É uma das ligas profissionais mais mediáticas do mundo, é o campeonato que movimenta mais dinheiro no planeta e cuja final é o programa mais visto do ano na TV. Mas também é a liga com o maior cadastro criminal do Universo. E, ao que parece, nem a prisão impede os jogadores de se portarem mal.

Ou seja, a NFL [National Football League] tem um enorme problema. E é precisamente no período que atravessamos, entre o final da época e o início dos trabalhos, que a maior parte dos crimes acontecem. Desde o Superbowl deste ano, já foram detidos Jah Reid [Baltimore Ravens], Roddy White [Atlanta Falcons], Fred Davis [Washington Redskins] e uma superestrela como Ray Rice [Baltimore Ravens]. 

Ainda assim, Aaron Hernandez continua a ser o caso mais mediático dos últimos tempos. O ex-New England Patriots foi acusado de homicídio e está preso, sem fiança. A detenção já aconteceu em junho de 2013, mas Hernandez voltou a ser notícia nesta quarta-feira: terá ameaçado de morte um guarda-prisional e a família do mesmo. Nem as grades o detêm, pelos vistos.
  
A lista de Bad Boys na liga de futebol americano é tão extensa que houve quem criasse uma base de dados só para compilar as detenções de jogadores que chegaram ao profissionalismo. O rol de acusações é tão grande que o U-T San Diego, diário desta cidade da Califórnia, teve de limitar-se no tempo: começaram em 2000 e até agora e encontraram quase 700 detenções.

O caso de Hernandez sobressai, até porque abalou um dos franchises mais reconhecidos da NFL. Os New England têm presença regular na postseason e, para além disso, têm um dos meninos-bonitos da América. Tom Brady é tudo aquilo que Aaron Hernandez não é fora de campo. Um jogador com uma vida privada correta, glamorousa até, fruto do casamento com Giselle Büdchen, modelo brasileira.



A imagem dos NE Patriots saiu afetada com o caso de Aaron Hernandez

Por isso, quando Hernandez foi formalmente acusado, os Patriots só tiveram uma opção: rasgar contrato. Ainda assim, a situação levantou dúvidas sobre o trabalho de recrutamento que estava a ser feito pela equipa. Estariam a investigar bem o passado de quem escolhiam no draft? Onde falharam com Hernandez? O que fazer para evitar nova situação?

Aaron Hernandez foi escolhido no draft de 2010. Assinou um contrato de cinco anos no valor de 40 milhões de dólares. Era uma das estrelas da equipa, para além de Tom Brady e Rob Gronkowski, este também com passado de mau comportamento. O treinador Bill Belichik respondeu àquelas interrogações: afirmou que os Pats já tinham um protocolo que seguiam, mas que provavelmente teria de ser reavaliado.

«Observamos sempre caso a caso, porque quaisquer que sejam as circunstâncias, tem de se tomar uma decisão com base em aspetos individuais e, com o Aaron, achámos que fizemos o que devia ser feito em benefício da equipa», disse Belichik, aqui citado pela CBS.



Ray Lewis: campeão em 2013 com os Baltimore Ravens foi acusado de duplo homicídio em 2000 depois de ele e mais dois colegas se terem envolvido numa briga na noite do Superbowl. Chegou a acordo com o ministério público que retirou a acusação de homicídio em troca de uma declaração de culpado por obstrução à Justiça e testemunho contra os outros dois acusados

O problema não é exclusivo de New England. Todas as equipas, repita-se todas as 32, já tiveram jogadores detidos. Seja por atentado ao pudor, seja por condução com álcool ou drogas, seja por homicídio.

Na NFL há de tudo. E ninguém escapa: por exemplo, os Houston Texans só entraram na liga em 2002, mas já têm nove detenções no currículo. Longe ainda das 44 dos Minnesota Vikings ou das 41 dos Cincinatti Bengals.

O maior problema da NFL reside, precisamente, quando não há futebol. Ou seja, é nestes meses entre o Superbowl e o início da pré-temporada que um maior número de situações acontecem: em 2013 houve 31 detenções nesse período. 

Com o draft a aproximar-se, o foco vira-se para os jogadores saídos do futebol universitário. E, ao que parece, as equipas estão a melhorar o vetting process: a investigação que fazem ao passado do jogador, que inclui entrevistas a pessoas que lidaram com o atleta, mas também a consulta de dados em tribunais e prisões e que pode levar ao veto de uma contratação.

Antigo técnico nos Indianapolis Colts, Tony Dungy explicou à Associated Press a importância do trabalho de casa que as equipas fazem antes de escolherem alguém.

«Tudo depende do modo como se lida com a informação que se obtém e o que a equipa considera ser importante. Tem de se ter muito em conta que a maior parte das coisas negativas que os possíveis escolhidos no draft fizeram aconteceu quando tinham 15, 17 ou 19 anos. Tem de se perceber se eles ultrapassaram esses problemas, se há um padrão, ou se essas questões estarão sempre presentes.»

Talvez seja mesmo pela natureza violenta da modalidade . O.J. Simpson já era um jogador reformado quando foi detido e acusado da morte da ex-mulher, em 1994. Já Michael Vick era uma estrela antes de entrar na NFL e continuou a sê-lo depois de ter sido o primeiro quarterback afro-americano a ser escolha número um do draft.

O depoimento de Michael Vick no 60 Minutes



No meio de detenções e sentenças pesadas, a história de Michael Vick também prova que há quem aprenda a lição. Em 2007, Vick estava nos Atlanta Falcons quando foi acusado de um crime federal: participar em lutas de cães.

O quarterback perdeu o contrato milionário que o ligava à equipa da Geórgia, no valor de 130 milhões de dólares, e cumpriu quase dois anos de prisão [21 meses na cadeia, mais dois em domiciliária].

Declarou falência a meio da pena, mas em 2009 voltou à NFL, contratado pelos Philadelphia Eagles, os quais levou até aos playoffs. Agora, assinou pelos NY Jets. 

A maior parte dos casos não são tão violentos. Mas o de John Boyett, antes nos Indianápolis Colts e agora nos Denver Broncos, talvez elucide sobre o pensamento reinante entre os mal comportados.

No ano de rookie, Boyett foi preso por embriaguez pública e outras acusações menores. De acordo com a CBS, o relatório policial indicava que Boyett ficou zangado por não ter sido autorizado a entrar num bar, devido ao estado alcoólico em que se encontrava. Quando a polícia chegou, Boyett fugiu.

Foi apanhado pelas autoridades e justificou-se: «Vocês não me podem prender, eu sou um jogador dos Colts.»