O Benfica tem proibido o acesso de jornalistas da Agência Lusa aos jogos oficiais disputados no Estádio da Luz.
O problema não é meu. Por isso acho que estou em boa posição para o comentar.
E comentar um tema destes é simples. O comportamento do Benfica é vergonhoso, não passa de uma cópia reles de atitudes idênticas de outros clubes, antecipa o que será o futuro em outros estádios e, finalmente, é indigno da história democrática do Benfica.
Dito isto, vale a pena analisar o ponto de partida para o texto.
A Lusa escreveu a 14 de Novembro uma notícia sobre os salários dos administradores da SAD benfiquista (pode lê-la no link relacionado). A Agência resolveu titular «Futebol: Benfica - Administradores da SAD receberam 180.000 euros de prémio apesar do quarto lugar na Liga».
O Benfica contesta o título por entender que os prémios não estão indexados ao comportamento desportivo, como em outros clubes, mas sim ao rendimento financeiro. Depois parte daqui para uma posição de força e para acusações que recuso repetir. Quem quiser que as procure, estão online.
Saber quem tem razão na questão específica do título e do texto também não me motiva. O que eu achar sobre o tema em nada alterará o estado da coisa.
Interessante, do meu ponto de vista, é discutir o essencial: será legítimo que os administradores de uma sociedade desportiva tenham prémios indexados ao rendimento e não aos resultados desportivos? E esta pergunta nada tem a ver com o Benfica, é uma reflexão teórica (quer dizer, se quiserem proibir-me de entrar na Luz estejam à vontade).
1. Acho que este tipo de prémios são legítimos, sim. Uma SAD deve gerar lucro e é justo que os administradores recebam uma parte do valor que ajudaram a criar, de acordo com o estabelecido entre a administração e os accionistas.
2. A dúvida pode começar a instalar-se quando esticamos este raciocínio a jogadores e treinadores. Como altos quadros da sociedade, o seu trabalho é essencial para atingir resultados financeiros positivos. Ou seja, se houver lucros também devem receber prémios.
3. Na prática, isto significa que se uma sociedade (vamos dizer que um dos grandes) for quinta na classificação mas acabar o ano com lucros, isto deve originar um prémio para administradores, treinadores e jogadores.
4. Pessoalmente, não vejo nisto grande problema. Se uma sociedade desportiva não tiver saúde financeira dificilmente estará em condições para alcançar resultados desportivos, o seu fim último.
5. Pergunta: mas fará isto sentido para os adeptos? Para eles os objectivos desportivos são sempre mais importantes do que as contas e parecerá excessivo que alguém receba prémio depois de falhar de forma tão óbvia o que se propõe fazer no início da época.
Como se sabe, hoje em dia adeptos e accionistas só coincidem numa parte pouco significativa. O que, em meu entender, deve levar as sociedades a encarar com cuidado a política de prémios a administradores, treinadores e jogadores. Para que possa fazer sentido aos olhos de quem ama o clube. Com lucro ou prejuízo, sol ou chuva.
Voltando ao início, só para ter a certeza que fica clara a minha posição sobre a coisa: ao discriminar jornalistas a SAD do Benfica está a impedir o livre acesso à informação. Ao fazê-lo imita o comportamento de outros clubes e prejudica gravemente a imagem democrática construída ao longo de décadas. Acresce que ao fazê-lo está a impedir a Lusa de cumprir a prestação de serviços a dezenas de órgãos de informação.
Resumindo ainda mais: o comportamento do Benfica é ridículo.