O diretor-geral executivo das Ligas Europeias de Futebol Profissional (EPFL), Emanuel Medeiros, considera que a proibição da propriedade dos direitos desportivos por terceiros (fundos e investidores particulares), em estudo na FIFA, «provocará um terramoto» em alguns campeonatos.
Em entrevista à Agência Lusa, o português que dirige a estratégia conjunta de 30 ligas do continente europeu alertou para as consequências de criar regulamentos que proíbam a propriedade por parte de terceiros dos passes dos jogadores.
«Essas práticas [fundos de investimento e investidores particulares] estão há muito enraizadas, alastradas no mundo do futebol, e, de resto, a regulamentação da FIFA não as proíbe. Apenas impõe que não haja influência de terceiros nas transações e contratos».
«Se começarmos por regular estes aspetos, reforçando transparência e supervisão financeira, podemos dar um passo em frente. E os adeptos da proibição perderão força e fundamentos para introduzir uma medida que, se não for ponderada e discutida com clubes, jogadores e agentes, pode causar um terramoto em algumas ligas na Europa», concluiu.
A questão das apostas
O responsável considera que a questão das apostas desportivas online em Portugal, importante fonte de receita do futebol profissional, está à mercê de «uma certa inércia». «Podia perspetivar a resolução de alguns problemas, como se fez em França, com sucesso e com o apoio da EPFL, mas noutros países nota-se algum atavismo, uma certa inércia, o que nos deixa preocupados. E não escondo que o caso português é um destes casos», afirmou.
O facto de ser proibida, em Portugal, a operação das empresas de apostas online levanta várias questões, segundo Emanuel Medeiros, para quem «houve tempo mais do que suficiente para perceber quais são os estrangulamentos, quais são as ameaças que a EPFL denunciou, em devido tempo, de forma a pôr em prática uma reforma jurídica e um enquadramento legislativo que viesse a dar resposta a alguns princípios fundamentais».
O combate ao jogo clandestino e às apostas ilegais, assim como o reconhecimento dos direitos e conteúdos gerados pelas ligas e federações, para acautelar a integridade das competições e o desenvolvimento desportivo, são matérias relevantes e enquadráveis na questão das apostas online, segundo o diretor da EPFL, que refere: «A principal fonte de receitas, hoje em dia, deriva dos conteúdos gerados pelos organizadores das competições».
Para o responsável, a situação é clara: «Se esses conteúdos continuam a ser canibalizados, se um conjunto de entidades continua a saciar-se, sem consentimento e sem qualquer contrapartida financeira por esses direitos, para os comercializar e fazer fortunas, então aí estão a fazer perigar a sustentabilidade financeira [da indústria do futebol] e a viabilidade económica de todo o desporto».
«Continuamos a apelar ao Estado [português], não por um qualquer tratamento de favor ou regime de exceção, mas para que assuma a sua responsabilidade política e constitucional, e legisle no sentido de pôr cobro a esta forma de pirataria», afirmou.
«Com a internet, qualquer pessoa pode jogar. Isso deve-se a um vazio legal que ainda persiste, nomeadamente com a utilização dos smart phones, que são mais uma área sem regulação, pois não se sabe quem aposta nem que idade tem. É um limbo porque há um vazio legal».