Não é por acaso que se diz que há um português em cada canto do mundo, sendo que o futebol tem dado um importante contributo para reforçar esse lema. É cada vez maior o número de jogadores lusos que vai jogar para o estrangeiro, e não apenas com destino às principais ligas europeias. Nimês Pina, avançado português de 25 anos, joga na Moldávia há duas épocas! Formado no Estoril, teve passagens no futebol sénior pelo Cartaxo e pelo Castrense, antes de rumar ao FC Dacia, clube da capital moldava.
«Aceitei o convite, acima de tudo, pela perspectiva de jogar numa primeira divisão. Joguei sempre na terceira divisão portuguesa. Decidi arriscar», contou o jogador ao Maisfutebol. «O dinheiro não é nada de especial e as condições também não. Há três equipas com estruturas equivalentes à Liga de honra portuguesa. O resto é do nível da 2ª Divisão», explicou.
Algumas lesões têm impedido que Nimês jogue com a regularidade, mas a vida atribulada deste avançado vai muito para além desse aspecto. «Um mês depois de ter chegado aqui ainda não falava com ninguém. Puseram-me num hotel mau. Não tinha computador. Só tinha um discman e avariou-se. As pessoas são muito frias e têm dificuldade em aceitar os negros. Por vezes conheço pessoas que me falam bem num dia e que depois, na rua, já têm reservas em falar comigo», explicou o português.
Os problemas com o racismo não se limitam apenas à vida fora dos relvados. Dentro do próprio clube, o FC Dacia, já se verificaram incidentes. «Já andei duas vezes à porrada com colegas. Foi na Turquia, durante um estágio. Eles não gostam muito dos estrangeiros. Nem mesmo dos romenos ou dos búlgaros», relatou. «Aqui não se vêem negros na rua. O FC Sheriff (crónico campeão) tem cinco ou seis. E há alguns estudantes do Sudão e da Etiópia. Só isso», acrescentou.
Momento alto da carreira «apadrinhado» por Bruno Paixão
Apesar das dificuldades que tem sentido na Moldávia, Nimês Pina faz um balanço positivo da experiência. Na voz do jogador português nota-se uma emoção diferente, quando se fala da página mais importante da carreira: a terceira eliminatória da Taça Intertoto, com o Hamburgo, no verão de 2007. Um momento «apadrinhado» por outro português.
«Na primeira-mão, na Moldávia, o árbitro foi o Bruno Paixão. Ficou admirado e perguntou-me o que eu fazia ali. Eu disse que tinha sido enganado (risos)», relatou o avançado.
Em Chisinau houve igualdade a uma bola e Nimês jogou 50 minutos. No segundo jogo, o português voltou a jogar, mas desta feita a equipa alemã goleou (4-0), embora ao intervalo se registasse um nulo. «Fomos lá fazer turismo, mas aguentamos o nulo durante muito tempo. O treinador deles fartou-se de berrar. Ele estava a ver que nós aguentávamos o empate», disse o jogador luso, que esteve em campo nos últimos trinta minutos.
«Antes de entrar pensei para mim mesmo que não tinha nada a perder, que tinha de me divertir. Assim que entrei levei uma porrada do Kompany e percebi que não ia ser assim tão divertido. Eles eram muito fortes. Tinha chovido antes e a bola batia na relva e fugia. O Van der Vaart e companhia dominavam a bola com classe. A nós batia na canela e fugia», explicou Pina, entre muitos sorrisos.
A boa disposição diminui quando se fala do presente e do futuro. O campeonato moldavo já acabou e o FC Dacia ficou na segunda posição (atrás do Sheriff), o que dá acesso às fases preliminares da Taça UEFA. Nimês Pina tem contrato até Agosto mas queria rescindir antes de arrancar para férias em Portugal. «O presidente diz que não me paga tudo e então eu digo que, se assim for, eu fico até ao final do contrato», explica.
O jogador espera resolver o assunto nos próximos dias, embora não tenha nenhuma perspectiva para a próxima época. «Em Portugal ninguém me conhece», lamenta, antes de satisfazer o pedido do Maisfutebol para se descrever: «Sou um ponta de lança rápido e agressivo, que sobe bem. Mais não digo, que não quero enganar ninguém (risos)»