio do Vitória, é o meu clube apesar de ter vestido outras camisolas. Se Deus quiser continuarei a ser sócio.»

Mas afinal o que sentiu? A expressão facial foi muito mais esclarecedora do que as palavras e a demora a responder conclusiva: «Senti o maior dos orgulhos, um orgulho mesmo muito grande. Era de cá da terra e por isso o sentimento foi diferente».

E pouco mais resta para além desse orgulho. Neno deu a camisola do jogo a um diretor do clube e atirou as luvas para a bancada. Carvalho também atirou a camisola para a bancada. Neno volta a destacar o apoio para justificar a ausência de recordações: «Não tenho a camisola desse jogo, dei-a ao diretor de futebol o Sr. Jorge Folhadela. Ninguém imagina o aglomerar de pessoas de Guimarães que estava atrás da baliza a ver o jogo. O mais certo é eu, depois de passada a ansiedade nos minutos finais, ter atirado as luvas para a bancada. Depois daquele apoio que tivemos... Alguém algures em Guimarães terá as luvas da conquista da Supertaça».