Se ao pensar em mestres de xadrez a imagem que lhe vem à cabeça é de uns tipos pálidos, tendencialmente de óculos grossos, ar vagamente ausente e pouca vida social, pense outra vez. O novo campeão do mundo é um rapaz alto, musculado, que aparece em produções de moda e naquelas listas das revistas femininas que elegem os mais sexy do ano. Chama-se Magnus Carlsen, tem 22 anos e é um sonho tornado realidade para a promoção do xadrez.

Carlsen é muito mais que uma cara bonita. O que o miúdo norueguês conseguiu no Campeonato do Mundo a jogar em casa do indiano Viswanathan Anand, pentacampeão mundial, é história. Foi o primeiro jogador ocidental a chegar ao título mundial em 38 anos. O último tinha sido o mítico e excêntrico Bobby Fischer.

O combate com Anand pelo título mundial durou 20 dias e ficou decidido ao fim de 10 partidas em 12 possíveis. Magnus ganhou por 6,5 contra 3,5 do adversário. Um campeonato de xadrez a este nível é uma prova exigente, mental mas também fisicamente. Anand e Carlsen mantiveram-se ativos ao longo do campeonato, quando não estavam sentados um frente ao outro. O indiano levantou pesos no ginásio, o norueguês jogava futebol, basquete e voleibol.



Magnus é um menino-prodígio, escusado será dizer. Aprendeu a jogar xadrez aos cinco anos, quando o pai, Henrik, percebeu que o miúdo tinha uma memória fora do comum. Por essa altura, conta o «Telegraph», sabia dizer a área, população, bandeira e capital de todos os países do mundo. Mas, contou o pai ao «Guardian», só começou a focar-se de facto no jogo quando se sentiu desafiado pelas irmãs mais velhas e quis ganhar-lhes.



Aos 13 anos já era Grande Mestre internacional, aos 19 foi o número um do mundo mais jovem da história. Apesar de toda a sua capacidade intelectual, não foi um aluno brilhante. E não quis ir para a universidade tirar um curso. «Os meus pais queriam que fosse, mas a certa altura perdi interesse na educação formal e eles não se importaram. Não prestava muita atenção, por isso não era muito bom na escola. Nos meus últimos anos na escola aborrecia-me, não necessariamente porque fosse muito fácil, mas porque não me interessava», contou ao jornal inglês «Guardian».

Carlsen recusa ser visto como um génio. «Não, não sou. Sou apenas muito, muito bom naquilo quue faço. Tenho a felicidade de fazer algo de que gosto, mas não sou um génio.»

Treinou xadrez com um dos melhores, Garry Kasparov. Em abril deste ano, quando a revista Time elegeu Carlsen como uma das 100 personalidades mais influentes do mundo, Kasparov escreveu isto sobre ele. «Tive oportunidade de treinar o Carlsen em 2009, e o estilo intuitivo dele conserva a mística do xadrez, num tempo em que qualquer adepto com um computador acha que o jogo é fácil. Carlsen tem carisma, é independente e talentoso. Se conseguir reacender o fascínio do mundo pelo jogo real, estaremos em breve a viver a era Carlsen.»

Provavelmente, deu agora o passo que faltava. Com a vitória sobre Anand, Magnus Carlsen é oficialmente o melhor do mundo. Tornou-se o segundo campeão mais novo de sempre, a seguir precisamente a Garry Kasparov. Outra medida do seu génio: atingiu 2872 pontos no ranking Elo, um sistema que recorre a uma fórmula complexa para definir uma hierarquia, e o valor que atingiu é o mais alto alguma vez registado.



Faz tudo isto com estilo. Tem vários interesses além do xadrez (é fã de futebol e da Liga espanhola), e é um excelente veículo publicitário. Estima-se que ganhe mais de um milhão de euros por ano em patrocínios. Apareceu ao lado da atriz Liv Tyler na campanha publicitária de uma marca de roupa holandesa, foi eleito um dos mais sexy do mundo pela revista Cosmopolitan, é destaque na revista GQ. Um ícone pop. Mas que não é só uma cara bonita.